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ERA MESMO CRISTÃO O CATOLICISMO ROMANO?

Em Síntese: Eis mais um livro de origem protestante que visa a atacar a Igreja Católica de maneira sectária ou preconceituosa, com distorção da verdade. O artigo abaixo se detém sobre alguns tópicos das objeções levantadas e mostra a sua inconsistência.
Hugh P. Jeter escreveu um livro, que, entre muitos outros, procura impugnar a Igreja Católica, seu Credo e sua história. Intitula-se: “Será mesmo Cristão o Catolicismo Romano?”. A Redação de PR recebe vários escritos de tal natureza por parte de pessoas que pedem uma resposta às objeções levantadas. A nossa Redação já tem escrito repetidamente sobre tais assuntos: como quer que seja, [a seguir] serão focalizados alguns aspectos dos mais representativos do livro de H. Jeter e de escritos congêneres. De modo geral pode-se dizer que tais obras se caracterizam por:
• Alusões falsas ou preconceituosas à Igreja. Os autores armam um fantoche não católico e atiram nele, tencionando atacar a Igreja Católica.
• Citação parcial da Bíblia, pondo em relevo apenas os textos que correspondem ao pensamento do autor e omitindo os demais.

• Tom proselitista dissimulado sob o aspecto de querer bem ao irmão católico.
 
1. A Igreja
Da pág. 11 à pág. 24, H. Jeter trata da Igreja. Eis algumas de suas afirmações:
1. Ao referir-se a Mt 16,13-18, Jeter escreve:
“Existe uma diferença entre Petros (Pedro) e Petra. Petros significa ‘um pedaço maciço de pedra’. Parece que o Senhor estava usando um jogo de palavras e dizia o seguinte: ‘Pedro, tu és uma pequena pedra, mas sobre esta pedra maciça eu construirei a minha Igreja’” (pág. 13).
A propósito, o autor parece esquecer que Jesus não falou em grego, mas em aramaico. Se em grego o trocadilho é falho, em aramaico ele é exato, pois versa sobre Kepha…Kepha. Jesus mudou o nome de Simão para Kepha em Jo 1,42, preparando assim, desde a vocação de Pedro, a promessa de primado que lhe faria em Mt 16,18. De resto, está averiguado que é mais fácil entender o texto do Evangelho traduzido do grego para o aramaico (língua de Jesus e dos primeiros pregadores) do que o texto grego canônico. Outro exemplo seria o uso de adelphoi em grego, palavra que traduz o aramaico ‘ah, cujo significa é mais amplo do que o grego adelphoi (irmãos).
O autor H. Jeter nos diz que o Novo Testamento só conhece um fundamento da Igreja: o Cristo Jesus, mencionado em 1Cor 3,11. Observemos contudo que o Senhor que disse ser a luz do mundo (cf. Jo 8,12; 9,15; 12,46), atribui o mesmo título aos seus discípulos (cf. Mt 5,14): por meio de Pedro, e mais fundo que Pedro, Cristo fica sendo a Rocha, o fundamento invisível da Igreja. É esse mesmo Jesus que “possui a chave de Davi, que abre de modo que ninguém fecha, que fecha de sorte que ninguém abre” (Ap 3,7). Em Cristo e em Pedro, portanto, residem análogos poderes (designados pelas mesmas metáforas); é de Cristo que eles dimanam para o Apóstolo, de sorte que este vem a ser o Vigário ou Representante de Jesus na terra.

O texto de Mt 16,13-19 é muito claro em favor do primado de Pedro. Jeter o impugna e não cita dois outros textos que corroboram o mesmo primado:
• Lc 22,31s: “Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; Eu, porém, roguei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. Quando te converteres, confirma teus irmãos”.
• Jo 21,15-17: “Jesus disse a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, tu me amas mais do que esses?’ Ele respondeu: ‘Sim, Senhor, tu sabes que te amo’. Jesus lhe disse: ‘Apascenta as minhas ovelhas’. Pela segunda vez lhe disse: ‘Simão, filho de João, tu me amas?’ ‘Sim, Senhor’, disse ele, ‘tu sabes que te amo’. Disse-lhe Jesus: ‘Apascenta as minhas ovelhas’. Pela terceira vez disse-lhe: ‘Simão, filho de João, tu me amas?’ Entristeceu-se Pedro porque pela terceira vez lhe perguntara: ‘Tu me amas?’ e lhe disse: ‘Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que te amo’. Jesus lhe disse: ‘Apascenta as minhas ovelhas’.”
 

