
Discurso do óbvio, porque é bastante evidente para qualquer pessoa que não viva no mundo lunático das classes [ditas] “intelectuais” brasileiras que os brasileiros, não obstante apresentem uma enorme tolerância a uma vasta gama de comportamentos dissolutos [segundo a Veja, «o brasileiro não tem restrições em lidar com homossexuais no seu dia a dia, tais como profissionais ou amigos que se assumam gays»], mesmo assim mantêm clara a separação entre o certo e o errado e não aceitam que o Estado possa promover ou beneficiar um padrão de comportamento imoral [«mas ainda se mostra resistente a medidas que possam denotar algum tipo de apoio da sociedade a essa questão, como o caso da institucionalização da união estável ou o direto à adoção de crianças»].
Sem restrições aos homossexuais, mas resistente à agenda subversiva gayzista: eis a sociedade brasileira. Em um único golpe, os brasileiros nem são homofóbicos e nem são pró-gays. Exatamente as duas mentiras que o Movimento Gay gosta de alardear (como se aliás fosse possível os brasileiros terem preconceito contra os gays e, ao mesmo tempo, a institucionalização da “união homoafetiva” pelo STF estar em perfeita sintonia com os anseios da população brasileira!). Até aqui, o discurso do óbvio, que provavelmente fez os gayzistas espumarem de ódio contra a realidade dos fatos.
Agora, a parte cretina: segundo a matéria da Veja, a “culpa” desta visão “retrógrada” da sociedade brasileira é do machismo, da velhice, da pobreza, da ignorância e da religião. Pois a revista cita, destacando os números:
- 63% dos homens são contra, enquanto 48% das mulheres têm a mesma opinião.
- Entre os jovens de 16 a 24 anos, 60% são favoráveis. Já os maiores de 50 anos são majoritariamente contrários (73%).
- Territorialmente, as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste dividem a mesma opinião: 60% são contra. - No Sul, 54% são contra e, no Sudeste, o índice cai para 51%.
- Entre as pessoas com formação até a quarta série do fundamental, 68% são contra. Na parcela da população com nível superior, apenas 40% desaprovam a medida.
- Protestantes e evangélicos são os que se mostram mais resistente: apenas 23% se dizem favoráveis à iniciativa do STF.
Ou seja: esta “intolerância” brasileira é uma alguma coisa de inadmissível e que só permanece graças à influência nefasta do atraso econômico, do conservadorismo estéril, do machismo, da falta de educação e do cristianismo. O homem nordestino semi-analfabeto pobre e cristão é, segundo a nossa imprensa, uma hipóstase múltipla entre a natureza humana e a legião dos Males que assombram o Brasil. Faltou só acrescentar com todas as letras: “e deve ser eliminado”. Mas é até desnecessário, porque a conclusão de que esta espécie inferior de cidadão deve deixar de existir está mais do que clara no teor da reportagem. Chega a ser impressionante o cinismo destes que pretendem combater um “ódio” inexistente com uma linguagem que, esta sim, destila ódio e preconceito do primeiro ao último parágrafo.
Jorge Ferraz é o autor do blog Deus lo Vult
“A ação direta do papa Pio XII salvou a vida de mais de 11.400 judeus”, explica Krupp. “Na manhã de 16 de outubro de 1943, quando o papa soube da prisão dos judeus, enviou imediatamente um protesto oficial vaticano ao embaixador alemão, que sabia que não teria resultado algum. O pontífice mandou então seu sobrinho, o príncipe Carlo Pacelli, até o bispo austríaco Alois Hudal, cabeça da igreja nacional alemã em Roma, que, conforme relatos, tinha boas relações com os nazistas. O príncipe Pacelli disse a Hudal que tinha sido enviado pelo papa e que Hudal devia escrever uma carta ao governador alemão de Roma, o general Stahel, pedindo que as prisões fossem canceladas”.
A carta do bispo Hudal ao Generale Stahel dizia: “Precisamente agora, uma fonte vaticana [...] me informou que nesta manhã começou a prisão dos judeus de nacionalidade italiana. No interesse de um diálogo pacífico entre o Vaticano e o comando militar alemão, peço-lhe urgentemente que dê ordem para parar imediatamente estas prisões em Roma e nas regiões circundantes. A reputação da Alemanha nos países estrangeiros exige esta medida, assim como o perigo de que o papa proteste abertamente”.
A carta foi entregue em mãos ao general Stahel por um emissário de confiança do papa Pio XII, o sacerdote alemão Pancratius Pfeiffer, superior geral da Sociedade do Divino Salvador, que conhecia Stahel pessoalmente.
Na manhã seguinte, o general respondeu ao telefone: “Transmiti imediatamente a questão à Gestapo local e a Himmler pessoalmente. E Himmler ordenou que, considerado o status especial de Roma, as prisões sejam interrompidas imediatamente”.
Estes fatos são confirmados também pelo testemunho obtido durante a pesquisa do relator da causa de beatificação de Pio XII, o padre jesuíta Peter Gumpel.
Gumpel declarou ter falado pessoalmente com o general Dietrich Beelitz, que era o oficial de ligação entre o escritório de Kesselring e o comando de Hitler. O general Beelitz ouviu a conversa telefônica entre Stahel e Himmler e confirmou que o general Stahel tinha usado com Himmler a ameaça de um fracasso militar se as prisões continuassem.
Institutos religiosos isentos de inspeções nazistas
Gary Krupp, diretor geral da Pave the Way, comentou que a fundação “investiu grandes recursos para obter e difundir publicamente todas estas informações para historiadores e peritos. Curiosamente, nenhum dos maiores críticos do papa Pio XII se deu ao trabalho de vir até os Arquivos Vaticanos abertos (e abertos completamente, desde 2006, até o ano de 1939) para fazer estudos originais. Também não consultaram o nosso site gratuito”.
Elliot Hershberg, presidente da Pave the Way Foundation, acrescenta: “No serviço de nossa missão, nos empenhamos em tentar oferecer uma solução para esta controvérsia, que atinge mais de 1 bilhão de pessoas”.

