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Arábia Saudita proíbe templos não muçulmanos

Entrevista com o reitor emérito do PISAI, Justo Lacunza Balda 
BARCELONA, segunda-feira, 24 de janeiro de 2011 (ZENIT.org) - "A reciprocidade é uma questão importante, que não deve ser posta de lado; um Estado não pode exigir a liberdade religiosa dos outros Estados quando não está disposto a oferecê-la."
Este é o pensamento exposto pelo reitor emérito do Instituto Pontifício de Estudos Árabes e Islâmicos (PISAI), o Pe. Justo Lacunza Balda, nesta entrevista concedida a ZENIT, por ocasião do seu discurso na apresentação do Relatório sobre liberdade religiosa no mundo, de Ajuda à Igreja que Sofre, realizado no último dia 21, em Barcelona.
Filósofo, especialista em árabes, africanos e muçulmanos, doutor em línguas e culturas africanas, o sacerdote espanhol afirma que os Estados são responsáveis por garantir a liberdade religiosa e cita exemplos como a Arábia Saudita, "onde não é permitido nenhum símbolo religioso ou lugar de culto de outra religião", a não ser do Islã.
ZENIT: Como você vê a situação geral da liberdade religiosa no mundo?
Justo Lacunza Balda: Em muitos contextos políticos, pretende-se isolar a religião e fazer que as sociedades erradiquem completamente o fator religioso.
Isso não é só de agora e a secularização leva anos entre nós. Por isso, há tanta apatia, indiferença, e talvez perseguição dissimulada, quando se trata de liberdade religiosa.
Por um lado, há uma efervescência de religião (em todas as suas formas de extremismo, fundamentalismo etc.). E, por outro, há indiferença religiosa (em todas as suas variações e vozes do secularismo e de Estados aconfessionais).
Mas uma coisa deve ficar clara: a liberdade religiosa é um direito humano e, portanto, inalienável. Embora isso não agrade alguns Estados, eles têm de defendê-la.
ZENIT: Quais são os países em que menos se respeita essa liberdade?
Justo Lacunza Balda: O país que não permite nenhum símbolo religioso ou local de culto de outra religião é a Arábia Saudita. O regime da dinastia Saud, que começou em 1932, considera todo o território nacional como a terra santa do Islã.
Os cristãos sofrem a falta de liberdade religiosa em muitos outros países também, como a Argélia, Bangladesh, China, Coreia do Norte, Egito, Índia, Indonésia, Irã, Marrocos, Nigéria, Paquistão, Sudão, Turquia etc.
Há uma grande diferença entre teoria e prática. Antes, era possível esconder fatos de todos os tipos; hoje, é praticamente impossível fazer isso, devido ao avanço tecnológico nas comunicações.
ZENIT: Nas democracias ocidentais também se atenta contra essa liberdade?
Justo Lacunza Balda: Há um fenômeno do qual não se quer falar: a cristianofobia. Ninguém é obrigado a crer, mas os países ocidentais devem garantir a liberdade de culto.
O cristianismo não é apenas fé e crença. É também um sistema de valores, defesa da dignidade humana, da justiça, dos direitos, acima de qualquer distinção.
Além disso, é difícil conceber a história e evolução das democracias ocidentais sem o cristianismo. Fazer isso demonstra um elevado grau de desconhecimento da evolução histórica, humana e institucional da Europa.
ZENIT: Em sua opinião, o islamismo e o cristianismo estão influenciando as culturas e as sociedades das diferentes regiões do mundo de hoje? Como se dá isso?
Justo Lacunza Balda: Dentro do Islã, há muitas escolas de pensamento, interpretações diferentes e muitas formas de praticá-lo.
Por outro lado, a política e a religião formam um binômio em grande parte dos Estados de maioria muçulmana, de difícil gestão. Fala-se do "Islã politizado".
Do cristianismo, pode-se dizer, sucintamente, que também tem suas variações, interpretações e formas de viver.
É verdade que o cristianismo enfatiza constantemente a dignidade da pessoa como o principal centro da sociedade, dos direitos e deveres.
Isso reflete os princípios da fé que motivam a visão cristã da sociedade, do mundo e das coisas.
Se em algo estão contribuindo o Islã e o cristianismo, apesar de suas profundas diferenças, é em recriar, renovar e atualizar o sentido divino das coisas e da dimensão espiritual da vida humana.
ZENIT: Você poderia nos contar algo do testemunho da última sexta-feira em Barcelona, durante a apresentação do Relatório sobre liberdade religiosa no mundo, de Ajuda à Igreja que Sofre?