O fato de que Pedro e seus sucessores foram fracos do ponto de vista moral, indica bem que não é o homem quem rege a Igreja, mas é Cristo mediante os homens que Ele quer escolher e que são meros instrumentos do Senhor. Este governa a Igreja prolongando, de certo modo, o mistério da Encarnação, isto é, utilizando a precariedade humana como canal de graça e salvação. 
 
2. À pág. 15 escreve H.P.Jeter:
“Se a Igreja Católica é infalível em doutrina, por que então através dos séculos tantas doutrinas têm sido mudadas e outras acrescentadas?
Por que já não são ensinados os poderes temporais da Igreja como enumerados por Pio IX? Por que já não se pratica a Inquisição? Por que deixaram o ensino acerca do Limbo desde o Concílio Vaticano II? Por que foram acrescentadas mais algumas coisas às doutrinas e práticas já aprovadas: a transubstanciação (1215 dC), a confissão auricular (1215 dC), a do Purgatório (proclamada em 1438 dC), a infalibilidade papal (1870 dC), a imaculada conceição de Maria (1854 dC) e a ascensão de Maria (1850 dC)?” 

Em resposta, dir-se-ia:

• O poder temporal da Igreja não é artigo de fé. Trata-se de um fator contingente, que contribui para o livre exercício da missão pastoral do Papa; não subordinado a um poder civil, pode ele mais desimpedidamente cumprir sua tarefa de Pastor Universal.

• A Inquisição também nunca foi matéria de fé. Era tida como um dever de consciência dos cristãos medievais, que não podiam conceber uma sociedade pluralista como ela é hoje; nem os maiores Santos da Idade Média protestaram contra ela. Quanto à Inquisição de Espanha e Portugal, a partir do século XV, tornou-se mais e mais, o joguete dos monarcas, que assim desajavam unificar a população de seu país, à revelia mesmo das intervenções da Santa Sé.

• A doutrina do Limbo nunca foi declarada artigo de fé. Tornou-se doutrina comum a partir de S. Anselmo de Cantuária (+1109). Hoje em dia a Teologia propõe outro modo de encarar a sorte das crianças que morrem sem Batismo.

• A Transubstanciação é a conversão do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor Jesus Cristo, de acordo com as afirmações do próprio Jesus em Jo 6,51-58; Mt 26,26-28; Mc 14,23-24; Lc 22,19; 1Cor 11,23-25. A fidelidade à Bíblia, que os protestantes tanto professam, exigem que se entendam as palavras do Senhor em todo o seu realismo, como foram entendidas durante dezesseis séculos e até hoje são entendidas tanto por católicos como por orientais ortodoxos.

• A Confissão Auricular é praxe fundamentada no próprio Evangelho, onde Jesus transmite aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados (cf. Jo 20,22s). Para poder exercer a faculdade de perdoar ou não perdoar em nome de Cristo, deve o ministro poder avaliar o estado de alma do penitente – o que só é viável se este manifesta o que lhe vai no íntimo.

• A crença na existência do Purgatório, longe de ter sido aceita em 1438 (por que tal data?), remonta ao século II aC, como professa 2Mc 12,39-45. É de notar que Lutero não quis reconhecer como canônico este livro da Bíblia dos cristãos; eliminou-o do catálogo sagrado.

• A Infalibilidade Papal é professada desde os primeiros séculos, não com a clareza de que goza em nossos dias, mas de maneira tal que os historiadores a identificam no decorrer dos séculos. [...]

• A Imaculada Conceição de Maria é deduzida do fato de que Maria, chamada a ser a Mãe de Deus feito homem, não pode ter estado alguma vez sujeita ao pecado. Tal verdade de fé não é explicitamente enunciada nos Evangelhos porque estes não foram escritos para relatar traços de Mariologia; Maria aí só aparece tão somente como a Mãe de Jesus, que é a figura central do texto sagrado. Todavia, a Tradição Oral professou tal artigo de fé.

• A Assunção (não Ascenção) de Maria é conseqüência da vitória de Deus em Maria sobre o pecado: aquela que nunca esteve sob o domínio do pecado, não podia ficar nas garras da morte, que, como refere São Paulo (Rm 5,12-17), resulta do pecado dos primeiros pais.