Dados publicados pela fundação Pave the Way.
Por Jesús Colina.
Por Jesús Colina.
Conforme documentação descoberta recentemente por historiadores, a ação direta do papa Pio XII salvou a vida de mais de 11.000 judeus em Roma durante a II Guerra Mundial.
O representante da fundação Pave the Way na Alemanha, o historiador e pesquisador Michael Hesemann, descobriu muitos documentos originais de grande importância ao pesquisar os arquivos da igreja de Santa Maria dell'Anima, a igreja nacional da Alemanha em Roma.
A Pave the Way, com sede nos Estados Unidos, fundada pelo judeu Gary Krupp, anunciou o achado em declaração enviada a ZENIT.
“Muitos criticaram Pio XII por guardar silêncio durante as prisões e quando os trens partiram de Roma com 1.007 judeus, que foram enviados para o campo de concentração de Auschwitz”, declarou Krupp. “Os críticos não reconhecem nem sequer a intervenção direta de Pio XII para dar fim às prisões, em 16 de outubro de 1943”.
“Novos achados provam que Pio XII agiu diretamente nos bastidores para impedir as prisões às 2 horas da tarde do mesmo dia em que elas começaram, mas não conseguiu deter o trem que tinha aquele destino tão cruel”, acrescentou.
Segundo um estudo recente do pesquisador Dominiek Oversteyns, havia em Roma 12.428 judeus no dia 16 de outubro de 1943.
O representante da fundação Pave the Way na Alemanha, o historiador e pesquisador Michael Hesemann, descobriu muitos documentos originais de grande importância ao pesquisar os arquivos da igreja de Santa Maria dell'Anima, a igreja nacional da Alemanha em Roma.
A Pave the Way, com sede nos Estados Unidos, fundada pelo judeu Gary Krupp, anunciou o achado em declaração enviada a ZENIT.
“Muitos criticaram Pio XII por guardar silêncio durante as prisões e quando os trens partiram de Roma com 1.007 judeus, que foram enviados para o campo de concentração de Auschwitz”, declarou Krupp. “Os críticos não reconhecem nem sequer a intervenção direta de Pio XII para dar fim às prisões, em 16 de outubro de 1943”.
“Novos achados provam que Pio XII agiu diretamente nos bastidores para impedir as prisões às 2 horas da tarde do mesmo dia em que elas começaram, mas não conseguiu deter o trem que tinha aquele destino tão cruel”, acrescentou.
Segundo um estudo recente do pesquisador Dominiek Oversteyns, havia em Roma 12.428 judeus no dia 16 de outubro de 1943.
“A ação direta do papa Pio XII salvou a vida de mais de 11.400 judeus”, explica Krupp. “Na manhã de 16 de outubro de 1943, quando o papa soube da prisão dos judeus, enviou imediatamente um protesto oficial vaticano ao embaixador alemão, que sabia que não teria resultado algum. O pontífice mandou então seu sobrinho, o príncipe Carlo Pacelli, até o bispo austríaco Alois Hudal, cabeça da igreja nacional alemã em Roma, que, conforme relatos, tinha boas relações com os nazistas. O príncipe Pacelli disse a Hudal que tinha sido enviado pelo papa e que Hudal devia escrever uma carta ao governador alemão de Roma, o general Stahel, pedindo que as prisões fossem canceladas”.
A carta do bispo Hudal ao Generale Stahel dizia: “Precisamente agora, uma fonte vaticana [...] me informou que nesta manhã começou a prisão dos judeus de nacionalidade italiana. No interesse de um diálogo pacífico entre o Vaticano e o comando militar alemão, peço-lhe urgentemente que dê ordem para parar imediatamente estas prisões em Roma e nas regiões circundantes. A reputação da Alemanha nos países estrangeiros exige esta medida, assim como o perigo de que o papa proteste abertamente”.
A carta foi entregue em mãos ao general Stahel por um emissário de confiança do papa Pio XII, o sacerdote alemão Pancratius Pfeiffer, superior geral da Sociedade do Divino Salvador, que conhecia Stahel pessoalmente.
Na manhã seguinte, o general respondeu ao telefone: “Transmiti imediatamente a questão à Gestapo local e a Himmler pessoalmente. E Himmler ordenou que, considerado o status especial de Roma, as prisões sejam interrompidas imediatamente”.
Estes fatos são confirmados também pelo testemunho obtido durante a pesquisa do relator da causa de beatificação de Pio XII, o padre jesuíta Peter Gumpel.
Gumpel declarou ter falado pessoalmente com o general Dietrich Beelitz, que era o oficial de ligação entre o escritório de Kesselring e o comando de Hitler. O general Beelitz ouviu a conversa telefônica entre Stahel e Himmler e confirmou que o general Stahel tinha usado com Himmler a ameaça de um fracasso militar se as prisões continuassem.
Institutos religiosos isentos de inspeções nazistas
Outro documento, “As ações para salvar inumeráveis pessoas da nação judaica”, afirma que o bispo Hudal conseguiu, através dos contatos com Stahel e com o coronel von Veltheim, que “550 instituições e colégios religiosos ficassem isentos de inspeções e visitas da polícia militar alemã”.Só numa destas estruturas, o Instituto San Giuseppe, 80 judeus estavam escondidos.
A nota menciona também a participação “em grande medida” do príncipe Carlo Pacelli, sobrinho de Pio XII. “Os soldados alemães eram muito disciplinados e respeitavam a assinatura de um alto oficial alemão... Milhares de judeus locais em Roma, Assis, Loreto, Pádua e outras cidades foram salvos graças a esta declaração”.
Michael Hesemann afirma que é óbvio que qualquer protesto público do papa quando o trem partiu teria provocado o recomeço das prisões.
Ele ainda explica que a fundação Pave the Way tem no seu site a ordem original das SS de prender 8.000 judeus romanos, que deveriam ser enviados para o campo de trabalho de Mauthausen e ser retidos como reféns, e não para o campo de concentração de Auschwitz. Pode-se pensar que o Vaticano acreditasse em negociar a libertação deles.
