A figura do CRISTO nos 2000 anos de história da Igreja
Cristo Pantocrátor (Senhor do Universo) na técnica encáustica, século 5, Mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai, entre Israel e Egito. Em Jerusalém e arredores da Ásia Menor o Cristo já era pintado nessa técnica própria das múmias egípcias, com barba, olhos escuros e cabelos lisos, como era o homem da região nessa época e segundo grande tradição |
O Mistério da Encarnação de Jesus é uma revelação própria do Cristianismo.
O cristianismo não é a religião de um livro, mas da pessoa Jesus Cristo, Deus entre nós. Na religião hebraica, Deus é a Palavra, o Pentatêuco, o livro máximo é a Torá. Na religião islâmica, Deus deixa de ser carne e volta a ser a Palavra, e o livro de consultas é o Alcorão.
Portanto, desde sempre, desde o nascimento do menino Deus, filho da mulher Maria, os cristãos fazem a figura do Cristo não idolatricamente, mas como sinal da presença atuante de Deus em nossa história e cultura.
Ele é o primeiro participante e testemunha a respeito de si próprio nas comunidades cristãs. Ele preside toda a ação cristã. Ele é a cabeça e, juntamente com a comunidade de batizados que o celebra, forma o Corpo Místico.
Imagem de Cristo através dos tempos
Os singelos traços nas catacumbas, as grandes pinturas e mosaicos, pinturas na madeira ou em tecidos e mesmo em vitrais são sinais da presença de Deus em nossa pobre matéria humana. O mistério da encarnação, morte e ressurreição de Jesus não é apenas um fato histórico, mas o sentido pascal cristão. Indica-nos que toda a matéria foi resgatada pelo Senhor e a criação toda se recuperou e tomou seu sentido inicial de beleza, harmonia, bondade e verdade, como quando criada, no Gênesis. Toda a matéria louva a Deus, assim, a idolatria não faz parte da Igreja cristã.
Por esse motivo, os artistas devem ter muito cuidado ao criarem uma imagem do Senhor. É preciso muita fé, ascese e oração, além de uma grande vivência na comunidade cristã, lugar real da presença do Senhor entre nós. A arte cristã jamais deverá ser um dado isolado, imposição de grandes artistas e genialidades. A arte cristã entra na corrente da arte sacra, desde as catacumbas até hoje, e é uma expressão nova, não isolada, mas na linha de continuidade da história e cultura cristã. A arte sacra sempre tem como referência a Palavra celebrada na Eucaristia pela assembléia. Evitam-se devaneios pessoais, visões particulares ou sugestões ideológicas.
Na história da Arte, vemos a imagem do Cristo pas-sar por diferentes formas. Algumas, mais na linha de continuidade, e outras como reflexos do seu tempo e dos autores que as criaram. A figura do Cristo sofreu uma variedade imensa de versões, também por causa do anseio das pessoas e dos povos de conhecerem, na imagem humana, o Cristo do Evangelho. A verdade é que a figura humana do Cristo tem características mais divinas no primeiro milênio, tendo se tornado excessivamente humanas no segundo milênio, até a sua completa desfiguração e descaracterização.
Além disso, é preciso ver nas formas do Cristo a doutrina que na época se afirmava. Por exemplo, os Cristos majestosos do primeiro milênio correspondem aos dogmas da época em que os cristãos deveriam confirmar que o homem Jesus era o Senhor divino e não apenas o homem de Nazaré. EM ROMA, nos primeiros séculos, era comum fazer pinturas e esculturas nos sarcófagos cristãos representando Cristos jovens e sem barba. Não se estava interessado na figura real, mas na doutrina jovem e bela que se impunha ao mundo pagão greco-romano.
EM JERUSALÉM, já nos primeiros séculos, desejava-se seguir a pessoa do Cristo, tal como Ele tinha se encarnado e vivido, nascido de uma mulher, numa terra precisa. Orientavam-se, então, a partir de uma pintura, a encáustica, e temos o Cristo de Edessa, pintado no ano 28 de nossa era, quando o próprio Jesus vivia. A Igreja oriental, até hoje, permite que os artistas façam pinturas do Cristo seguindo os cânones do Cristo de Edessa (tez morena, olhos escuros e cabelos negros e lisos). Essa pintura do primeiro século, hoje, encontra-se na igreja de São Bartolomeu dos Armênios, em Gênova, Itália. Antes, esteve em Constantinopla, depois no monte Athos, até chegar a Gênova, 5 séculos atrás. Essa face é considerada aquerópita, isto é, não pintada por mãos humanas.
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