O Protestantismo partiu, no século XVI, de uma intuição muito válida e
oportuna: restaurar a estima e o culto da Palavra de Deus, com todo o
seu poder de santificação. Se tivessem tirado as consequências lógicas
deste princípio, os reformadores teriam corroborado e abrilhantado a
única Igreja de Cristo. Pois a Palavra de Deus na Bíblia remete
constantemente à Palavra viva da Tradição oral, que na Igreja, assistida
por Cristo, passa de geração em geração; é a Palavra oral o critério
abalizado para se entender e interpretar a Bíblia. Admitindo a Igreja
como depositária e intérprete da Palavra, os protestantes teriam
admitido outrossim a autoridade da Igreja para santificar ou recriar o
homem mediante a Palavra de Deus, pois esta é não apenas ensinamento
para a inteligência mas força viva que restaura o homem. A Palavra de
Deus desenvolve toda a sua eficácia quando se torna não apenas audível,
mas visível nos sacramentos (água batismal, pão e vinho eucarísticos,
óleo sagrado…); assim os sacramentos, como a própria Igreja, estão
implícitos na revalorização da Palavra de Deus apregoada pelos
reformadores do século XVI.
Infelizmente, porém, estes deixaram-se influenciar por teses da
filosofia nominalista e do subjetivismo dos séculos XV/XVI. Arrancaram a
Bíblia do seu berço e do seu ambiente co-natural, que é a Palavra de
Deus oral; assim a Bíblia foi paradoxalmente desvalorizada, porque feita
letra morta, sujeita ao arbítrio tanto de “profetas” fantasiosos como
de estudiosos racionalistas liberais.
Lembrar estas verdades é aplainar o caminho para a reunião dos
cristãos; os protestantes afirmam um princípio muito válido, que eles
não devem renegar, mas apenas desenvolver segundo a lógica exigida por
essa premissa mesma.
0 fenômeno protestante, com as suas diversas afirmações, vai-se
impondo à atenção do público, especialmente dos católicos. Variado como
é, exige que distingamos entre o Protestantismo clássico, dito
“histórico” ou “tradicional”, que é o de Lutero, Calvino, Knox (século
XVI) e o Protestantismo recente, oriundo principalmente dos Estados
Unidos da América (pentecostais, mórmons, adventistas, e suas
subdivisões…). É mais difícil dialogar com o Protestantismo moderno,
pois este se torna cada vez mais distante das fontes do Cristianismo: os
mórmons têm uma “nova Bíblia” (o Livro de Mórmon); os adventistas e as
testemunhas de Jeová retornam ao Antigo Testamento, com detrimento da
mensagem propriamente cristã; os pentecostais enfatizam unilateralmente
os fenômenos extraordinários, os estados psicológicos e a ação do
demônio, seguindo muitas vezes as emoções mais do que o raciocínio e a
fé esclarecida… Ao contrário, o diálogo com o Protestantismo clássico
tem sido efetuado entre teólogos num clima sereno, que permite remover
atitudes passionais e favorece a compreensão mútua.
Entre os nomes que mais se destacam nesse diálogo, está o do francês
Louis Bouyer, que foi fervoroso ministro protestante; guiado pelo estudo
objetivo, tornou-se católico e hoje é sacerdote oratoriano, muito
interessado em fomentar a aproximação de católicos e protestantes. L.
Bouyer escreveu diversas obras sobre o seu itinerário espiritual, das
quais merecem destaque “Du Protestantisme à VEglise” (Paris 1954) e
“Parole, Eglise et Sacrements dans le Protestantisme et le Catholicisme”
(traduzido com o título “Palavra, Igreja e Sacramentos no
Protestantismo e no Catolicismo”, São Paulo, Ed. Flamboyant 1962). Este
último livro é especialmente significativo; daí o propósito de
apresentarmos o seu conteúdo nas linhas que se seguem, focalizando
precisamente os três pontos em que Protestantismo e Catolicismo mais
parecem divergir entre si.
Bouyer frisa sempre que, para compreender o Protestantismo e aplainar
o caminho de re-união, os católicos não o devem considerar apenas como
um conjunto de heresias, mas, sim, como a afirmação de certos princípios
autenticamente cristãos, que necessitavam de ser re-enfatizados no
século XVI, mas que infelizmente foram desenvolvidos de maneira
heterogênea por influência da filosofia nominalista (o Nominalismo é uma
escola que, entre outras coisas, depreciava a razão ou a inteligência
humana) dos séculos XV-XVI.