Soube-se também que o Vaticano reconheceu que o bispo Hudal ajudou alguns criminosos de guerra nazistas a fugir da prisão no fim do conflito.
Por causa de sua postura política, o bispo era persona non grata no Vaticano, e foi repreendido por escrito pelo secretário de Estado vaticano, o cardeal Giovanni Battista Montini (futuro papa Paulo VI), por sugerir que o Vaticano ajudasse os nazistas a fugir.
Gary Krupp, diretor geral da Pave the Way, comentou que a fundação “investiu grandes recursos para obter e difundir publicamente todas estas informações para historiadores e peritos. Curiosamente, nenhum dos maiores críticos do papa Pio XII se deu ao trabalho de vir até os Arquivos Vaticanos abertos (e abertos completamente, desde 2006, até o ano de 1939) para fazer estudos originais. Também não consultaram o nosso site gratuito”.
Krupp afirma ter a sincera esperança de que os representantes dos peritos da comunidade judaica romana pesquisem o material original, que se encontra a poucos passos de sua casa.
“Creio que descobriram que mesma existência hoje da que o papa Pio XII chamava ‘esta vibrante comunidade’ deve-se aos esforços secretos deste papa para salvar cada vida”, disse. “Pio XII fez o que pôde, quando estava sob a ameaça de invasão, de morte, cercado por forças hostis e com espiões infiltrados”.
Elliot Hershberg, presidente da Pave the Way Foundation, acrescenta: “No serviço de nossa missão, nos empenhamos em tentar oferecer uma solução para esta controvérsia, que atinge mais de 1 bilhão de pessoas”.
“Temos usado nossos links internacionais para obter e inserir em nosso site 46.000 páginas de documentos originais, artigos originais, testemunhos oculares e entrevistas com especialistas para oferecer esta documentação pronta a historiadores e especialistas.”
“A publicidade internacional deste projeto tem levado, a cada semana, nova documentação, que mostra como estamos nos movendo para eliminar o bloqueio acadêmico que existe desde 1963.”
A Inquisição em seu mundo

Por Eduardo Moreira.
Introdução:
A Inquisição é o tema mais usado para atacar a Igreja Católica. Mesmo os protestantes, que em nada ficam atrás da Igreja quando se trata de intolerância naquelas épocas usam esse tema para promover ofensivas contra os católicos, ignorando que também houve inquisições e chacinas protestantes muito mais cruéis que aquelas cometidas pela Santa Igreja.
As pessoas que promovem os ataques também ignoram o contexto social no qual nasceu a Inquisição. Ignoram que esse episódio se deu em uma época onde a Religião Católica era o sumo bem do povo que em geral era embrutecido pela barbárie ainda tão recente na Europa. Nesse texto, abordaremos com base nos livros de João Bernardino Gonzaga (A Inquisição em seu mundo) e Felipe Rinaldo de Aquino (Para entender a Inquisição) a Inquisição como ela tem que ser abordada, isto é, em seu contexto histórico, político e social.
O homem medieval:
A Idade Média foi uma época difícil. A desigualdade social era muito grande, povos recém cristianizados ainda eram embrutecidos pela barbárie, pelos cultos antigos e pelo código de direito vigente, o Código de Direito Germânico. O sagrado e o profano se misturavam, a expectativa de vida da população era baixa, sendo que os pobres viviam no máximo até os 26 anos, os nobres raramente ultrapassavam os 40 anos e as pessoas mais resistentes dificilmente chegariam aos 58 anos.
O homem medieval era um homem bruto. Não existiam os costumes humanistas que temos hoje. As pessoas eram de um modo geral, incultas e sem muito medo da morte e da dor. Para se ter uma idéia, as poucas cirurgias que existiam eram todas feitas sem anestesia, amputavam-se membros com a pessoa sentindo dores terríveis e os riscos de infecções eram grandes. Ferimentos que exigiam esses procedimentos eram comuns pelos mais diversos fatores como pestes, guerras e crimes cometidos por parte de assaltantes.
Guerras eram bastante comuns. Não havia autoridades policiais como hoje. Devido às condições precárias de higiene, pestes surgiam a todo o tempo. A escassez de alimento também assolava a população, sendo que não raro, em cercos de guerra os vivos tiveram que comer cadáveres e raízes de árvores para sobreviverem. Também entre uma e outra guerra surgia o problema dos soldados. Desempregados entre as guerras, estes viviam de saques, o que tornava as estradas e florestas locais tão perigosos que poucas pessoas se aventuravam a andar sozinhas nos mesmos.
A mortalidade infantil era bastante alta. Não se existia a ciência como hoje. O povo recém cristianizado arrastava ainda os costumes de religiões pagãs onde não havia nenhuma piedade. É bom lembrar que a Igreja Católica foi quem trouxe a Inquisição, mas foi quem trouxe também as instituições de caridade, os orfanatos e os hospitais ao mundo (AQUINO, F., Uma História que não é contada, 3ª ed., Editora Cleófas, 2003).
Os homens tinham a divindade como máximo bem, centro de tudo. Nas situações de perigo constante em que viviam o ser humano confiava sua vida, suas dificuldades e doenças à Deus, única esperança da sociedade medieval ainda tão pouco evoluída. Essa é a sociedade teocentrista, onde tudo é para e por Deus, o sumo bem dos homens.
No mundo teocentrista, o crime de maior gravidade é aquele que lesa a majestade divina, ou seja, ninguém podia falar nada contra as coisas sagradas ou contra Deus. Conta-se que certo herege chamado Pedro Valdo fez uma fogueira de cruzes e para assar carne em plena Sexta-Feira da Paixão. O povo enfurecido por causa de tamanha profanação assou Pedro Valdo ao invés da carne naquela fogueira.
