Fatos e mitos
O homem e a religião começaram juntos. O primeiro homem estava dotado de poder de raciocínio - pois, como vimos, é esta capacidade que distingue o homem de todos os outros animais. Ainda que possa descender de um antropóide, os antropóides que teriam precedido o primeiro homem não foram seres humanos, por mais que parecessem fisicamente com os homens. Pois o homem não passou a ser homem enquanto Deus não lhe infundiu uma alma espiritual e, com ela, a capacidade de pensar.
É por isso que dizemos que o homem e a religião começaram juntos. A religião passou a existir no mesmo instante em que essa maravilhosa criatura, o homem, passou a exercer a sua capacidade de raciocínio. Partindo de tudo aquilo que podia ver a observar ao seu redor, soube com certeza que existia um Ser infinitamente perfeito ao qual devia obedecer a render homenagem. Assim começou a religião.
Mas, na verdade, o primeiro homem não teve de depender unicamente da razão para poder conhecer a Deus. Se tomarmos a Bíblia como simples documento histórico, prescindindo do ser caráter de livro inspirado, veremos que Deus se revelou pessoalmente ao primeiro homem e à primeira mulher, dando-lhes um conhecimento direto da sua existência e manifestando-lhes quais os deveres que tinham para com Ele.
O testemunho da Bíblia encontra-se, neste ponto, respaldado pelo testemunho da História. A história da raça humana, pacientemente investigada por gerações de historiadores, arqueólogos e etnólogos, mostra que os povos mais antigos criam num Deus único. Foi somente mais tarde que essa crença degenerou em politeísmo. Pode-se comprovar este fato no caso dos povos mais antigos da Grécia, da Itália, do Egito, da Mesopotâmia, para mencionar somente algumas das mais conhecidas civilizações antigas. O que sobrou dos seus escritos e inscrições demonstrara que, no princípio, adoravam um único Ser supremo, e que só depois as suas mentes, obscurecidas pelo pecado original, derivaram para a crença em diversos deuses.
No entanto, o pagão moderno, no seu empenho por fugir de Deus e das responsabilidades morais que a fé traz consigo, inverte resolutamente esse quadro.
Pouco importa o esforço que tenha de fazer para deformar as evidências, pouco importa o esforço que tenha de fazer para prostituir a sua razão: o materialista nega-se a aceitar a Deus, custe o que custar. E assim inventa as mais fantásticas teorias para explicar as origens da religião: dirá que o homem começou por adorar as forças da natureza (fetichismo), a seguir passou a prestar culto a divindades antropomórficas (politeísmo) e, por fim, chegou à adoração de um único Deus (monoteísmo). Esta é, pelo menos, a teoria sobre a origem da religião que se ensina em numerosos cursos de ciências humanas, e até, às vezes , no segundo grau. Deus ajude as pobres vítimas de semelhante ensino.
Seja-me permitido apenas citar um único desses historiadores populares, René Sedillt, autor de uma "História do Mundo". Limitar-me-ei a sublinhar uma única sentença, na qual contradiz frontalmente tudo o que ele próprio afirma. Ficará claro assim que esse autor adotou a sua teoria contra toda a evidência disponível; e veremos até que ponto as explicações materialistas sobre a origem da religião não passam de produtos da auto-ilusão do ateu. A citação, em que omito algumas passagens não pertinentes, é a seguinte:
"As primeiras conquistas do homem na noite escura do seu remoto passado foram aquelas que, mais que todas as outras, começaram a diferencia-lo dos animais.[...] Foram essencialmente três: a linguagem, o fogo e a religião. Não há dúvida de que a humanidade, nas suas origens, desconhecia as palavras, a provisão artificial de calor e a existência de deuses. No entanto, parece ter descoberto muito rapidamente esses três coisas, porque nunca se descobriu nenhuma cultura pré-histórica em que não houvesse evidencias claras de que os seis membros possuíam esses três elementos"
