Hoje no mundo
são mais de 20 os países que vivem a tragédia dos conflitos, da guerra, e
muitas dessas, internas, irmãos contra irmãos, dramas totalmente
desconhecidos ou esquecidos. Parece que nesta nossa sociedade
tecnológica as guerras e conflitos somente existem quando as câmeras de
televisão jogam para dentro de nossas casas, a dor, o sofrimento e o
cheiro da morte. Caso contrário, a guerra é só uma palavra que o tempo
gastou de tanto ser usada. Ganha nossa atenção nesses últimos dias as
revoltas internas dos jovens na Turquia, mas também o martírio de civis
na vizinha Síria, onde segundo a ONU desde o início da revolta interna
mais de 90 mil pessoas perderam a vida. Interessa-nos, talvez, porque as
imagens nos falam da tristeza de povos que num certo sentido tem muita
ligação conosco, com o Brasil. O drama vivido por muitos povos, e agora
pelo povo sírio é mais um grito da loucura que se consuma e produz
morte, tristeza e milhões de refugiados.
São novas
guerras no Oriente Médio, são tragédias em diferentes países, tudo isso à
sombra da crise econômica que atinge a Europa. Estamos também vivendo
um ano marcado por acontecimentos econômicos; nações que até poucos anos
eram consideradas verdadeiras potências mundiais, passaram a sentir o
gosto amargo da crise econômica.
“A guerra é o
suicido da humanidade”, disse dias atrás o Papa Francisco, porque mata o
coração e mata o amor. Já o Beato João Paulo II antes da primeira
guerra no Golfo sentenciava que a guerra é uma “aventura sem retorno”
onde todos perdem. A guerra ofende a Deus e fere a humanidade, é um mal
profundo. Mas por que ainda hoje devemos ouvir que a guerra impera em
certas regiões do nosso planeta? Tudo gira em torno do poder, da busca
do poder de uns sobre outros, do poder econômico que não conhece
limites, da indiferença da dor do próximo, da busca de “soberania” que
os “grandes” desejam e que para obter escolhem a estrada do conflito, da
guerra, da subjugação.
O poder, o
dinheiro, são mais importantes do que o ser humano. A guerra é
exatamente isso, – disse Papa Francisco – “um ato de fé ao dinheiro, aos
ídolos do ódio, que leva a matar o irmão”. Hoje até “Deus chora pela
nossa loucura”, pela nossa falta de consciência do valor da vida, do
valor da humanidade.
Apesar do mundo
dizer que deseja a paz, apesar das muitas convenções internacionais
tentarem garantir a paz e os direitos humanos da população, o que vemos
na realidade dura e crua são operações bélicas obedecendo somente uma
regra, a lei do mais forte, a lei das armas: quem tem armas, tem poder,
domina. João Paulo II dizia que “a guerra é o meio mais bárbaro e o
menos eficaz de todos para resolver quaisquer conflitos”.
Na audiência
geral da última quarta-feira na Praça São Pedro, no Vaticano, o Papa
Francisco falou das muitas guerras ainda existentes hoje, inclusive
entre cristãos. Como isso pode acontecer? No nosso bairro, no trabalho,
na família, quantas guerras internas por inveja, ciúme. “Peçamos ao
Senhor que nos faça entender a lei do amor, disse o Papa. Quanto é belo
nos amarmos como verdadeiros irmãos”. Palavras que até parecem uma
utopia, um pensamento contracorrente, sem sentido num mundo onde a voz
do mais forte ecoa e faz baixar a cabeça do mais fraco e débil.
Por que é tão
difícil as pessoas pensarem que a guerra traz resultados imprevisíveis e
que é causa somente de mais sofrimento, enquanto o diálogo é porta para
a esperança, para a solução? Podemos mudar a situação, essa realidade
marcada pelo ódio, pela busca de poder, em síntese, pelo mal. Mas tudo
deve começar por nós mesmos no nosso mundo, na nossa família, no nosso
trabalho, na nossa comunidade, na nossa Igreja. Sim porque também ali a
inveja pode imperar e o orgulho soberbo dominar. Somos pequenas luzes
que podem, juntas – como disse o Papa Francisco -, iluminar essa grande
escuridão de hoje, provocada pela indiferença e falta de amor. Sim a
alternativa à guerra, à violência, ao ódio, ao desconforto, à
indiferença existe, e ela se chama amor, diálogo; amor que destrói o
egoísmo, diálogo, que reconhece no outro a sua dignidade; e ainda a paz,
fruto da justiça, que tanto o homem anseia. O desejo de realizar tais
vontades pode mudar e fazer uma nova história do homem, mas para isso é
preciso coragem, sim, a coragem de homens livres, cheios de esperança e
de amor. Assim podemos evitar o “suicido da humanidade”.
Colunista do Portal Ecclesia.
Diocese de Roma
(Itália). Doutor em comunicação e professor universitário em Roma.
Jornalista da Rádio Vaticano: "a voz do Papa e da Igreja em diálogo com o
mundo".
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