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A FÉ nos gestos do povo
A FÉ nos gestos do povo

Ernesto Arosio

A fé é um valor sobrenatural, mas sua manifestação é tipicamente humana, o que permite até a inclusão de elementos folclóricos. Esses, quando expressam valores verdadeiros, revelam não só uma cultura, mas o legítimo diálogo de um povo com o sagrado

A procissão percorre lentamente as ruelas da pequena ilha de Prócida, no sul da Itália. Entre os participantes de todas as idades e classes sociais, destacam-se doze encapuzados, vestidos de túnicas brancas e capa azul. Cada um traz uma coroa de espinhos na cabeça e carrega uma enorme cruz negra. Trombetas e tambores acompanham o percurso, destacando os vários "mistérios", representações plásticas que reproduzem em tamanho natural diferentes episódios do Antigo e do Novo Testamento, especialmente da vida de Jesus. Fechando solenemente a procissão vão as estátuas de Nossa Senhora das Dores, do Cristo morto e muitas ovelhas e peixes, produtos da ilha, mas também importantes símbolos do cristianismo.
Pelas ruas estreitas, a passagem da longa e colorida procissão é como o desenrolar de um drama que traz à tona sentimentos profundos dos participantes e espectadores: os medos, a angústia diante das incertezas da vida misturam-se a uma sensação de consolo e de esperança que pode favorecer uma oração renovada. Quando tudo termina, é nítida a alegria entre ilhéus e turistas. A beleza do gesto secular tocou o espírito do homem moderno.
O processo assemelha-se à catarse experimentada pelos gregos, quando assistiam à representação de uma tragédia. Quando termina a procissão, os fiéis já se preparam para a do próximo ano: cultura, tradição e fé dialogam harmoniosamente.

Folclore ou religiosidade

Manifestações como essa têm sua origem nos primeiros séculos da Igreja e substituíram rituais pagãos. Embora diferentes em suas representações, dependendo das culturas em que se desenvolveram e das influências recebidas, podemos encontrá-las em todos os países cristãos: as festas populares brasileiras, como as procissões de Minas Gerais, as festas do Divino, a Folia de Reis, entre outras, são genuínas liturgias populares e não mero folclore, como se rotula numa visão muito superficial.
São profundamente significativas para o povo as dramatizações da Via Sacra, como as famosas representações no Nordeste do Brasil, na Espanha e em Portugal, as pequenas capelas espalhadas pelos morros, as romarias a santuários mais ou menos famosos, os "penitentes" que carregam enormes cruzes, como aqueles que vão ao santuário do Senhor dos Passos de Pirapora (SP) em "pagamento" de votos ou graças recebidas. Até mesmo os autoflagelantes do Nordeste e as crucificações nas Filipinas, evitando naturalmente os exageros, são liturgias dramatizadas que foram sendo construídas ao longo dos séculos, no interior das culturas.
O cristianismo não detém o privilégio dessas manifestações, assim, são "litúrgicas" as danças dos índios e das tribos africanas, as peregrinações dos hindus, a prostração dos muçulmanos, as purificações rituais da Índia, e tantas outras transmitidas de geração em geração.
O fato de que tradições estejam desaparecendo sob o impacto da modernidade é uma grande perda não somente cultural, mas também religiosa porque com elas desaparece a fortíssima emoção religiosa popular diante do simbólico. Certamente, isso contribui para que as pessoas procurem outras expressões para substituí-las. Os antropólogos podem discutir sobre o papel da racionalidade ou sobre a carga emotiva contida nesses gestos, mas para quem deles participa, trata-se de uma genuína demonstração de fé.

Liturgia como drama

A dramatização religiosa é natural em todos os povos e portanto foi para os cristãos também: desses atos a Igreja construiu sua liturgia cristã, com seus gestos e símbolos. O uso do incenso e a genuflexão, por exemplo, foram tomados da veneração dos súditos em relação aos imperadores de Roma e Bizâncio. A forma basilical das igrejas primitivas foi adaptada dos lugares de reunião pública gregos e romanos.
A Igreja, desde os primeiros séculos, entendeu o grande valor catequético dessas liturgias populares e incentivou-as, tanto que, diante de quase todas as igrejas construídas nos séculos passados, era reservado um espaço elevado, tal como um palco, onde se desenrolavam atos religiosos e dramatizações de textos sacros. Durante muito tempo, a catequese dos fiéis, geralmente analfabetos, era feita através de encenações e vitrais que contavam as passagem mais importante da Bíblia.
Se, de um lado, a dramatização pode enfatizar a emotividade, de outro, apresenta um conteúdo dogmático ou catequético, de maneira mais intuitiva e simples; poderíamos até dizer que, através da emotividade, grava-se na consciência o fundamento catequético da fé.

O grande perdão na Bretanha (França)

A cada seis anos, no segundo domingo de julho, na região da Bretanha, acontece uma série de cerimônias que, iniciadas na metade do mês de junho, terminam, no segundo domingo de julho, com uma procissão de 12 quilômetros, que pára diante de doze cruzes de granito e 43 cabanas que protegem estátuas de 43 eremitas que ali viveram. Há também um sem número de capelas de ramos e flores entrelaçados que protegem outros tantos santos.
Essa procissão é a Grande Troménie (grande perdão). O trajeto é acompanhado por milhares de fiéis de toda a região que ali se encontram, a cada seis anos, para carregar os santos de sua devoção, porque um bom católico bretão deve participar, pelo menos uma vez na vida, dessa grande procissão. Durante os outros cinco anos, a procissão se limita a quatro quilômetros e é chamada de Petite Troménie (pequeno perdão).
A tradição, pesquisada pelos historiadores, existe desde o século VI, quando foi enviado para lá o monge Ronan. Ele teve que se impor aos sacerdotes druidas que praticavam uma religião ligada às divindades dos bosques e aos animais. Esses mesmos sacerdotes realizavam, de tempos em tempos, uma procissão através dos bosques, para participar da força da natureza.
Ronan evangelizou a região com sua perseverança e santidade e, após a conversão do povo, transformou os lugares, as festas e os rituais druidas em cerimônias cristãs, como é o caso da Troménie.
A tradição popular acredita que quem não fizer, pelo menos uma vez na vida, o percurso da Grande Tromérie, deverá percorrê-lo após sua morte, antes de entrar no paraíso, mas poderá andar somente, a cada dia, o espaço correspondente ao cumprimento de seu túmulo.

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