"As primeiras conquistas do homem na noite escura do seu remoto passado foram aquelas que, mais que todas as outras, começaram a diferencia-lo dos animais.[...] Foram essencialmente três: a linguagem, o fogo e a religião. Não há dúvida de que a humanidade, nas suas origens, desconhecia as palavras, a provisão artificial de calor e a existência de deuses. No entanto, parece ter descoberto muito rapidamente esses três coisas, porque nunca se descobriu nenhuma cultura pré-histórica em que não houvesse evidencias claras de que os seis membros possuíam esses três elementos"
Tendo puxado assim o tapete debaixo dos seus próprios pés, o professor continua:
"A religião escravizou muito cedo o coração humano, e desde então o homem nunca mais conseguiu libertar-se desse estado de servidão [...] Os primeiros homens nunca foram capazes de enfrentar o pânico que sentiam diante das forças da natureza e da ameaça dos animais selvagens [..]. O terror converte-se facilmente em adoração [...] Os ritos religiosos surgiram da adoração dos animais, das coisas que cresciam, do incompreensível [...]. Transcorrido algum tempo, passaram a invocar os antepassados mortos, chamando-os em sua ajuda na luta contra os inimigos [...] Com o decorrer dos séculos, o fetichismo gerou o politeísmo que, por sua vez, cedeu o lugar ao monoteísmo, até que finalmente o monoteísmo acabou por ruir diante do avanço do ateísmo. Mas o homem, consciente da sua impotência perante o desconhecido, nunca chegou a renunciar por completo às suas superstições"
Simples, não é verdade? Uma vez que se descobriu a arte da mistificação, como é fácil pratica-la com ar de autoridade!...
"A religião escravizou muito cedo o coração humano, e desde então o homem nunca mais conseguiu libertar-se desse estado de servidão [...] Os primeiros homens nunca foram capazes de enfrentar o pânico que sentiam diante das forças da natureza e da ameaça dos animais selvagens [..]. O terror converte-se facilmente em adoração [...] Os ritos religiosos surgiram da adoração dos animais, das coisas que cresciam, do incompreensível [...]. Transcorrido algum tempo, passaram a invocar os antepassados mortos, chamando-os em sua ajuda na luta contra os inimigos [...] Com o decorrer dos séculos, o fetichismo gerou o politeísmo que, por sua vez, cedeu o lugar ao monoteísmo, até que finalmente o monoteísmo acabou por ruir diante do avanço do ateísmo. Mas o homem, consciente da sua impotência perante o desconhecido, nunca chegou a renunciar por completo às suas superstições"
Simples, não é verdade? Uma vez que se descobriu a arte da mistificação, como é fácil pratica-la com ar de autoridade!...
Razão e Revelação
Ninguém gosta de ser perturbado nos seus momentos de tranquilidade. Com uma constância verdadeiramente exemplar, dedicamo-nos a fazer tudo o que podemos para escapar das tarefas difíceis ou ingratas. Confortavelmente instalado na sua poltrona, depois de um duro dia de trabalho, o marido dirá à mulher: "Será que temos mesmo de ir a essa festa? Não haverá alguma boa desculpa que possamos dar?" Ou a mulher dirá, depois de ter passado a tarde inteira a lavar a roupa: "É, eu deveria ir ao supermercado fazer as compras, mas estou cansada demais; a gente se ajeita com as sobras do almoço"
Estes exemplos tão caseiros bastam para mostrar-nos por que o homem precisava de algo mais do que a simples religião natural. É muito bonito dizer que a nossa razão basta para nos conduzir ao conhecimento de Deus, da sua natureza e dos nossos deveres básicos para com Ele, porque é absolutamente verdade; mas é igualmente verdade que o trabalho intelectual é o tipo mais árduo de trabalho.
Estes exemplos tão caseiros bastam para mostrar-nos por que o homem precisava de algo mais do que a simples religião natural. É muito bonito dizer que a nossa razão basta para nos conduzir ao conhecimento de Deus, da sua natureza e dos nossos deveres básicos para com Ele, porque é absolutamente verdade; mas é igualmente verdade que o trabalho intelectual é o tipo mais árduo de trabalho.