É na base desta observância que Bouyer elabora suas condições, que vamos acompanhar sucintamente.
No Protestantismo
A estima da Bíblia é o que de mais típico se encontra na
espiritualidade e na teologia protestantes; foi precisamente lendo a
epístola aos Romanos que Lutero descobriu a verdade mais fundamental da
Revelação cristã: não somos nós os primeiros a amar a Deus, mas é Deus
que nos ama primeira e gratuitamente, sem mérito da nossa parte (cf. Rm
5,6-10; 1Cor 4,10-19); não é o homem que toma a iniciativa de procurar a
Deus, mas é Deus quem começa por procurar o homem (cf. Rm 9,16).
Em consequência, o culto protestante consiste em leituras bíblicas,
entre as quais se inserem cantos e orações, e que têm no sermão subsequente a sua atualização concreta. Após este encontro com a
Palavra, o crente procura responder-lhe em seu coração e traduz sua
resposta numa conduta de vida adequada.
Mais precisamente: o protestante clássico coloca-se diante da Palavra
de Deus como o pecador necessitado de salvação, e ouve a mensagem de
que só a graça o salva; isto o leva a uma atitude de confiança no dom de
Deus; a Este, e não a si mesmo, o crente atribui a sua purificação
interior; a Deus só, e não a si (homem), o protestante tributa a glória.
Além disto, o Protestantismo guardou a consciência – já existente
entre os judeus do Antigo Testamento / de que a Palavra de Deus é
criadora eficaz; é tão viva que realiza o que ela anuncia (cf. Gn 1,3s;
Si 32,9; Is 48,13; Jo 1,3). Abraçando essa Palavra pela fé, o crente se
julga renovado interiormente ou “uma nova criatura” (cf. 2Cor 5,17).
No Catolicismo
As afirmações da teologia protestante atrás mencionadas nada têm que se oponham à tradição católica.
Com efeito. 0 culto cristão, desde as suas origens, sempre incluiu a
leitura da Palavra de Deus acompanhada de cantos e orações; a Eucaristia
antigamente era, não raro, celebrada na madrugada do domingo após uma
noite de vigília em contato com a Bíblia. Nunca até hoje a Missa foi
celebrada em circunstâncias normais sem a Liturgia da Palavra, a tal
ponto que o Concílio do Vaticano II fala da mesa da Palavra e do Corpo
do Senhor. ´Verdade é´ que o uso do latim, devido a circunstâncias
contingentes, e hoje ultrapassadas, dificultou o entendimento da Bíblia
durante séculos; mas hoje se acha removido, de modo a possibilitar a
compreensão dos fiéis interpelados pela S. Escritura.
Na piedade pessoal antiga, a S. Escritura ocupava lugar primacial; S.
Jerônimo (421) foi um dos grandes mestres que incutiram aos discípulos o
recurso às Escrituras; é este doutor que afirma: “Ignorar as Escrituras
é ignorar o Cristo”. Para São João Crisóstomo (407), como para Lutero, o
conhecimento íntimo das epístolas de São Paulo é a entrada obrigatória
para a compreensão mais profunda do Cristianismo. Nos mosteiros, a
lectio divina (leitura meditada das coisas de Deus) versava sobre a
Bíblia, como alimento de oração e união com Deus.
É também clássica na Tradição cristã a afirmação de que a Palavra de
Deus é viva, eficaz ou, em linguagem católica, um sacramental: santifica
não apenas na medida da compreensão que dessa Palavra temos, mas também
na proporção da fé e do amor com que a lemos.
Por conseguinte, as afirmações protestantes a respeito da Palavra de
Deus procedem do coração de um vasto movimento de retorno às fontes que
se iniciou no século XV e que no século XVI teve protagonistas entre os
próprios católicos: Ambrósio Traversari (1439), John Colet (1519) e
Tomás Moro (1535), o Cardeal Ximánez de Cisneros (1517)… 0 próprio
Cardeal Caetano de Vio (1534), um dos mais firmes adversários de Lutero,
considerava que o único meio eficaz para renovar a Igreja no século XVI
seria a restauração bíblica, no seio da qual a Reforma protestante ia
surgindo. Não é, portanto, o amor à Bíblia uma característica exclusiva
do Luteranismo.
