Celebramos o primeiro domingo do ano com a Solenidade da Epifania do Senhor, a manifestação de Deus já não só ao seu povo mas a todos os povos representados nesses magos vindos do Oriente.
Esta realidade estava já anunciada na profecia de Isaías que lemos na primeira leitura, uma profecia universalista, abrangente de todos os povos, pois se o povo eleito existia era para conduzir todos os outros povos à mesma relação familiar com Deus. A cidade santa de Jerusalém, o templo e o culto eram sinais dessa aliança e promessa prefigurada de uma aliança com todos os povos.
São Paulo na Carta aos Efésios proclama também esta mesma universalidade da aliança salvadora, já não centrada num lugar, num templo ou numa cidade, mas aberta a todos os povos e a todos os homens através do Evangelho que ele mesmo se encarrega de anunciar com a graça e a força do Espírito Santo.
Esta solenidade com a viagem dos magos do oriente até Belém e com a adoração do menino remete-nos assim para a universalidade da nossa própria viagem e o encontro que buscamos com o mesmo menino Filho de Deus.
Neste sentido não podemos deixar de ter presente o contexto em que os magos se encontram com esta estrela que brilha no oriente para eles. Sendo algo extraordinário não foi no entanto algo que de alguma forma lhes fosse estranho. É na sua busca do horizonte, do céu estrelado, que se encontram com este sinal. Podemos dizer que é no seu quotidiano, no seus afazeres que se deparam com esta novidade e este sinal.
Para nós, e ao iniciar mais um ano com tudo o que acarreta de projectos, de sonhos e expectativas, é um exemplo de como devemos estar atentos ao nosso quotidiano e ao que nele se manifesta como sinal da presença de Deus, da urgência da sua revelação. Deus não vem ao nosso encontro de forma inusitada; tal como com os magos vem ao nosso encontro naquilo que fazemos, na nossa circunstância, usando uma expressão de Ortega y Gasset.
Mas para que na nossa circunstância nos demos conta dos sinais reveladores são necessários a disponibilidade e a abertura, é necessário estar com os olhos bem abertos, perscrutando os horizontes tal como faziam os magos. E sobretudo, estar dispostos a largar tudo por um caminho incerto, uma busca de um encontro que não sabemos onde o vamos ter e como o vamos identificar.
O evangelho coloca-nos perante essa realidade do caminho, do processo de busca, com tudo o que ele encerra de incerteza, de perigos, de incómodos, de afastamento do que nos é querido e conhecido, até de armadilhas que nos podem ser tendidas para que não consigamos chegar ao fim, ao encontro desejado. Também nos nossos caminhos, na nossa vida nos encontramos com alguns Herodes que nos procuram desviar ou atrasar na busca que realizamos.
Como os magos não podemos desistir e ainda que a estrela se perca nas noites escuras da caminhada temos ainda uma outra bússola, um outro critério orientador, que mesmo com a estrela brilhando não podemos deixar de ter presente, não podemos deixar de aferir. É a alegria, esse dom, essa graça que permitiu aos magos caminhar até ao encontro com o menino Jesus. Também a nossa alegria, a nossa alegria interior, é manifestação da certeza do caminho que estamos trilhando, do sentido correcto em que vamos. E quantas vezes nos esquecemos de aferir deste sinal…
Ainda na caminhada ao encontro do menino, os magos mostram-nos a necessidade de caminharmos juntos, em equipa, em comunidade, em fraternidade. Cada um deles podia ter seguido o seu caminho, feito a sua busca pessoal, mas optaram por fazê-la em conjunto, defendendo-se assim dos perigos e armadilhas mas também fortalecendo-se uns aos outros na sua busca. O encontro é pessoal, e assim vemos que cada um oferece do que tem e traz ao menino Deus, mas a busca pode e deve ser conjunta.
O que nos deixa um grande desafio, porque ainda que o nosso encontro com Deus, com o Filho de Deus seja pessoal, devemos ajudar-nos uns aos outros na caminhada e na busca desse encontro. A nossa fé partilhada, a nossa esperança e o nosso amor são afinal a luz que pode brilhar no caminho de qualquer outro que caminha connosco.
E quando nos encontrarmos com o Menino poderemos oferecer-lhe o nosso ouro, o nosso incenso e a nossa mirra, afinal o resultado da nossa busca nessas dimensões da nossa humanidade, da nossa divindade e da nossa fraternidade. Será um encontro único, irrepetível, e que inevitavelmente nos conduzirá por outros caminhos de regresso.