Justo Lacunza Balda: Em primeiro lugar, eu gostaria de salientar a importância da liberdade religiosa em todos os níveis, já que isso significa transformar os direitos humanos em um campo específico.
Os Estados são os responsáveis, que têm de garantir a liberdade religiosa. Muitos Estados continuam de olhos fechados, como se nada tivesse acontecido.
Em segundo lugar, é um fato que os cristãos são perseguidos, torturados, presos e assassinados. Sua liberdade de culto é cortada - quando não é suprimida; seus locais de culto são destruídos.
Em terceiro lugar, analisamos as causas que conduzem ao estrangulamento da liberdade religiosa nos diferentes Estados do mundo.
ZENIT: Quais são os principais temas do relatório, a seu ver?
Justo Lacunza Balda: A questão da responsabilidade dos Estados é de fundamental importância, uma vez que a liberdade religiosa é um dos direitos humanos proclamados na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, de 1948.
O segundo tema é a evolução e o desenvolvimento de sociedades com grande variedade de línguas, culturas e religiões. Migração e globalização são fenômenos a serem analisados e depois é preciso tirar conclusões.
Em terceiro lugar, a reciprocidade é uma questão importante que não deve ser posta de lado. Um Estado não pode exigir a liberdade religiosa de outros Estados quando não está disposto a oferecê-la.
ZENIT: Você também deu uma palestra sobre "Os cristãos em países islâmicos". Poderia resumir um pouco a situação dos cristãos em países muçulmanos? Quais são seus principais problemas hoje?
Justo Lacunza Balda: Devemos considerar, nos termos da legislação, constitucional e legal, como funciona um determinado Estado onde a maioria da população é composta por muçulmanos. Não é a mesma coisa Egito e Arábia Saudita, Turquia e Marrocos, Catar e Indonésia, Sudão e Argélia, Indonésia e Cazaquistão.
Os principais problemas dos cristãos são três: insegurança e medo; discriminação e intolerância; sentir-se cidadãos ou crentes cristãos de segunda classe.
O sentimento geral é não se considerar livre para ser cristãos e praticar sua religião com total tranquilidade.
ZENIT: Qual é a sua interpretação sobre atentados como aqueles perpetrados em outubro, em Bagdá, e em dezembro, em Alexandria?
Justo Lacunza Balda: A geopolítica da região mudou nos últimos dez anos, especialmente após os atentados de 11-S (2001), a guerra no Afeganistão (2001) e a guerra no Iraque (2003).
Muitas vezes, os cristãos são identificados com o Ocidente e se pensa que, atacando os cristãos, estão causando dano ao Ocidente. Esquecemos que um dos principais atores das mudanças radicais, Al-Qaeda, declarou guerra aos norte-americanos, judeus e cristãos, há anos.
Essa política não mudou. Pelo contrário, está se espalhando, minando as instituições e as relações internacionais, infiltrando-se em muitos dos Estados de maioria muçulmana.
É verdade que a posição dos cristãos no Egito é precária e isso não é novidade. Quem diz isso são os próprios cristãos coptas, que sofrem, durante anos, a discriminação, a pressão para se converter ao islamismo, atrasos intermináveis na concessão de autorizações para lugares de culto.
Desde o início da guerra no Iraque, os cristãos foram atacados, os seus bens, confiscados e seus locais de culto, destruídos. A pergunta que não quer calar: quem se preocupa com o destino deles? Quem defende seus direitos no âmbito internacional? Onde estão os defensores dos direitos humanos?
Mas também devemos dizer que, infelizmente, elementos comuns unem cristãos e muçulmanos: pobreza, miséria, injustiça de todos os tipos, paralisação trabalhista, desemprego.
ZENIT: Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
Justo Lacunza Balda: O caminho do diálogo é difícil, o caminho da liberdade, e da liberdade religiosa em particular... Muito difícil.
Além disso, as formas de entendimento e comunicação são igualmente dolorosas e muitas vezes intransitáveis.
No entanto, é parte da aventura da história humana sempre olhar em frente e não parar, explorar o que o outro pensa, adentrar-se em sua visão das coisas. Em suma, cada ser humano é um mistério que não pode ser visto ou documentado simplesmente a olho nu.
É por isso que a liberdade religiosa não é colocar obstáculos, cercas e sebes. Pelo contrário, é criar esse espaço de humanidade e traduzir no tempo o que o ser humano sonha e espera. Ninguém pode ser punido pelo fato de ser sonhador. Sem sonhos não há vida.

Por Patricia Navas

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