Acontece, porém, que a Bíblia, por motivos independentes dela mesma,
veio a ser utilizada no século XVI como arsenal de heresias propaladas
pelos Reformadores. Foi isto que tornou as Escrituras um livro suspeito
aos olhos dos católicos. Diante dos variados arautos de “novos
Cristianismos” pretensamente deduzidos da Bíblia traduzida para o
vernáculo e diante da confusão assim instaurada, a Igreja julgou
oportuno, naquela época, proibir aos fiéis o uso das Escrituras
traduzidas para o vernáculo; esta atitude certamente marcou a piedade
católica nos tempos subseqüentes. Hoje em dia, porém, verifica-se que as
medidas drásticas tomadas no século XVI já não são necessárias nem
convenientes.
Pergunta-se então: por que a volta à Bíblia, tão sadia e autêntica
como era no século XVI, degenerou entre os Protestantes em fonte de
heresias ou de doutrinas contrárias à própria Tradição cristã, a tal
ponto que hoje algumas denominações oriundas do Protestantismo,
conservando a Bíblia nas mãos, já não são cristãs (tenham-se em vista as
Testemunhas de Jeová, os Mórmons…)?
Em resposta, dir-se-á que o Protestantismo, na sua estima à Palavra
de Deus escrita, esqueceu que esta tem seu berço na Palavra de Deus
oral; o Senhor no Antigo e no Novo Testamento falou e não escreveu; a
Palavra escrita é a cristalização ocasional da Palavra de modo que, para
entender autenticamente a Escritura, se requer a fiei ausculta da
Palavra oral. Se arrancamos a Escritura da Tradição oral, que é o seu
ambiente anterior e concomitante, temos uma Palavra que já não se
explicita por si mesma; é letra que perde a sua vitalidade e fica
sujeita a todo tipo de interpretação que os seus leitores lhe queiram
dar. Ora a Tradição oral não é algo de vago e indefinido; ela continua
viva na Igreja, que fala pelo seu magistério assistido pelo Senhor Jesus
(cf. Mt 16,16/19; Lc 22,31s; Jo 14,26; 16,13s).
Em outros termos: para salvaguardar a autoridade da Bíblia, não é
necessário negar a autoridade da Igreja; não há oposição, mas, sim,
complementação entre uma e outra. Quem realiza essa separação, deixa de
reconhecer aos poucos a autoridade da própria Escritura, pois cada
intérprete faz a Bíblia dizer aquilo que ele subjetivamente concebe ou
pensa; esse subjetivismo redunda em manipulação ou distorção da Palavra
de Deus, donde resulta a fragmentação e o esfacelamento do
Protestantismo; este se desmembra em correntes que se opõem umas às
outras, baseando-se em textos arrancados do seu contexto. 0
individualismo dos intérpretes protestantes, desligados da Tradição oral
viva na Igreja e no seu magistério, chegou a produzir (além das
denominações não cristãs já citadas) as teorias liberais e racionalistas
de Rudolf BuItmann e de escolas congêneres; estes vêem na Bíblia um
aglomerado de mitos ou um discurso mítico do qual só se pode depreender
um apelo à conversão ou a exortação a que passemos de uma vida não
autêntica para uma vida autêntica; tem-se assim a morte da Palavra
sagrada e do próprio Cristianismo que ela veio anunciar.
A experiência do Protestantismo é, pois, suficiente para nos dizer
que nenhum texto bíblico, tomado a sós, fora do seu contexto oral
originário, é capaz de se defender contra as interpretações subjetivas e
arbitrárias que tendem progressivamente a minimizar a autoridade da
Escritura, embora a proclamem soberana.
0 Catolicismo responde a esta problemática, afirmando que não há que
acrescentar uma autoridade humana à autoridade divina das Escrituras,
mas é necessário reconhecer que o próprio Deus, ao entregar-nos a sua
Palavra, quis que ela fosse proclamada, lida e interpretada na caudal da
Tradição oral, da qual é autêntica intérprete a Igreja, Corpo de
Cristo, vivificado pelo Espírito Santo. A autoridade da Igreja está,
portanto, incluída no desígnio divino de entregar a Palavra aos homens,
de tal modo que esta permaneça incólume em meio às efusões do
subjetivismo humano: o Senhor nunca pensou em deixar-nos sua Palavra
abandonada ao mero bom senso ou fervor dos homens; Ele mesmo, vivo na
Igreja, quis garantir a transmissão autêntica da sua Revelação.
Esta temática leva-nos a considerar diretamente a questão da Igreja no Protestantismo e no Catolicismo.
No Protestantismo
A grande dificuldade dos protestantes em relação à Igreja Católica é a
autoridade doutrinária que ela reivindica. Julgam que tudo o que se
conceda à autoridade da Igreja, é subtraído à autoridade da Palavra de
Deus na Bíblia.
