Domus Ecclesiae - A casa da Igreja
por Cláudio Pastro
A última e solene ceia pascal do Senhor com seus discípulos determinou-nos o novo mandamento e o memorial a ser sempre celebrado em seu nome, numa sala bem preparada para esse fim. O primeiro espaço cristão para celebrações foi a própria casa dos fiéis (Ecclesia Domestica). Depois, a partir do século 2, com o aumento do número dos cristãos e com o desenvolvimento da liturgia, foram criados espaços específicos, isto é, a DOMUS ECCLESIAE ou a CASA DA IGREJA.
A casa da Igreja foi um espaço organizado de acordo com o Mistério aí celebrado. Um espaço para os catecúmenos, outro para a acolhida (o atrium), outro ainda para o batistério, outro para o ágape ou Eucaristia, e assim por diante. Esse espaço, por si só, era formativo e educativo e permitia fluir com naturalidade a celebração do Mistério vivo do Cristo, invisível, mas presente. Séculos se passaram até hoje, muitas mudanças aconteceram na história da Igreja e, conseqüentemente, na maneira de ocupar o espaço e de celebrar o memorial do Senhor (a Missa ou Eucaristia).
O "Movimento Litúrgico" e o Concílio Vaticano II perceberam que a forma das casas da Igreja (primeiros séculos) vinha ao encontro da celebração cristã, ao redor de um único altar, Cristo, e de sua Palavra. Toda a assembléia revelaria ser o Corpo do Cristo, assim como sua Esposa Amada. Lugar de núpcias. Com esse pensamento, os arquitetos e construtores da igreja da Rede Vida de Televisão conceberam o projeto do Santuário da Vida, a fim de torná-lo um referencial de espaço celebrativo e litúrgico atual para todo o Brasil. Para melhor conhecer o que foi uma Domus Ecclesiae, e assim fundamentar a nova ocupação do espaço celebrativo, façamos uma análise do Santuário da Vida, na cidade de São José do Rio Preto, em São Paulo.
As formas atuais
do espaço cristão
O século 20, por meio do Concílio Ecumênico Vaticano II e das novas descobertas bíblicas e litúrgicas, assim como de novas técnicas de construção, criou novos espaços ao sopro do Espírito e da Sagrada Tradição. Muitas foram as novas formas da casa da Igreja projetadas e construídas para receber a assembléia cristã, corpo Místico do Cristo.
As formas das novas igrejas adaptaram antigos espaços ou criaram novas formas com o presbitério (ou santuário) mais centralizado, dando ênfase ao altar, ambão e sédia, lugares do verdadeiro presidente da assembléia e primeiro participante, o Senhor Jesus. As cadeiras ou bancos que os circundam mostram a participação de todos na celebração.
Exterior e interior da igreja dedicada à Virgem de Guadalupe em Tepeyal, na periferia da Cidade do México - México, 1980. A ênfase é dada ao adro, lugar para acolhida, para conversas, troca de experiência, congratulações, festas, etc. O interior ressalta bem o lugar como sendo o da celebração do Mistério Pascal por toda a assembléia |
Capela da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Os bancos envolvem o presbitério; a Capela do Santíssimo, para oração pessoal, fica atrás |
Interior da Igreja da Santa Cruz em Bad Cannstatt - Alemanha. Destaca-se a funcionalidade do grande presbitério e a beleza dos vitrais abstratos |
Interior de uma Igreja construída em 1958 e atualizada em 2000 para privilegiar a liturgia |
A beleza não é luxo. A beleza é o esplendor da verdade. A beleza é harmonia, unidade e paz, pois é um dos atributos de Deus. O feio, o horrível, o desleixo e a poluição são sinais de descaso, evidência de que as prioridades são outras que Deus em si. Jamais a pobreza será sinônimo de feio.
A beleza é sinal de que acolhemos os bens da Criação e do Criador e de que Jesus Cristo veio renovar a criação perdida, o mundo que ainda vive no caos. É por isso que os espaços cristãos sempre nos revelaram ser pequenos universos, microcosmos de beleza e paz, ao longo da história da humanidade.
Se fazemos bom uso dos materiais como se fossem todos "vasos sagrados do altar" e se utilizarmos o mínimo necessário à liturgia e ao rito, certamente, permitiremos que a glória do Senhor se manifeste e atue no espaço que é dele e comum a todos os irmãos.
FORMAS DIVINAS OU DIABÓLICAS
As formas e materiais rezam ou mascaram o nosso Deus. Enchemos o espaço de "fetiches" e o silenciamos. Os espaços, ditos cristãos, muitas vezes são repletos de "santinhos e santões", slogans, faixas com frases (até bíblicas), parafernálias (com músicas excessivas e volume alto, danças e cantos) tornando-se um espaço diabólico, pesado e opressivo para o homem cansado dessa vida, onde o exterior já o oprime e é caótico.
O homem de hoje está sedento do único Deus vivo. O espaço existe para revelar o belo corpo do Ressuscitado, presente na assembléia cristã e em cada um de nós. Do contrário, o único centro verdadeiro (Jesus Cristo) e a razão desse espaço se perdem.
LÁ ONDE O CÉU E A TERRA SE TOCAM
Uma visão antiga e sempre nova sobre a construção de igrejas
IMAGEM DO CÉU
Os espaços de celebração cristã devem fazer-se notar como um espaço de troca entre o céu e a terra. Por céu entende-se a liturgia e o rito com seus sacramentos, as cores, as formas, os sons, as imagens inerentes ao ser espiritual que bebe nas fontes da Igreja e do Evangelho, e não simplesmente, em formas mundanas. Por terra entende-se o próprio homem com sua cultura, alegrias, tristezas e anseios. Do padre, do arquiteto, do artista se exige mais uma ascese do que novidades e modismos.
ESPAÇO SAGRADO
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O espaço humano onde atua o Divino é o lugar da Presença do Outro, do incriado, daquele que é. Ele atua em cada um e na comunidade orante. É sobretudo lugar de silêncio e despojamento para o Mistério se manifestar.
Não é espaço para devoções pessoais (reza de terço e novenas de santos); via sacra; expressões televisivas ou outras que se pareçam; lugar de espetáculos, shows;
lugar de reuniões de sindicatos ou outras; lugar para discursos ou ensinamentos racionais; lugar de moralismos; lugar para expressões debochadas e nem mesmo temporais.
Nas imagens, Pavilhão Christus na Expo 2000 em Hannover - Alemanha. Igreja ecumênica com as técnicas atuais e concepção antiga de claustro e batistério (dentro da colunata). Novamente a igreja cristã volta-se para dentro, para própria comunidade, pois o mundo tende a descritianizar-se. A palavra ecumenismo não se refere a outras religiões não cristãs, mas à unidade entre as várias denominações cristãs


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