A Arte nos 2000 anos de história da Igreja
por Cláudio Pastro
AS PARTES QUE COMPÕEM O SANTUÁRIO-PRESBITÉRIO
santuário é o centro do edifício com o mínimo de elementos: só os essenciais, que permitem a boa fluência da liturgia. Nesse o lugar o celebrante é o próprio Senhor e nada deve ofuscar a sua presença, sua glória e beleza reveladas em nós, gestos e maneiras de ser, seus sons, cores e odores. Os gestos e paramentos do celebrante, assim como os dos leitores e ministros, devem ter a dignidade do espaço sagrado e todos devem estar cientes daquilo que fazem e para quem estão fazendo, em nome de quem estão celebrando e em presença de quem. Não é o lugar de imagens de padroeiros, nem de Nossa Senhora e, menos ainda, de cartazes, mas só do Cristo que aí governa e atrai nossas atenções. Basta uma Cruz Processional ou e uma pintura do Cristo Senhor.
Presbitério da igreja abacial do Mosteiro Nossa Sra. da Paz Itapecerica da Serra/SP - 2002 |
AS VÁRIAS FORMAS DO LUGAR DE CULTO CRISTÃO
O edifício cristão passou por várias formas, estilos e maneiras de ocupar os espaços, segundo as culturas, regiões e épocas.
O espaço-igreja passou por quatro etapas bem definidas nesses 2000 anos:
- As catacumbas - nos primeiros anos
- A "ecclesia domestica" - nos séculos 1 e 2
- A "domus ecclesiae" - nos séculos 2 e 3
- A basílica - a partir do século 4 até hoje
Exterior da Basílica de Santo Ângelo, em estilo românico, em Formis - Itália - séc. 11 | Catacumba de Priscila, capela grega, séc. 3 - Roma |
AS CATACUMBAS: espaços em cemitérios subterrâneos romanos, usados não só devido às perseguições aos cristãos, mas também, pela expectativa da segunda volta do Senhor.
Conforme o costume das religiões da época, tinha também seu aspecto fúnebre e sacrifical.
A ECCLESIA DOMESTICA: era a casa em estilo romano ou sinagogal, de famílias recém convertidas (em geral abastadas e nobres), cedida para o culto dominical e orações.
Sala do Batistério, Domus Ecclesiae (a casa da Igreja), século 3. Uma das poucas mantidas, quase intacta: Casa de Dura Europos, junto ao rio Eufrates, no atual Iraque |
A DOMUS ECCLESIAE OU CASA DA IGREJA: era construída apropriadamente para o neocatecumenato, batizado, culto eucarístico e desenvolveu-se a partir do século 3, visto o número crescente de convertidos.
Basílica de São Simeão em QAL'AT SEM'AN, na Síria - séc. 5 |
A BASÍLICA OU EDIFÍCIO REAL (da realeza): foram os edifícios do império oferecidos, em princípio, pelo imperador Constantino para as grandes concentrações cristãs. Alguns permaneceram iguais e outros foram transformados na forma de cruz latina ou cruz cósmica, para receberem o Corpo Místico do Cristo.
Basílica românica da Abadia de S. Bento, no Loire, França - séc.11 | Igreja bizantina no mar mediterrâneo, numa ilha grega - séc. 8 |
Assim, surgiram belas construções nos principais lugares de peregrinação, como memorial do Senhor e de Sua Esposa, a Igreja, em Jerusalém, na Grécia, no norte da África e na península romana e em Istambul. Essa etapa basilical perdura até hoje, passando por diferentes estilos:
Estilo bizantino: foi e é uma extensão das primeiras basílicas, desenvolvendo a arte dos ícones.
Estilo românico: do século 8 até o século 13. Estilo concebido mais pelos mosteiros e abadias durante a unificação européia cristã. Encontramo-lo em Portugal, Espanha, do Mediterrâneo até a Escandinávia, e da Inglaterra aos Montes Urais. Tem a forma de fortaleza ou navios. É a época da formação do rito romano e do canto gregoriano, em que pinturas e esculturas constituíam a Bíblia dos Iletrados.
Catedral gótica de Nsa. Sra. de Reims, França, século 13 |
Estilo gótico: do século 8 ao século 15. Desenvolveu-se mais nos países da Europa do Norte e o nome vem das florestas misteriosas, porque obscuras, de gotos (pinheiros).
Ampliou-se o espaço e a altura com muitas torres em forma de agulhas e vitrais com cenas dos Evangelhos ou história de santos.
Estilo clássico renascentista: do século 15 ao 17. Época de grandes mudanças na Igreja e na sociedade, refletindo um humanismo naturalista, pompa e mística, tendo o homem como centro de tudo (antropocentrismo).
Os edifícios eram construídos lembrando os gregos e romanos, com grandes frescos nas paredes e tetos, como nos palácios. O realismo assimila costumes e paisagens da época em cenas "com motivos bíblicos". Eram os grandes mecenas que financiavam as obras (reis, príncipes, duques, cardeais) mais com a finalidade de abrigarem seus túmulos.
Estilo clássico, Basílica de São Pedro no Vaticano, Roma - séc. 16 | Estilo clássico, a Igreja do Redentor, Veneza, Itália - séc. 16 |
Estilo barroco: do século 12 ao 19. É a arte da reforma protestante (mais na música) e da contra-reforma católica. Os edifícios basilicais se assemelham mais a salotes palacianos e os altares, com grandes entalhes dourados, encenam mais os dramas da paixão do Cristo e de seus santos. É também uma arte de pompa e lirismo.
Estilos neos: século 19 e primeira parte do século 20. Copia os grandes momentos saudosistas do passado, por ser um momento de perseguição à Igreja, e amorfo, por falta de vitalidade própria. São os neo-góticos, neoclássicos, neo-barroco, neobizantino.
Estilos contemporâneos: em vista das propostas do Concílio Vaticano II, são arrojados, sóbrios, austeros e com uma seriedade de volta às fontes cristãs. Infelizmente, surgem, também, aberrações com excessivo uso do concreto, muita luz e vegetação, refletindo uma época panteísta. Muitas vezes, o descaso ou apenas a mera pesquisa arquitetônica levou-nos a construções semelhantes a fábricas ou galpões, quando não edifícios com características de shoppings, de gosto duvidoso. Tudo isso se deve ao desconhecimento da arte e da liturgia cristãs.
Comentários