Não é difícil reconhecer a existência de Deus. A não ser que nos tenhamos cegado deliberadamente, o Universo inteiro grita-nos continuadamente: "Alguém me fez! Alguém me fez!" Uma vez estabelecido este ponto, é perfeitamente possível avançarmos passo a passo, pesando as evidências e resolvendo aparentes contradições, até chegarmos a uma compreensão bastante aprofundada da natureza divina. Mas isto custa trabalho, e exige uma inteligência aguda, uma razão reta e um intenso amor pela verdade.
Mesmo que prescindamos da obscuridade do nosso intelecto, consequência do pecado original, teremos de reconhecer que há poucas pessoas dispostas a levar a cabo semelhante esforço. Além disso, entre as que as dispõem a empreender esses estudo, são muitas as que abandonam a tarefa no momento em que começam a vislumbrar para onde o seu raciocínio as conduz, isto é, quando percebem que as suas conclusões interferem com o seu comodismo, os seus divertimentos, o seu amor próprio.
São Paulo resume tudo isto numas poucas palavras da Epístola aos Romanos: "Com efeito, o invisível de Deus - o seu poder eterno a e sua divindade -, desde a criação do mundo, tornou-se visível à inteligência por meio das suas obras, de forma que [os pagãos] são inexcusáveis. Porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, ofuscaram-se nos seus vãos pensamentos e obscureceu-se o seu coração insensato" (Rom 1, 20-210)
Assim vemos por que foi necessário que Deus voltasse a entrar em cena e nos estendesse a mão. Era necessário para que pudéssemos alcançar o destino a que nos havia destinado: a sua glória e, concomitantemente, a nossa felicidade. Noutras palavras, precisávamos que Deus ensinasse, de maneira clara e taxativa, aquelas coisas que temos de saber e aquelas outras que nos convém saber para cumprirmos a sua Vontade e atingirmos a união eterna com Ele.
Não há nenhuma razão pela qual pela qual Deus não devesse falar-nos, se assim lhe convinha. Um grande sábio que se inclina sobre uma criança ignorante para instruí-la, não se está com isso rebaixando de maneira alguma. Da mesma forma, não constitui nenhum ataque à dignidade de Deus, pensar que o Criador possa inclinar-se sobre nós, que somos criaturas suas, para instruir-nos.
Pois foi exatamente o que Ele fez: "afastou o véu"que nos separava d Ele. Isto é o que significa o verbo latino revelare: "afastar o véu". Daí deriva a palavra " Revelação", que designa todas as verdades que Deus nos deu a conhecer a seu respeito.
Quando um amigo nos conta algo de pessoal que não conhecíamos, dizemos que nos fez uma "revelação", mas uma revelação humana. Quando é Deus quem nos conta alguma coisa, falamos de "Revelação divina". E quando se trata de alguma verdade que a razão humana jamais teria sido capaz de descobrir pelas suas próprias forças, de algo situado muito acima e muito além das capacidades da natureza humana, falamos de revelação sobrenatural. Um exemplo deste último tipo de verdades é o mistério da Santíssima Trindade, de Deus ter uma única natureza em três Pessoas.
Na realidade, porém, Deus não se limitou a revelar-nos apenas aquelas verdades que a mente humana nunca teria sido capaz de descobrir. Tendo em conta a fraqueza da nossa razão, quis proteger-nos das consequências da nossa debilidade revelando-nos também muitas verdades que deveríamos poder descobrir pela nossa própria capacidade, como por exemplo a sua existência, a sua natureza espiritual, a sua infinita Perfeição, Eternidade e Onipotência.
Evidentemente, apesar de Deus nos ter falado realmente, não é razoável que esperemos compreende-lo plenamente, tal como é em si mesmo. Seria o mesmo que pretender enfiar o sol numa xícara de chá. A mente humana é criada e não consegue ultrapassar determinados limites, ao passo que Deus é infinito. Portanto, o conhecimento que temos d Ele será necessariamente imperfeito, o que não significa que seja incorreto. O pouco que somos capazes de compreender é verdadeiro, mas está muito longe de ser toda a verdade. Da mesma forma, por mais fiel que seja a fotografia de uma bela paisagem publicado no suplemento de turismo do jornal, sempre será muito inferior à paisagem real.
Por isso, quantas gratas surpresas não nos esperam o Céu!