Era esse o homem medieval, zeloso pela religião, bruto e acostumado com a dor e a morte. Relatos históricos mostram que os homens dessa época suportavam o que hoje consideramos terríveis torturas e não temiam a esses castigos pelo simples fato de que a só vida já era dura demais. Além de tudo, os homens da Idade Média eram regidos por um rei e esse rei, não raras vezes, se julgava no direito de dizer o que era ou não heresia. Havia pelo princípio germânico a noção de que a Religião do rei era a Religião do povo.
A heresia era punida pelo estado com pena de morte, mesmo sem nenhuma aprovação da Igreja. Por tal é bom separar em uma análise da Inquisição a Igreja do Estado, muito embora isso seja difícil, pois nessa época os poderes religioso e político praticamente se sobrepunham.
Os antecedentes da Inquisição:
A Inquisição como ouvimos falar surgiu em meados do século XIII. Aconteceu que naquela época as investiduras leigas haviam caído. Os reis não tinham mais tanto poder para investir membros do clero, que por sua vez, estava retomando seu poder pleno. Os reis julgavam muitas vezes de forma injusta as heresias, pois não tinham conhecimento teológico para tal.
A teologia, como toda ciência, ainda estava engatinhando. Ela por sua vez tinha muito misticismo, fruto da influência da sociedade, da qual o clero não estava isolado, pois era daí que saiam os servos de Deus. É um erro pensar que a Igreja era uma instituição a parte, intelectualmente acelerada que não acreditava nas convicções que professava, mas as impunha para manter o poder. A Igreja cria tanto quanto a população nas suas convicções e justamente por isso toda ela pregava o que pensava.
Do misticismo medieval nem mesmo os reformadores que se julgam aqueles que retornaram à fé cristã primitiva estavam livres. Lutero, por exemplo, era de uma família de camponeses que cria em duendes e outras criaturas místicas. O misticismo acerca de Lutero e Calvino era tamanho que muitas vezes os dois chegaram a declarar que jamais sentiram o perdão de Deus, mesmo depois de se arrependerem amargamente de seus pecados.
Nos séculos onde se desenvolveu a Inquisição, conforme já dito, tanto a população quanto os reis vinham fazendo julgamentos, não raro injustos, para deter quem eles julgavam hereges.
Como o misticismo era ainda elevado e havia as crenças remanescentes das culturas anteriores, os homens medievais muitas vezes criam em histórias macabras de bruxaria. Com isso as pessoas se iravam contra mulheres que, inocentes ou não, acabavam mortas com ou sem o consentimento da Igreja. Os membros da Igreja eram tidos muitas vezes como benevolentes demais com os hereges.
Por muitas vezes as pessoas invadiam presídios e raptavam presos em julgamento por heresia para executá-los de forma bárbara e cruel. É fato que a Igreja relaxou várias pessoas ao braço secular para que fossem executadas, mas é fato também que a Igreja foi um órgão de muita tolerância no cenário medieval.
Nesse contexto, remanescentes dos maniqueus, crença herética dualística desviada do cristianismo primitivo, emigraram para o sul da França, precisamente para cidade de Albi. É importante falar quem eram os maniqueus. Santo Agostinho mesmo foi maniqueu, mas em decorrência das orações de sua mãe, Santa Mônica, Santo Agostinho se converteu ao catolicismo. Esse santo argumentou bravamente contra os hereges maniqueus que pela ação agostiniana quase foram extintos.
Os maniqueus em Albi ganharam então o nome de albingenses ou cátaros (termo que soberbamente significa puro). Infelizmente, foram a corrupção e os maus exemplos do clero que instigaram as grandes heresias. Esses hereges ao verem a situação deplorável de certos membros do clero, acabavam desejando de forma obsessiva, orgulhosa e doentia a pureza. Geralmente, as grandes heresias consistem em um núcleo de verdade coberto por uma casca de mentira. Quanto mais forte o núcleo de verdade, mais difícil é de se quebrar a heresia.
Os cátaros pregavam que existiam dois deuses. Segundo eles, o deus que se apresentou a Moisés era um deus perverso que havia aprisionado o deus bom na matéria. Cristo seria, pois, um anjo que teria revelado o deus bom pregando um desapego a matéria, pois essa foi criada pelo deus mau. Segundo os cátaros, o deus do bem estava em toda a matéria e deveria ser liberto por uma espécie de esoterismo, um conhecimento oculto das criaturas. Portanto, nada que é matéria poderia ser bom. Essa é a doutrina pessimista da Gnose.
As conseqüências desse pensamento foram desastrosas. Os cátaros pregavam a pobreza, o desapego total a tudo que é matéria. Proibiam o casamento, pois os filhos eram a perpetuação da desgraça proveniente da matéria, que em si é má. Eram fanáticos e infiltraram-se na Igreja de forma oculta, tomando mosteiros, pessoas do alto clero, universidades e vários outros órgãos. Chegaram a criar dioceses com bispos e sacerdotes. Mesmo a nobreza em parte adotou ao catarismo que crescia as escondidas como uma planta parasita que matava a grande árvore, que é a Igreja.
A Inquisição em si:
Em princípio, a Igreja quis converter os cátaros conforme ensinavam Santo Agostinho e São João Crisóstomo, ou seja, só por pregações. Entretanto, esses mesmos santos haviam dito que a tortura pode ser usada quando não há outro recurso.
Como a pregação estava sendo impossibilitada pelos cátaros, que inclusive chegaram a matar pregadores, a Igreja foi forçada a agir por outros meios. Vale lembrar que os historiadores, em geral, são unânimes quando falam sobre o catarismo. As conseqüências da Inquisição foram graves, mas se o catarismo tivesse se estendido suas conseqüências teriam sido muito piores. Nesse contexto dos historiadores está Henry Charles Lea, protestante hostil a Igreja que apesar dos pesares fala que a causa da ortodoxia contra os cátaros não foi senão a causa da sociedade e do bom senso.