3. Às págs. 15 e seguinte, escreve H. P. Jeter:
“Se a Igreja Católica é infalível, por que Mussolini, sendo católico, invadiu a Etiópia? Por que existiu a Inquisição em países como a Espanha e Portugal, que se dizem católicos? Por que espanhóis e portugueses não queriam permitir que suas colônias se emancipassem? Por que proibiram aos leigos a leitura da Bíblia e em outras épocas a recomendaram?”

A resposta a tais questões não é difícil, como se depreenderá:

• Mussolini não invadiu a Etiópia a mando da Igreja Católica. Embora seja filho da Igreja, um católico pode errar: o próprio Senhor Jesus predisse que no seu campo haveria trigo e joio; Ele não quer que se arranque o joio antes do fim dos tempos. O Papa ultimamente tem pedido perdão pelos pecados dos filhos da Igreja infiéis à sua Santa Mãe. Distingamos entre pessoa e pessoal da Igreja; a pessoa é a Igreja enquanto vivificada pelo Cristo ou como Esposa sem mancha nem ruga (Ef 5,27); o pessoal da Igreja são os filhos da Igreja, nem sempre dóceis aos ensinamentos de sua Mãe. [...]

• Sobre a Inquisição já foi dito algo neste artigo. É de notar que na península Ibérica a Inquisição foi muito manipulada pelos monarcas, desejosos de eliminar de seus territórios judeus e muçulmanos. A Inquisição Espanhola, extinta no começo do século XIX, era dita “Inquisição Régia”.

• Nenhum dos países colonizadores viu com prazer a descolonização de suas posses na África ou na Ásia. As razões para tanto eram complexas. Tal atitude não afeta a infalibilidade da Igreja.

• Quanto à leitura da Bíblia, observe-se quanto vai dito no artigo de PR 451/1999, págs. 547-549: [Ouve-se, por vezes, dizer que a Igreja Católica proibiu a leitura da Bíblia. A resposta há de ser deduzida de um percurso da história. Ora, está averiguado que, nos primeiros séculos, muito se recomendava a leitura do texto sagrado. Na Idade Média e em épocas posteriores (especialmente no século XVI) surgiram hereges (cátaros, valdenses, wycliff, reformadores protestantes) que traduziam a Bíblia do latim para o vernáculo colocando no livro sagrado idéias contrárias à reta fé. Daí proibições, formuladas por Concílios, de se utilizar a Bíblia em língua vernácula, a não ser que o leitor recebesse especial autorização para fazê-lo. As restrições foram impostas não ao texto latino, mas às traduções vernáculas (em língua popular), em virtude de fatores contingentes; a Igreja, como Mãe e Mestra, sente o dever de zelar pela conservação incólume da fé verdadeira a Ela entregue, por Cristo e ameaçada pelas interpretações pessoais dos inovadores da pregação; eis por que lhe pareceu oportuno reservar o uso da Bíblia a pessoas de sólida formação cristã nos séculos em que as heresias pretendiam apoiar no texto sagrado as suas proposições perturbadoras. Ainda no século XIX a Igreja via nas traduções vernáculas da Bíblia (patrocinadas pelas Sociedades Bíblicas protestantes) o canal de concepções heréticas. 

Todavia, a partir do papa S. Pio X (+1903), deu-se uma volta às fontes, que incluiu a recomendação da leitura da Bíblia, por parte de todos os fiéis, em língua vernácula. No momento presente, dado que existem boas edições da Escritura nas línguas vivas, a Igreja fomenta o recurso assíduo à Palavra de Deus escrita e lida no concerto da Tradição da Igreja.]

4. À pág. 16 pondera Hugh P. Jeter:
“Durante vários séculos, a missa foi celebrada em latim. Desde o Concílio do Vaticano II pode ser celebrada na linguagem do povo, embora saibamos que houve uma forte objeção a esta mudança. Se anteriormente era algo sacrílego, por que agora deve ser aceito?”

• A pergunta parece ignorar que há certas leis que devem ser periodicamente revistas e reformuladas, pois toda lei visa a promover o bem comum da sociedade nas sucessivas situações por que os homens passam. No tocante à língua da celebração eucarística, foi o vernáculo (latim) na antiguidade; o latim ficou sendo o idioma culto até o fim da Idade Média. No século XVI os reformadores protestantes pleitearam o uso do vernáculo, que naquelas circunstâncias foi rejeitado pela Igreja Católica, pois havia o risco de que o vernáculo se tornasse veículo de teses protestantes infiltradas sorrateiramente na Liturgia. Em nossos dias tal perigo já não existe; daí a permissão de se celebrar a Missa em vernáculo. Tais fatos não afetam artigos de fé ou de moral.

