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ara alguns autores modernos, é distração religiosa fazer os Bem-aventurados colarem graus acadêmicos ou serem agraciados com outros títulos na eternidade, como se necessitassem de nossas honras. Uma coroa proclamando Nossa Senhora Rainha, um diploma fazendo Teresinha de Lisieux Doutora, um título para que Santo Tomás seja o “Doctor Angelicus”. Pode até ser perda de tempo, mas, se nos colocarmos no campo religioso em que isso acontece, veremos que tudo isso possui um forte sentido eclesial e ecumênico.

omás de Aquino afirma que Cristo é o primeiro e principal doutor da fé, ele possui a plenitude da graça magisterial, pois Ele ensina com autoridade tudo o que viu e ouviu do Pai. Contudo, o Doutor da Igreja é o Espírito Santo.

Nele está radicado todo o ensinamento teológico, doutrinal e moral. Ele fala pelas Escrituras, pela inteligência do crente, fala através dos Concílios, Assembléias, Conselhos cristãos e pessoas dotadas de carismas extraordinários. Se Cristo é o Mestre, o Espírito Santo dá à Igreja a graça da compreensão.

DEFENSORES DA FÉ ORTODOXA

Durante sua história, a Igreja levou mais de 300 anos para proclamar os primeiros doutores. Isso aconteceu por ocasião dos primeiros grandes Concílios Ecumênicosdos séculos IV (Nicéia e Constantinopla) e V (Éfeso e Calcedônia), assembléias que reuniram toda a Igreja – bispos, padres, monges e leigos – para apresentar, com a clareza humanamente possível, os dois mistérios centrais da fé cristã: a Trindade e a Encarnação.

A formulação de um dogma de fé não é a explicação da verdade, mas a delimitação de nossa interpretação, ou seja, até onde podemos ir. É a afirmação do mínimo necessário. Antes havia os grandes mestres da fé, como Inácio, Policarpo, Justino, Irineu, mas todos eles morreram mártires pelo Senhor. E não ficava bem dar a um mártir o título de doutor: na Igreja nada está acima do testemunho de quem dá a vida. Num processo de beatificação, até o milagre é dispensado.

DOUTORES NA ÉPOCA DOS GRANDES PAIS DA IGREJA

A partir de 313, com a Paz de Constantino e a liberdade conquistada, a Igreja teve condições melhores de refletir a fé e o mistério da fé. Foi entre os anos 300 a 460 que a Igreja proclamou 13 dos 33 doutores da fé. Esses mestres-teólogos se caracterizaram pela inspiração doutrinal, clareza teológica e santidade de vida, empenhando toda sua energia e capacidade no combate às heresias.

São Doutores num sentido especial e, para não haver ciúmes, uma tradição da Igreja proclama como doutores “maiores” quatro orientais (Basílio de Cesaréia, Gregório de Nazianzo, João Crisóstomo e Atanásio de Alexandria) e quatro ocidentais (Ambrósio de Milão, Agostinho de Hipona, Jerônimo e Gregório Magno).

A Igreja do Oriente não usa o título “doutor”, mas um termo equivalente, Ierárchoi (autoridades santas). Após a série dos sete grandes Concílios, não concederam a mais ninguém esse título. As Igrejas da Reforma, os protestantes, não tiveram interesse pelos Doutores da Igreja, pois têm como suficiente a Escritura lida sob a inspiração do Espírito. No início da Idade Média, “doutor”era um termo familiar para indicar os mestres que possuíam uma autoridade superior no campo da doutrina.

HOMENS E MULHERES DE FÉ

Na Antigüidade, foram os teólogos que ensinaram uma doutrina aceita por todos e em toda parte: ecumênicos. Eles foram corajosos defensores da fé e terríveis inimigos da heresia.

O Doutor também precisa ser santo: supõem-se nele não uma ciência acadêmica, mas uma ciência que leva à vivência da fé (Ora o que crê e crê o que ora!).

A Igreja teve e tem uma imensidão de grandes teólogos: por que tão poucos Doutores? Devem ter ensinado algo de novo a respeito da vida cristã, um novo caminho de espiritualidade. O título "Doutor" pretende anunciar aos cristãos que determinado homem/mulher, em sua busca de Deus, encontrou um novo Caminho de conhecimento e de vida a respeito do grande depósito da fé cristã.

Devem ter sido homens/mulheres de Igreja, preocupados com a vida interna da Igreja, com sua reforma em tempos de crise, como: Catarina de Siena, Pedro Damião, Bernardo de Claraval, entre outros.

SUA IMPORTANTE MISSÃO

Em sua escolha para o título, a Igreja olha muito a dimensão ecumênica e propõe o ensinamento e a vida de seus Doutores a todos os cristãos. Eles abrangem o Oriente e o Ocidente, bispos, religiosos e religiosos. Entre 265 papas, somente dois, Gregório Magno e Leão Magno, receberam o título.

Tomás de Aquino achava que o título não poderia ser dado a mulheres: mas temos três Doutoras! O título não está ligado ao magistério hierárquico, mas ao sacerdócio batismal.

O título é conferido pela autoridade (Papa ou Concílio), mas o carisma, o dom, vem do Espírito Santo. Simbólicas são as palavras de Paulo VI ao proclamar Teresa d’Ávila a primeira Doutora, em 1970:

“Nós conferimos, ou melhor, nós reconhecemos o título de Doutor da Igreja para Santa Teresa de Jesus”. Em outras palavras: os papas não fazem doutores, reconhecem os doutores. Caso o leitor queira conhecer a lista dos 33 Doutores da Igreja poderá acessar o seguinte endereço na internet: www.missaojovem.com.br/ forum.

CONCLUSÃO

“Se és teólogo, és santo; se és santo, és teólogo”, afirmam os orientais que mantém inseparável o trinômio liturgia-espiritualidade-teologia. Todo santo é mestre da vida evangélica e ser santo é o grande título “acadêmico” a ser desejado por todos os cristãos.

PARA REFLETIR

1. Você conhece os ensinamentos de algum doutor da Igreja? O que eles significam para a nossa caminhada pastoral?

2. Quais são as principais características para que a Igreja reconheça um doutor ou uma doutora?

3. Qual perfil deveriam ter os doutores da Igreja do Terceiro Milênio?


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