Os cátaros tinham rituais próprios, inclusive “missas”. Em alguns rituais os cátaros se envolviam sexualmente e o fruto dessas relações ao completar oito dias era queimado vivo em uma fogueira. As cinzas do recém nascido eram então adoradas pelos cátaros. Para eles, a reencarnação era a forma de purificação. Com sucessivas reencarnações o ser humano se tornaria puro e voltaria a ser a divindade puramente espiritual que fora um dia.
A Inquisição propriamente dita nasceu em Laguedoc, sul da França no ano de 1184. Todavia, a Inquisição no início não era como se tem hoje. Não havia tribunais fixos, mas sim tribunais convocados. Não havia pena de morte ou tortura. Essas só foram instituídas mais tarde sendo primeiro instaurada a tortura e depois a pena de morte, que era executada pelo estado. Essas penas só foram impostas porque as pregações não surtiram efeito.
Entre 1209 e 1244 o Papa Inocêncio III convocou então as cruzadas contra os cáltaros ou cruzada albingense, sob apoio do nobre herói católico e nobre Simão de Montfort. É importante lembrar que entre os cátaros também era comum o suicídio que visava libertar a alma da matéria (que era tida como ruim). Esse suicídio “sagrado” era chamado de Endura.
Nesse contexto nasceu a Inquisição. Sob a suspeita de heresia a Inquisição era convocada para julgar o caso. É importante falar que embora na nossa concepção atual matar um herege seja errado naquela época não era assim. Tanto os católicos como os hereges achavam normal matar alguém que negasse a fé. A pena de morte também não é anti-bíblica, sendo que São Paulo reconhece que o estado tem autoridade de aplicá-la quando necessário (Cf. Rm. 13).
Importante também é dizer que a Inquisição não era um tribunal algoz, cheio de sarcasmo que matava qualquer um por qualquer coisa sem o menor cuidado. A Inquisição organizava e arquivava processos e a pena de morte era o último recurso a ser usado, pois o objetivo desses tribunais não era matar, mas sim converter os hereges.
Apenas os hereges eram pegos pela Inquisição. Judeus, mulçumanos e outros que jamais haviam sido batizados não podiam ser julgados por esses tribunais. Se o foram em algum período, foi fora das normas estabelecidas pela Igreja. Isso ocorreu nas Inquisições Espanhola e Portuguesa, mas essas são chamadas de Inquisições Régias, pois eram muito mais ligadas ao poder da monarquia desses países e não da Igreja.
Devido à dureza do homem medieval, é perfeitamente compreensível que se apliquem a pena de morte e a tortura, tendo em vista que a justiça da época além de ser embrutecida pelo Código de Direito Germânico, ainda não contava com instrumentos de perícia policial para adquirir provas como hoje.
Os recursos empregados para se incriminar alguém então eram os mais absurdos possíveis para a mentalidade de hoje. A tortura (no Direito Romano), a confissão do réu, os testemunhos e por parte do estado também duelos e os ordálios (no Direito Germânico). Nesses dois últimos casos, se o réu sobrevivesse ou se não se infeccionasse por algum tormento intencionalmente provocado, os medievais consideravam isso como um sinal de que Deus estava em defesa dele. Entretanto, essa prática era condenada pela Igreja que lutou de todas as formas para substituir o Código de Direito Germânico pelo Código de Direito Romano, mais racional, mas que utilizava a tortura.
A admissão da tortura pela Igreja também tinha condições. A tortura não podia mutilar membros ou torná-los tão degradados que necessitassem ser amputados, não podia passar de uma hora e deveria ser feita com acompanhamento médico para dizer até onde poderia ir o suplício. Só em último caso aplicava-se a tortura legalmente. O clero não podia torturar ou matar alguém e assim foi durante toda a Inquisição, mas deveria estar com o sangue pronto para ser derramado pela fé.
Mesmo os algozes e inquisidores deveriam ser pessoas de índole e pessoas piedosas. Quando algum algoz ou inquisidor fugia a regra, ele deveria ser punido, muitas vezes pela Inquisição. Quanto à pena de morte, ela passou a ser empregada só mais tardiamente, quando viram que as repressões usadas não surtiam efeito. Era o estado e não a Igreja que executava a pena de morte, que não é anti-bíblica.
O herege que não se retratava pela Inquisição era convidado a se calar. Só quando o herege insistia em seu erro é que ele era morto, mas a pena de morte poderia ser por pura iniciativa do estado ou por pedido da Igreja. Além do mais, a Inquisição é tida na história, ao contrário do que muitos pensam, como um progresso no direito civil.
Para se ter uma idéia, foram relaxados ao braço secular apenas 1,8% dos casos de bruxaria julgados pela Inquisição. Quando o estado agia cerca de 48,2% dos casos de bruxaria foram executados. As cadeias antes eram lugares horríveis, sem ventilação e iluminação, com péssimas condições de higiene. Foi a Inquisição, para exercitar a penitência dos fiéis que criou as chamadas penitenciárias que por sua vez eram lugares bem arejados, iluminados e com certeza muito mais higienizados que as cadeias do estado. Daí vem o nome penitenciária, do nome penitência, pois as penitenciárias eram lugares para exercitar o arrependimento dos infiéis.
Não só a pena de morte era utilizada, peregrinações e outras formas de penitências poderiam ser impostas. Além do mais, não era só a pena de morte pela fogueira que era empregada, havia também outras formas de se matar os hereges.
Vale lembrar que naquela época, a religião do rei era a religião do povo. Depois da queda do Império Romano, como a única instituição organizada que havia no ocidente era a Igreja Católica, ela teve que agir para que os bárbaros não acabassem com tudo. Se a Igreja não tivesse agido, provavelmente as conseqüências teriam sido bem piores. Foi graças à Igreja que toda a cultura helênica e romana foi salva das destruições dos bárbaros.
Os bárbaros passavam saqueando tudo e causavam destruição e dor por onde passavam. Foi a Igreja quem salvou os tesouros das culturas antigas. Foi justamente por ter guardado isso que foi possível que a própria Igreja restaurasse o racionalismo que ganhou o nome de Renascença.