5. À pág. 18 lê-se:
“É bom salientar que o conceito evangélico de santo é o de alguém que vive de modo santo, enquanto que, no Catolicismo, os santos são unicamente aqueles que foram oficialmente beatificados e declarados santos pelo papa”

• Realmente o autor se compraz em caricaturar para escarnecer. É claro que, também para os Católicos, a santidade é um valor íntimo, sem o qual não há santos; a declaração Pontifícia consiste apenas em proclamar esse valor íntimo, depois de cuidadosamente comprovado.

6. Ainda à pág. 18 encontra-se o seguinte:
“O título de ‘Igreja Católica Romana’ é em si mesmo uma contradição, pois ‘Romana’ estabelece uma área geográfica, enquanto que ‘Católica’ significa ‘universal’.”

• Deve-se responder que a Igreja é Católica, ou seja, universal, mas ela tem um governo central situado em Roma – o que explica o predicado “Romana”; este não limita a universalidade da Igreja, mas apenas indica qual é a “caixa postal” da Igreja. Da mesma forma, Jesus era e é o Salvador universal ou de todos os homens, mas é chamado “Nazareno” porque, vivendo na terra, precisava de ter um endereço ou um pouso.
2. A Bíblia Sagrada

Passamos a considerar outro capítulo do livro de Hugh P. Jeter. 
2.1. O catálogo bíblico
Às págs. 32 e seguinte, diz o autor:
“Há, de imediato, uma diferença entre a Bíblia católica e a versão protestante. A Bíblia católica inclui no Antigo Testamento os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Siraque, Baruque, e o primeiro e o segundo livros de Macabeus. 

Também há acréscimos aos livros de Ester e Daniel. Essa é a principal diferença entre as duas Bíblias.
Por que os cristãos evangélicos rejeitam esses livros chamados “apócrifos”? A seguir, expomos algumas razões: 

1. Os próprios livros não se dizem inspirados. No segundo livro de Macabeus 15:37-38, lemos: ‘Assim se passaram os acontecimentos relacionados com Nicanor. Como desde aquela época a cidade ficou em poder dos hebreus, eu também terminarei aqui mesmo meu relato. Se foi bem escrito em sua composição, isto é o que eu pretendia; se imperfeito e medíocre, fiz o máximo que me foi possível’.

2. Os livros apócrifos nunca foram citados por Cristo ou pelos apóstolos, mas eles, sem dúvida, citaram muitas partes da Bíblia.

3. O material não mostra nenhuma inspiração. Em 2Macabeus 12:43-45 lemos acerca de uma coleta que devia ser enviada a Jerusalém para que se oferecesse sacrifícios e oferendas pelo pecado e orações pelos mortos… algo que não figura em nenhuma parte das Escrituras.

4. Todos os livros apócrifos foram acrescentados ao Antigo Testamento. Conforme expõe Romanos 3:2, foi ‘confiada a palavra de Deus ao povo judeu’. Portanto, todos deveríamos considerar de suma importância a rejeição desses livros quanto à sua inspiração.”

Eis o que a propósito se pode observar:

5. O fato de que o autor sagrado confesse ter-se esforçado ou mesmo ter penado para escrever seu livro não significa que não usufruiu da inspiração bíblica. Esta não é um ditado mecânico, que dispense o homem de refletir, pesquisar e, em suma, fazer tudo o que deve realizar um bom escritor. A inspiração (que não é revelação) consiste em que Deus ilumine a mente do homem antigo para que, utilizando os dados de sua cultura arcaica, ponha por escrito uma mensagem que corresponde fielmente ao pensamento de Deus, mas não deixa de estar revestida da roupagem humana. Assim, o livro sagrado é, ao mesmo tempo, divino e humano. É através das vicissitudes de uma redação característicamente semita ou grega, portadora de todas as marcas do trabalho humano, que Deus quer falar aos homens. São Lucas o atesta no prólogo do seu Evangelho, quando afirma que, “após acurada investigação de tudo desde o princípio, resolveu escrever” (Lc 1,3).