Mesmo que prescindamos da obscuridade do nosso intelecto, consequência do pecado original, teremos de reconhecer que há poucas pessoas dispostas a levar a cabo semelhante esforço. Além disso, entre as que as dispõem a empreender esses estudo, são muitas as que abandonam a tarefa no momento em que começam a vislumbrar para onde o seu raciocínio as conduz, isto é, quando percebem que as suas conclusões interferem com o seu comodismo, os seus divertimentos, o seu amor próprio.
São Paulo resume tudo isto numas poucas palavras da Epístola aos Romanos: "Com efeito, o invisível de Deus - o seu poder eterno a e sua divindade -, desde a criação do mundo, tornou-se visível à inteligência por meio das suas obras, de forma que [os pagãos] são inexcusáveis. Porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, ofuscaram-se nos seus vãos pensamentos e obscureceu-se o seu coração insensato" (Rom 1, 20-210)
Assim vemos por que foi necessário que Deus voltasse a entrar em cena e nos estendesse a mão. Era necessário para que pudéssemos alcançar o destino a que nos havia destinado: a sua glória e, concomitantemente, a nossa felicidade. Noutras palavras, precisávamos que Deus ensinasse, de maneira clara e taxativa, aquelas coisas que temos de saber e aquelas outras que nos convém saber para cumprirmos a sua Vontade e atingirmos a união eterna com Ele.
Não há nenhuma razão pela qual pela qual Deus não devesse falar-nos, se assim lhe convinha. Um grande sábio que se inclina sobre uma criança ignorante para instruí-la, não se está com isso rebaixando de maneira alguma. Da mesma forma, não constitui nenhum ataque à dignidade de Deus, pensar que o Criador possa inclinar-se sobre nós, que somos criaturas suas, para instruir-nos.
Pois foi exatamente o que Ele fez: "afastou o véu"que nos separava d Ele. Isto é o que significa o verbo latino revelare: "afastar o véu". Daí deriva a palavra " Revelação", que designa todas as verdades que Deus nos deu a conhecer a seu respeito.
Quando um amigo nos conta algo de pessoal que não conhecíamos, dizemos que nos fez uma "revelação", mas uma revelação humana. Quando é Deus quem nos conta alguma coisa, falamos de "Revelação divina". E quando se trata de alguma verdade que a razão humana jamais teria sido capaz de descobrir pelas suas próprias forças, de algo situado muito acima e muito além das capacidades da natureza humana, falamos de revelação sobrenatural. Um exemplo deste último tipo de verdades é o mistério da Santíssima Trindade, de Deus ter uma única natureza em três Pessoas.
Na realidade, porém, Deus não se limitou a revelar-nos apenas aquelas verdades que a mente humana nunca teria sido capaz de descobrir. Tendo em conta a fraqueza da nossa razão, quis proteger-nos das consequências da nossa debilidade revelando-nos também muitas verdades que deveríamos poder descobrir pela nossa própria capacidade, como por exemplo a sua existência, a sua natureza espiritual, a sua infinita Perfeição, Eternidade e Onipotência.
Evidentemente, apesar de Deus nos ter falado realmente, não é razoável que esperemos compreende-lo plenamente, tal como é em si mesmo. Seria o mesmo que pretender enfiar o sol numa xícara de chá. A mente humana é criada e não consegue ultrapassar determinados limites, ao passo que Deus é infinito. Portanto, o conhecimento que temos d Ele será necessariamente imperfeito, o que não significa que seja incorreto. O pouco que somos capazes de compreender é verdadeiro, mas está muito longe de ser toda a verdade. Da mesma forma, por mais fiel que seja a fotografia de uma bela paisagem publicado no suplemento de turismo do jornal, sempre será muito inferior à paisagem real.
Por isso, quantas gratas surpresas não nos esperam o Céu!
Fonte: A sabedoria do Cristão
1 - O Cristão e o descrente
2 - As Razões de nossa Esperança
3 - Deus existe? do nada, nada se cria
4 - Razão, Ordem e Evolução
5 - Que é o homem? Criação ou Evolução?
6 - Imortal e Livre
7 - Por que devo ter uma religião?
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