Embora nos possamos perguntar se depois de nos encontrarmos com o Menino Deus há outros caminhos, se há regresso… Não deveria haver permanência, adoração? E no entanto regressamos, parecemos condenados a caminhar eternamente e muitas vezes continuamente em busca de encontros com o Menino. Contudo, se tal acontece é porque de facto a maior parte das vezes nos cruzamos mais com ele do que nos encontramos.
Falta-nos atenção aos céus, falta-nos disponibilidade para o caminho, faltam-nos os companheiros, faltam-nos os tesouros e a liberdade generosa de os colocarmos aos pés do menino. E por isso regressamos, ainda que por outros caminhos, com a recordação e a imagem do menino, mas sem o menino. Necessitamos roubar o menino, trazê-lo connosco, fazê-lo nosso, ou melhor, porque nosso já é fazermo-nos dele, fazermo-nos Ele.
São estes os meus votos, para mim e para todos vós neste ano de 2011, que nos façamos meninos Jesus, na humildade e na simplicidade, na disponibilidade e na alegria, na pureza e na confiança.
VATICANO Denuncia que cristãos são o grupo religioso mais perseguido.
Os cristãos se tornaram o grupo religioso mais perseguido no mundo, segundo denunciou a Santa Sé na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Porta-voz da denúncia foi o bispo Mario Toso, secretário do Conselho Pontifício Justiça e Paz, quem esteve à frente da delegação da Santa Sé durante a conferência sobre a tolerância e a não-discriminação, organizada pela presidência cazaque da OSCE entre os dias 29 e 30 de junho.
O texto foi divulgado pela edição italiana do L'Osservatore Romano de 7 de julho. Esta conferência da OSCE - organização conformada atualmente por 56 Estados participantes, todos eles da Europa, Ásia Central e América do Norte (Canadá e Estados Unidos) - prestou particular atenção à discriminação contra os cristãos e membros de outras religiões. "Com o crescimento da intolerância religiosa no mundo, está amplamente documentado que os cristãos são o grupo religioso mais discriminado", começou alertando o representante pontifício.
E acrescentou:
- "Mais de 200 milhões deles, pertencentes a confissões diferentes, encontram-se em situações de dificuldade por causa das instituições e dos contextos legais e culturais que os discriminam".
Antes de mais nada, deixou claro que os cristãos não são discriminados somente onde são minoria, mas se comprova que, às vezes, seus direitos fundamentais são reduzidos inclusive quando são maioria. Também quanto à OSCE, afirmou Dom Toso, em alguns países se dão ainda "leis intolerantes e inclusive discriminatórias" contra crentes. "Há episódios repetidos de violência, inclusive assassinatos de cristãos." "Persistem restrições irracionais contra a liberdade de opinião e de adesão a uma confissão e à respectiva comunidade religiosa, assim como contra a importação e distribuição de material religioso", continuou denunciando. "Há também ilegítimas interferências em sua autonomia organizativa.
Dessa forma, exercem-se indevidas pressões sobre as pessoas que trabalham na administração pública, obstaculizando sua liberdade de expressão segundo sua consciência." "Com frequência, a educação cívica acontece sem o devido respeito pela identidade e pela fé dos crentes. Registram-se, além disso, sinais claros de oposição ao reconhecimento do papel público da religião", constatou. Por este motivo, sublinhou o prelado, "a Santa Sé está convencida de que a comunidade internacional deveria lutar contra a intolerância e a discriminação dos cristãos com a mesma determinação com que luta ou lutaria contra o ódio a todas as comunidades religiosas".
Por outro lado, sublinhou, "os meios de comunicação tampouco ficam isentos de atitudes de intolerância e, em alguns casos, de preconceito com relação aos cristãos e crentes em geral". "Um autêntico pluralismo nos meios de comunicação exige uma correta informação sobre as diferentes realidades religiosas, assim como a liberdade de acesso aos meios para as próprias comunidades religiosas." No respeito à liberdade de pensamento e expressão, pediu que fossem adotados "mecanismos e instrumentos contra a manipulação dos conteúdos e símbolos religiosos, assim como contra as manifestações de intolerância e de ódio contra os cristãos e todos os crentes". O representante vaticano felicitou a OSCE por ter-se tornado uma das instituições internacionais pioneiras na defesa da liberdade religiosa.
Zenit
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