Hoje em dia se fala (com exageros) em milhões de mortes causadas pela Inquisição. Fecham-se os olhos para as 100.000.000 de vítimas do comunismo que agiu por apenas 50 anos. O número de mortos pela Inquisição Espanhola, a mais sangrenta de todas e com grandes participações do estado, certamente não chegou a 5.000 em seus seis séculos de existência.
A Inquisição Anglicana na Inglaterra matou em sua história mais que toda a Inquisição Católica. Entretanto os professores de história e os grandes “intelectuais” carregados com seus pensamentos marxistas acusam apenas a Igreja Católica de carnificina.
E não para por aí. No Brasil, gêmeos e crianças deficientes indígenas são enterradas vivas com freqüência em nome da “cultura”. Basta que um pajé declare que aquela criança não tem alma. Entretanto, para esses “pensadores” as atrocidades em nome da cultura são justificáveis.
Também as atrocidades em nome da liberdade de expressão e opinião são toleradas, exceto quando o pensamento tem fundo religioso cristão-católico. Veja-se que hoje pelo mundo existem vários partidos e grupos declarados nazistas e comunistas, tipos que tanto fizeram vítimas pelo mundo, entretanto, é só mesmo contra a Igreja que tem graça fazer ataques.
Comunidade anglo-luterana volta à comunhão plena com a Igreja Católica
A Reforma foi um «trágico erro de proporções épicas que nunca devia ter acontecido».
O Arcebispo Irl A. Gladfelter preside uma das confissões cristãs que planejam voltar ao catolicismo nos ordinariatos criados por Bento XVI. A Igreja Católica Anglo-Luterana é a única com raízes luteranas e poderia considerar-se o primeiro passo pra a volta ao redil católico dos herdeiros de Lutero. Numa longa entrevista concedida a Infocatólica, este Arcebispo que ainda não é católico mas sim cooperador da Opus Dei, fala de sua alegria de voltar à Igreja Católica, da importância de uma única fé e de seu compromisso de desfazer a Reforma protestante.
Reverendo Irl A. Gladfelter, Metropolita da Igreja Católica Anglo-Luterana (ALCC), o senhor é biólogo, Doutor em Cirurgia Dental, tenente-coronel reformado do exército americano, Doutor em Teologia e Metropolita da ALCC. Como encontrou tempo para tantas coisas?
Não foi um problema. Só me tornei clérigo depois de ser reformado pelo Exército dos Estados Unidos e como dentista.
Quando foi fundada a ALCC? Por que a combinação de anglicanismo e luteranismo?
A ALCC foi formada em 1997 por antigos membros da Igreja Luterana – Sínodo de Missouri dos Estados Unidos (LCMS), os quais, por serem luteranos orientados ao catolicismo ou “Evangélicos Católicos” (também conhecidos como a “igreja alta”), não podiam aceitar a orientação cada vez mais protestante da LCMS e sua aceitação crescente da teologia evangélica fundamentalista, junto com alguns aspectos da soteriologia e da teologia sacramental que haviam sido importados do Calvinismo por vários meios já na sua fundação e a aceitação cada vez maior de serviços evangélicos não litúrgicos. Nossos fundadores também faziam reparos à teologia sacramental da LCMS, à sua política congregacional, a suas ideias sobre a natureza e o exercício da autoridade dentro da Igreja e à sua compreensão das Ordens Sagradas (o “ofício do ministério público”, segundo a linguagem que utilizam). Inicialmente, a ALCC adotou as posturas da ala “anglo-católica” do anglicanismo (ou anglicanismo da “igreja alta”). Ao longo do tempo, embora respeitássemos as relações que haviam sido estabelecidas com o anglicanismo da “igreja alta”, a ALCC encontrou também problemas com o anglicanismo, incluindo sua recusa da primazia papal, da infalibilidade papal, da infalibilidade do Sagrado Magistério e dos Concílios posteriores aos quatro primeiros Concílios Ecumênicos, além de sua tolerância de alguns graus de teologia eucarística de tipo protestante, que podem ser encontrados na Oração Eucarística do Livro de Oração Comum, entre outros problemas. Finalmente, a ALCC chegou a reconhecer a verdade absoluta da fé católica e se deu conta de que tinha a obrigação em consciência de voltar a Roma. Descreveu-se recentemente a Igreja Católica Anglo-Luterana (ALCC) como “totalmente romanizada” e como uma Igreja que “ensina a doutrina católica sólida, utilizando um vocabulário luterano e anglicano, corrigindo este último com o primeiro”. Ambos comentários são acertados e precisos. Em essência, a ALCC se “romanizou” totalmente, aceitando com entusiasmo a verdade objetiva de todos os aspectos da fé católica.
Foi importante para os senhores a declaração conjunta católica e luterana sobre a justificação (1997)?
Sim. Para a ALCC, a Declaração conjunta católica e luterana sobre a doutrina da justificação decidiu de uma vez para sempre o assunto fundamental da fase de Wittenberg (luterana) da Reforma. Uma vez que esse assunto tenha sido resolvido, a ALCC se deu conta de que tinha a “obrigação em consciência” de entrar na Igreja Católica, marcando o caminho para que outras jurisdições eclesiásticas luteranas (igrejas) possam segui-la.
Quantos membros e paróquias tem aproximadamente a ALCC? Estão presentes somente nos Estados Unidos ou estão também em outros países?
O número total de membros da ALCC é de aproximadamente 11.000 pessoas, nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Sudão e no proximamente independente Sudão do Sul. O maior número corresponde a africanos sub-saharianos, a maioria dos quais são do Sudão do Sul.
De onde vem a maioria de seus membros? Antes de ingressar na ALCC eram luteranos, anglicanos, católicos ou não cristãos?
A maioria de nossos membros não africanos entraram na ALCC procedentes de outras Igrejas luteranas, mas nossos membros sub-saharianos, tanto na África como nos Estados Unidos e Canadá são antigos anglicanos.
Na Comunhão Anglicana, há algumas congregações religiosas anglo-católicas. Também os senhores têm religiosos na ALCC?