6. Assim como Jesus e os Apóstolos nunca citaram explicitamente os livros que os protestantes têm por apócrifos e os católicos consideram deuterocanônicos, assim também Jesus e os Apóstolos nunca citaram alguns livros que são unanimemente reconhecidos como canônicos; tal é o caso de Eclesiastes, Ester, Cântico, Esdras, Neemias, Abdias, Naum.

Verificamos também que nos escritos do Novo Testamento há citações implícitas dos livros deuterocanônicos. Assim, por exemplo: Rm 1,19-32;Sb 3,1-9; Rm 13,1; 2,11;Sb 6,4.8; Mt 27,43-;Sb 2,13.18; Tm 1,19;Eclo 4,34; Mt 11,29s;Eclo 51,23-30; Hb 11,34s;2Mac 6,18-7,42.

Nos mais antigos escritos patrísticos são citados os deuterocanônicos como Escritura Sagrada: Clemente Romano (em cerca de 95), na epístola aos Coríntios, recorre a Jt, Sb, fragmentos de Dn, Tb e Eclo; o Pastor de Hermas, em 140, faz amplo uso do Eclo e do 2Mac (cf. Semelhanças 5,3.8; Mandamentos 1,1…); Hipólito (+235) comenta o livro de Daniel com os fragmentos deuterocanônicos; cita como Escritura Sagrada Sb, Br e utiliza Tb e 1/2Mac.

7. O fato de que em 2Mac 12,43-45 se lê algo que “não figura em nenhuma parte das Escrituras” nada significa. O raciocínio de Jeter equivale a uma petição de princípio: o autor quer dizer que 2Mac 12,43-45 não pode ser bíblico porque Jeter de antemão o exclui, eliminando as Escrituras Sagradas o 2º de Macabeus. De resto, não se pode excluir tal livro, datado do século II aC, por apresentar algo que não esteja em livros mais antigos, pois é notório que a Revelação progrediu no Antigo Testamento.

8. O autor parece ignorar que a Bíblia Sagrada continha os sete livros deuterocanônicos ou “apócrifos” até Lutero. Foi Lutero que os eliminou e não foi o Concílio de Trento (1545-1563) que os acrescentou. [...]

2.2. O uso da Bíblia entre os católicos

Às págs 25-32 Hugh P. Jeter se detém em alegar que durante séculos a Igreja restringiu ou proibiu o uso da Bíblia entre os fiéis católicos. [...] [Quanto a esta questão, foi dado um breve resumo acima].

Muitos outros pontos do livro de Hugh P. Jeter poderiam ser considerados, evidenciando-se a sua inconsistência. Em geral, a literatura polêmica protestante, se ressente de preconceitos que obcecam os respectivos autores, e os levam a atribuir à Igreja Católica o que ela jamais disse ou fez. O amor à VERDADE há de ser característica do autêntico Cristão.

De resto, o baixo nível das acusações se depreende de outras objeções propagadas em folhas volantes. 

Assim, por exemplo:

“A 500 anos atrás o Papa mandou ‘matar’ Galileu só porque ele disse que a terra é redonda. A 2.700 anos atrás a Bíblia já dizia que a terra é redonda (Isaías 40:22)”.

Estas frases contêm várias imprecisões, próprias de quem fala sem saber ao certo ao que diz:

• Galileu faleceu em 1642, portanto há pouco mais de 350 anos; faleceu de morte natural. Foi controvertido porque defendia o heliocentrismo, em lugar do geocentrismo. O dêutero-Isaías (Is 40-55) profetizou durante o exílio (587-538 aC), ou seja, há 2.500 anos aproximadamente; ao falar do “ciclo da terra”, não se pode dizer que tinha em vista a esfericidade da terra.

Mais:

“Disse Deus: ‘Não é bom que o homem esteja só, dar-lhe-ei uma mulher’ (Gênesis 2,18). O papa Gregório 7º proibiu o casamento dos padres em 1074 dC”.

• O autor deste texto esquece que São Paulo, após a entrada do Reino do Messias neste mundo, recomenda a vida una ou indivisa; cf. 1Cor 7,25-35. Aliás, estes versículos são geralmente silenciados pelos protestantes quando querem impugnar o celibato. Este foi, a princípio, espontaneamente abraçado pelo clero; só aos poucos foi-se tornando lei.

D. Estêvão Bettencourt

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