
Papa Francisco enviou a Carta Apostólica Desidero desideravi a todos os bispos, presbíteros, diáconos, pessoas da Vida Consagrada e a todos os fiéis leigos sobre a Formação Litúrgica do Povo de Deus. O título é colhido do texto de Lucas: “Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco, antes de padecer” (Lc 22,15). São as palavras de Jesus com as quais inicia a última Ceia. Nelas é possível vislumbrar a profundidade e a gratuidade do amor que se doa livremente.
No texto a liturgia é ressaltada como lugar do encontro com Cristo.
“Aqui está toda a força da beleza litúrgica. Se a ressurreição fosse
para nós um conceito, uma ideia, um pensamento; se o Ressuscitado fosse
para nós a recordação da recordação de outros, mesmo com a autoridade
dos Apóstolos, se não nos fosse oferecida a possibilidade de um
verdadeiro encontro com Ele, seria declarar o fim da novidade do Verbo
feito carne. No entanto, a encarnação além de ser o único evento novo
que a história conhece, é também o modo que a Santíssima Trindade
escolheu para abrir o caminho da comunhão. A fé cristã ou é encontro com
Ele vivo ou não é. A liturgia é a possibilidade de um tal encontro.”
(DD, 10-11)
O texto nos leva a redescobrir as belezas da verdadeira celebração
cristã. A beleza das celebrações se desfaz do ritualismo, da
formalidade, da observância escrupulosa das rubricas, como também do
espontaneísmo, do show, da superficialidade, do funcionalismo. A beleza
está na simplicidade, na essencialidade, no serviço, na centralidade do
Mistério da Salvação que é celebrada pela comunidade.
Por isso, o espaço, o tempo, os gestos, as palavras, os objetos, as
vestes, o canto, a música, estão a serviço da celebração, da comunidade
que celebra. Nada a serviço de um grupo, de imposições de ritmos, de
cantos, vestes que tiram a beleza e a dignidade da celebração. A
comunidade celebra o mistério pascal, fonte de vida e de graça. Nesse
sentido o rito, as rubricas bem cuidadas possibilitam perceber a
presença do Ressuscitado. A possibilidade de encontro com Ele.
Diante da falta de acolhimento das mudanças introduzidas pelo Concílio
Ecumênico Vaticano II, o texto insiste na necessidade da formação
litúrgica. O que importa é como crescer na capacidade de viver em
plenitude a ação litúrgica! Como continuar a encantar-se com o que na
celebração acontece sob os nossos olhos, se pergunta Papa Francisco.
“Temos necessidade de uma séria e vital formação litúrgica”.
Termina a sua carta afirmando: “Desejo que esta carta nos ajude a
reavivar a admiração pela beleza da verdade do celebrar cristão, a
recordar a necessidade de uma formação litúrgica autêntica e a
reconhecer a importância de uma arte da celebração que esteja a serviço
da verdade do mistério pascal e da participação de todos os batizados,
cada qual na especificidade de sua vocação.” (DD, 61)
Um convite a abandonar as polêmicas a respeito da celebração litúrgica. O
mais importante está no cuidado da comunhão e deixar-se cuidar pelo
Senhor que continua a oferecer a graça de estar no nosso meio e de
estarmos com Ele à mesa. Desejar ardentemente sentar-se com Ele no
repartir a Palavra e o Pão.
Leonardo Steiner
Arcebispo de Manaus
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