Sim, temos uma Prelazia Pessoal, a Ordem de Santo Ambrósio (O.S.A) e uma Sociedade Sacerdotal, a Sociedade Sacerdotal dos Servos do Bom Pastor. A regra e a espiritualidade de ambas se parecem muito com as da Opus Dei. O Vigário Geral da ALCC e eu somos, com grande entusiasmo, Cooperadores da Opus Dei. Alguns de nossos bispos são membros da Confraternidade de São Pedro, dirigida pela Fraternidade Sacerdotal de São Pedro (FSSP), uma sociedade católica.
Ingressarão no ordinariato dos Estados Unidos quando for criado, no final deste ano?
Sim, porque é o que a Congregação para a Doutrina da Fé nos disse que façamos, mas a última palavra será da própria Congregação. Vimos trabalhando com eles desde 2009. Do ponto de vista da ALCC, trata-se de um tema de obediência à Congregação para a Doutrina da Fé. Em nossa petição a Roma para entrar na Igreja Católica (antes da promulgação da Anglicanorum Coetibus) não mencionamos um ordinariato, já que ainda não havia sido publicada a Constituição Apostólica. Por conselho de nosso advogado católico de Direito Canônico, a ALCC pediu apenas para entrar como “sociedade sacerdotal” ou da forma que dispusesse o Santo Padre. Nossa petição terminava com a frase: “O filho pródigo voltou e está à porta. Santo Padre, por favor, deixe-nos entrar”. A ALCC nunca pediu mais que isto. Está à porta e roga que a deixem voltar para casa. Entretanto, quando no outono de 2010 recebemos uma carta do Secretário da CDF notificando-nos que deveríamos entrar na Igreja Católica através das disposições da Anglicanorum Coetibus, por obediência aos desejos do Santo Padre e da CDF, a ALCC aceitou imediatamente estas instruções por escrito. Assim, portanto, atualmente a ALCC espera pacientemente e roga ao Senhor e a sua Bendita Mãe, Maria, que nos permita voltar para casa, a Igreja Católica, seja através da Anglicanorum Coetibus seja por outro meio.
Todos os membros da ALCC se farão católicos ou alguns decidiram esperar ou passar para outros grupos anglicanos ou luteranos?
Todos os membros da ALCC se farão católicos. A diferença de algumas Igrejas Anglicanas, a ALCC não tem “posturas inamovíveis” A ALCC não está interessada em absoluto em “preservar um patrimônio”. Ao contrário, trata-se de uma Igreja profundamente “romanizada”, que trabalha com todas as suas forças para “desfazer” a Reforma, porque considera que foi um trágico erro de proporções épicas, que nunca devia ter acontecido, e procura restaurar a unidade da Igreja segundo os critérios da Igreja Católica. A ALCC não pede para preservar um “patrimônio luterano”. A diferença do patrimônio anglicano, o patrimônio luterano é essencialmente teológico e, ao ter compreendido plenamente os erros do luteranismo e ao ter aceitado a fé católica, a única coisa que pede e por que reza a ALCC é que se lhe permita “voltar para casa” e entrar na Igreja Católica, como filhos pródigos arrependidos. A única coisa que queremos é nos dissolvermos na Igreja Católica, como católicos normais. Faz tempo que a ALCC tem como política não admitir membros nem aceitar clérigos que não estejam plenamente comprometidos com a causa da unidade da Igreja de Cristo, sanando as feridas que infligiram a essa unidade o orgulho humano e as heresias dos líderes da Reforma protestante. Todos os membros da ALCC devem estar comprometidos em desfazer a Reforma.
Todos os clérigos da ALCC, desde o Metropolita até o último diácono permanente devem assinar uma versão adaptada do Mandato da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, o qual estabelece que “se comprometem a ensinar a doutrina católica e não pregarão, ensinarão, escreverão nem publicarão nada que entre em conflito com o magistério católico”. Este compromisso se controla e se faz cumprir estritamente. Já aconteceu de algum sacerdote ter sido destituído de seu cargo, permitindo-lhe escolher entre sua demissão e a excomunhão, por não cumprir o Mandato da ALCC.
Será um problema para os membros da ALCC a necessidade de aceitar o Catecismo da Igreja Católica, como expressão normativa de fé para os ordinariatos? Que textos utilizam atualmente para catequizar as crianças e os adultos?
Absolutamente. Há anos a ALCC aceitou oficialmente o Catecismo da Igreja Católica como nossa expressão completa da fé cristã. Catequizamos as crianças e os adultos usando o Catecismo da Igreja Católica, o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica da Conferência Episcopal norteamericana, Fé para o futuro: Um novo catecismo ilustrado, publicado pela Liguori Press; o Compêndio de Doutrina Social da Igreja da Conferência Episcopal norteamericana e outros textos católicos unicamente. Para a catequese geral e o estudo, a ALCC usa a Bíblia de Navarra, publicada pela Scepter Press; a New American Bible e a Bíblia Católica de Estudo da Ignatius Press. A ALCC não permite o uso de qualquer catecismo luterano nem de outros catecismos protestantes.
Quais são as principais dificuldades encontradas até agora?
Toda organização nova tem “crise de crescimento” e a ALCC não é uma exceção. Sempre há lugar para melhorar e para formas de desenvolver nossos apostolados de forma mais eficaz. Entretanto, estamos muito bem, levando em conta que a ALCC foi fundada em 1997. A maior preocupação da ALCC, com muita diferença, consiste em conseguir seu objetivo de converter-se na primeira jurisdição eclesiástica luterana que volta à Igreja Católica como grupo unificado desde o final da Contra-reforma.
Uma vez que ingressem num ordinariato, o senhor e os demais bispos e sacerdotes da ALCC terão de ser ordenados como diáconos e sacerdotes católicos. É algo difícil de se aceitar?
Não, em absoluto. Alegramo-nos disto, porque eliminará a possibilidade de qualquer confusão entre os fiéis católicos sobre a validade de nossa ordenação de nossos sacramentos.
Sempre existiu um setor “católico” entre os luteranos?
