os primeiros séculos já houve um forte antijudaísmo por parte dos cristãos, devido sobretudo à autodefesa contra a "religião concorrente" e ao desejo de distinguir-se. Mas não era ainda o antisemitismo que se manifestaria nos séculos seguintes e, sobretudo, na Idade Média.
A HISTÓRIA ANTI-SEMITISMO
Foi a partir do século V que chegaram a ser emanadas leis que iriam dificultar cada vez mais a vida do povo judeu, como: o não acesso aos cargos públicos, o exílio e a recepção forçada do batismo. A grande tempestade começou a partir do século XI, com as Cruzadas: os cruzados que iam a Jerusalém para libertar o túmulo de Cristo das mãos dos “infiéis” acharam prático começar a agir já na Europa, assassinando os judeus que encontrassem pelo caminho. Houve bispos que interviram, em diversas cidades européias, para impedir esse tipo de ação, salvando os judeus de muitos massacres. Uma acusação freqüente foi a do “crime ritual”.
A partir do século XII começaram a circular notícias de que os judeus matavam crianças cristãs para usarem seu sangue na Páscoa. Naturalmente, tudo isso foi provado não ter fundamento. A própria peste negra de 1348 foi atribuída aos judeus e aos bruxos. Foi mais um pretexto para acusá-los de conspiração e de envenenamento dos poços.
O Papa Clemente VI interveio duas vezes para condenar esta violência, afirmando a inocência dos judeus, pois tanto eles como os cristãos morriam de peste. Expulsões, prisões e confisco dos bens, sob vários pretextos, ocorreram no século XV. O anti-semitismo continuou por muitos séculos. Em 1881 assistiu-se na Rússia aos terríveis pogroms (ataques violentos à comunidades judaicas).
As leis discriminatórias contra os judeus, como a obrigação de morarem em guetos, foram abolidas durante a Revolução Francesa (1789), mas vigoraram novamente durante a Restauração (1814), para caírem definitivamente, pelo menos em muitos Estados, durante o séc. XIX.
A (NÃO) REAÇÃO NA ALEMANHA
Apesar de representarem apenas 0,9% da população, após a primeira Guerra mundial (1914-1918) os judeus foram considerados os responsáveis por todas as desgraças da nação alemã. Entre 1923 e 1932, judeus foram mortos, feridos e maltratados. 128 cemitérios e 50 sinagogas foram profanados. Diante disso, em 1928, o Vaticano publicou um decreto condenando o antisemitismo, mas com pouca ressonância. As declarações dos bispos alemães, em particular as do Cardeal Faulhaber, homem corajoso na oposição ao regime nazista, provam essa indiferença.
O ANTI-SEMITISMO POLONÊS
Povo eminentemente católico, o polonês viu na perseguição aos judeus a realização da punição divina pelo crime do deicídio. Os historiadores assim sintetizam esta situação: uma minoria ativa ajudava os nazistas, uma maioria ficou indiferente ou impotente e uma minoria ativa ajudou a esconder os judeus, às vezes sob os protestos do pároco.
Um deles chegou a dizer na missa dominical:
- “entregar os judeus às autoridades era um dever sagrado”
Na Polônia, ficava o campo de concentração de Auschwitz, “o lugar mais notório de genocídio da história e a maior sepultura coletiva do mundo”. Antes da Grande Guerra de 1939-45, havia na Polônia 3,3 milhões de judeus espalhados em 2 mil cidades e povoados. No censo de 1945 restavam menos de 74 mil em apenas 224 localidades. O anti-semitismo impregnava a estrutura social de diversas nações cristãs. Desesseis séculos de pregação anti-semita não podiam deixar de produzir frutos.
JOÃO PAULO II E OS JUDEUS
João XXIII (1958-1963), impulsionou o diálogo com os judeus e a superação do anti-semitismo. Na Sexta-feira santa de 1959, fez desaparecer da liturgia o secular adjetivo “pérfidos judeus” e se rezou pelos “judeus”. No Concílio Ecumênico, em 28 de outubro de 1965, foi aprovada a Declaração Nostra Aetate que isenta os judeus, como povo, da culpa pela morte de Cristo e diz: “...sendo tão grande o patrimônio espiritual comum aos judeus e cristãos, este Sacro Concílio quer promover e recomendar o mútuo conhecimento e estima entre eles”.
João Paulo II (1978-2005), que vivenciou de perto os horrores do anti-semitismo, chegou a declarar: “... quero expressar meu horror pelo genocídio decretado, no decorrer daúltima guerra, contra o povo hebreu” (na Sinagoga de Roma em 1984); “Os dias da Shoah foram uma verdadeira noite da história. Ali se escreveram crimes inauditos contra Deus e contra o Homem” (lembrando em 18/4/1995, a insurreição do gueto de Varsóvia).
O Papa chegou a pedir perdão pela “nossa passividade diante das perseguições e do holocausto dos judeus” (7/12/1991), pela “insuficiência” da oposição da Igreja aos nazistas (em Berlim, junho de 96). Denunciou também “os preconceitos e as leituraspseudo-teológicas que serviram de pretexto ao longo ódio contra os irmãos judeus” (Angelus de 14/1/1996).
Na Celebração do Perdão (12/3/2000), fez vibrante alusão ao “povo de Israel”, “povo da Aliança e das bênçãos”, “que Deus escolheu para que seu nome seja levado aos outros povos”. Num primeiro tempo, o Papa referiu-se a eles como “nossos irmãos mais velhos”, mudando em seguida a terminologia para: “nossos irmãos prediletos”.
EM JERUSALÉM
Ficará gravada a visita de João Paulo II ao Yad Vashem, Museu do Holocausto em Jerusalém, no dia 23 de março de 2000. Este Monumento e Memorial recorda a dor de um povo que teve seis milhões de seus filhos trucidados nos campos de concentração (1933-1945). O Papa, durante a mesma viagem, visitou o Muro das Lamentações e ali orou silenciosamente. Seguindo um gesto secular da religiosidade judia, o Papa colocou entre as pedras um bilhete, onde estava escrito:
“Deus de nossos pais, vós escolhestes Abraão e a sua descendência para levarem o vosso Nome aos gentios: sentimo-nos profundamente consternados pelo comportamento de quantos, no decurso da história, fizeram sofrer estes vossos filhos e, pedindo-vos perdão, queremos empenhar-nos numa fraternidade autêntica com o povo da aliança. Por Cristo Senhor nosso. Amém”.
PARA REFLETIR
1. Você conhece o Judaísmo?
2. Qual a verdadeira razão das perseguições anti-semitas?
3. Quais foram as motivações que fizeram de João Paulo II o papa que mais defendeu os judeus?
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