Si, certamente. A tal setor foi dado muitos nomes: Gneiso-luteranos (luteranos originais), Velhos-luteranos, Luteranos Romanizados e, nos últimos anos, “Católicos Evangélicos”. A ALCC está simplesmente no extremo mais católico desta tradição.
Há outros grupos de luteranos que estão relativamente próximos da Igreja Católica?
Na Suécia existe o movimento Arbetsgemenskapen Kyrklig Förnyelse (União Eclesial Sueca) e outras sociedade menores. Há comunidades monásticas, como o Mosteiro de Östanbäck (um mosteiro beneditino), o convento de Alsike e a Congregação de São Francisco, a Fundação de São Lourenço, a Fundação de Santo Oscar, a Coalizão Eclesial pela Bíblia e a pela Confissão e a Förbundet För Kristen Enhet, que como a ALCC trabalha para conseguir a união visível e como grupo com a Igreja Católica. Na Alemanha existe a St. Jakobus- Bruderschaft, com a qual a ALCC permanece em contato, a Arbeitsgemeinschaft Kirchliche Erneuerung (Grupo de Trabalho para a Renovação da Igreja) da Igreja Luterana da Baviera, Humiliatenorden, St. Athanasius-Bruderschaft, Hochkirchlicher Apostolat St. Ansgar, Bekenntnisbruderschaft St. Peter und Paul, a Kommunität St. Michael en Cottbus, a Congregatio Canonicorum Sancti Augustini e o Priorado de São Wigberto. Há grupos similares na Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia.
O senhor crê que se formará algum tipo de ordinariato para os luteranos no futuro?
Quer se trate de um ordinariato ou de alguma outra estrutura mais simples e menos polêmica para estabelecer e integrar na Igreja segundo o Direito Canônico, como uma “sociedade sacerdotal” ou um “instituto de vida apostólica”, creio que se formará algum tipo de estrutura para que os luteranos de todos os países possam voltar à Igreja Católica. Há de se reconhecer: a Igreja Católica, e em geral o cristianismo, estão sendo atacados atualmente. As comunidades eclesiais como os anglicanos e luteranos se dividem ainda mais sob os ataques do ateísmo, do agnosticismo, da filosofia pós-moderna e das teologias heréticas de tipo liberal. A Igreja não pode se permitir o enfrentamento a essas e outras ameaças em seu estado dividido atual. É hora de os luteranos e outras comunidades eclesiais voltarem à Igreja Católica, para que lhe resulte mais fácil derrotar estas ameaças e realizar a Nova Evangelização promovida pelo Papa Bento XVI e outras pessoas! É hora de recuperar a unidade da Igreja de Cristo! Os luteranos devem se dar conta de que voltar à Igreja Católica não é algo bom, é estupendo. No Getsêmani, Jesus orou para que seus discípulos fossem um, como Ele e o Pai são um, assim a união com a Igreja Católica não é algo “bom”, mas algo “estupendo”, porque Jesus o pediu em sua oração e o ordenou (não o “sugeriu” simplesmente). Os luteranos devem voltar à Igreja Católica porque é o correto, é o único caminho correto.
Em sua homilia de vésperas, na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, em São Paulo Extramuros, em Roma, 25 de janeiro de 2011, o Papa Bento XVI afirmou: “Os esforços para recuperar a unidade entre os cristãos divididos não podem reduzir-se simplesmente a reconhecer nossas diferenças recíprocas e a conseguir uma coexistência pacífica. O que desejamos é a unidade pela qual orou o mesmo Cristo e que, por sua própria natureza, se manifesta numa comunhão de fé, de sacramentos e de ministério. O caminho para esta unidade deve ser percebido como um imperativo moral, uma resposta a um chamado específico do Senhor... Devemos continuar com entusiasmo o caminho para este objetivo”. Isto é exatamente o que pretende fazer a ALCC ao esforçar-se para entrar na Igreja Católica como grupo unificado.
Se se criasse um ordinariato para luteranos no futuro, os senhores deixariam o ordinariato anglo-católico para integrar-se nele?
Certamente, estaríamos interessados e colaboraríamos com qualquer futuro ordinariato luterano ou estruturas alternativas segundo o Direito Canônico atual, mas faremos exatamente o que nos pedirem a Congregação para a Doutrina da Fé e o Santo Padre. Além do mais, os membros da ALCC só queremos converter-nos em católicos normais, como todos os outros, e nos injetar de forma segura no “centro” teológico e social da Igreja Católica. Ficaremos contentes em “florescer” onde quer que o Santo Padre e a CDF nos “plantem” dentro da Igreja Católica.
O senhor crê que sua união com a Igreja Católica influenciará outros luteranos?
Sem dúvida. Faz alguns anos o Pe. Richard John Nieuhaus, um pastor luterano dos Estados Unidos que se converteu ao catolicismo e foi ordenado como sacerdote católico (e era o editor da revista norteamericana First Things), escreveu que enquanto ele apenas podia perceber movimentos de luteranos para a Igreja Católica, algum dia uma Igreja Luterana “dará um passo adiante e então nada voltará a ser igual”. Esperamos e rezamos para que a Igreja Católica Anglo-Luterana seja a Igreja que dará este passo adiante e que isso leve muitos luteranos a abandonar as heresias da Reforma e voltem à fé católica; que se aproxime este bendito dia no qual a oração de Cristo no Getsêmani para que todos seus discípulos sejam um seja de novo uma realidade, em uma só Igreja sob Cristo e seu Vigário nesta terral, o Sucessor de São Pedro. Até este dia, a ALCC terá muito presentes dois lemas usados por nossa Igrejas: (1) “Voltar à unidade do Corpo de Cristo, Igreja por Igreja”, e (2) o lema do escudo papal de São Pio X, “renovar todas as coisas em Cristo”.
Muito obrigado por suas respostas. Espero que tenhamos a oportunidade de entrevistá-lo de novo quando o senhor for um membro do ordinariato.
Foi um prazer!
Fonte: InfoCatólica
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