A autoridade da Igreja poderia também, segundo eles, ser considerada uma forma de opressão das consciências individuais.
Por que os protestantes da primeira geração assim pensavam?
Porque confundiam certas interpretações subjetivas e errôneas da
Palavra de Deus com a própria Palavra de Deus. Em consequência, a
Igreja, ciosa de conservar o autêntico sentido da Palavra, qual
depositária responsável, só podia parecer-lhes um estorvo. Mais: a fobia
da autoridade da Igreja facilmente se transformou em fobia de toda
autoridade doutrinária no protestantismo liberal e racionalista dos
séculos XIX-XX.
Cedo os próprios reformadores protestantes e seus sucessores
perceberam que, rejeitando a autoridade da Igreja, estavam dando ocasião
à anarquia doutrinal. Procuraram então um substitutivo para aquela,
substitutivo que tomou cinco modalidades principais:
1. Lutero partiu da idéia de que, a religião sendo religião do Estado
(como fora o Cristianismo desde o Imperador Romano Teodósio, (+395), o
Estado deveria zelar pela incólume preservação das verdades da fé ou
pela autoridade da Bíblia tal como Lutero a interpretava. 0 príncipe
civil seria como que o “bispo supremo”. Este princípio não podia deixar
de ocasionar arbitrariedades ou o predomínio de interesses políticos
sobre os religiosos.
2. Na Renânia foi estipulado que magistrados eleitos pelo povo
luterano teriam a incumbência de defender a autoridade da Palavra de
Deus. Verificou-se, porém, que a solução era precária, pois os
magistrados de uma cidade ou região não diziam a mesma coisa que os de
outra cidade.
3. Calvino procurou uma fórmula mais bíblica: verificou que São
Paulo, ao evangelizar as cidades da Ásia Menor, constituía em cada qual
um colégio de presbíteros ou anciãos, que ficavam responsáveis pela
respectiva comunidade sob a jurisdição do Apóstolo (cf. At 14,23; ver
também At 11,30; Tt 1,5). Calvino resolveu, pois, instituir presbíteros
ou anciãos nas comunidades calvinistas, encarregados de tutelar a
autoridade das Escrituras e a organização eclesial.
4. Na Inglaterra e na Nova Inglaterra, a autoridade foi confiada à
própria congregação dos crentes: estes não poderiam desfazer-se dela em
benefício de pessoa alguma. Assim teve origem o Congregacionalismo,
segundo o qual os fiéis, de comum acordo, devem submeter-se à autoridade
da S. Escritura e dela tirar as diretrizes concretas, dia por dia, para
a vida da Igreja.
5. Algumas comunidades protestantes conservam o episcopado; tais
foram as da Prússia e da Escandinávia (Luteranas) e as anglicanas
(episcopaliarias). A autoridade de tais prelados nunca foi bem definida:
ou seriam simples funcionários da Coroa, incumbidos principalmente de
aplicar as decisões do “supremo bispo” (=o monarca) ou seriam
moderadores de Concílios ou assembléias, representando o conjunto dos
crentes ou grupos destes.
Na verdade, nenhuma destas soluções substitutivas do magistério da
Igreja foi capaz de garantir a conservação intacta e fiel da Palavra de
Deus; mas esta foi sendo, no decorrer dos quase cinco séculos de
protestantismo, mais e mais estraçalhada mediante centenas e centenas de
interpretações diferentes, que deram origem a centenas e centenas de
ramos do protestantismo.
Pergunta-se: era necessário chegar a esse impasse do protestantismo?
Como precisamente o Catolicismo considera a autoridade da Igreja diante
da Palavra de Deus?
6. A Igreja Católica atribui a si uma autoridade doutrinária pelo
fato de ser a Igreja instituída por Cristo sobre o fundamento dos
Apóstolos.
Que significa isto exatamente?
Jesus Cristo se apresentou como o enviado do Pai e, por sua vez, enviou os Apóstolos a continuar a sua missão:
“Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21).
“Como Tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (Jo 17,18).
“Quem vos recebe, a mim recebe, e quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Mt 10,40; cf. Lc 9,48; Mc 9,37).
“Quem vos ouve, a mim ouve; quem vos despreza, a mim despreza; e quem me despreza, despreza aquele que me enviou” (Lc 10,16).
“Quem crê em mim, não é em mim que ele crê, mas naquele que me enviou” (Jo 12,44; cf. Jo 13,20).
Donde se vê que a Boa-Nova cristã procede do Pai; passa por Cristo e é
confiada aos Apóstolos para que a difundam no mundo inteiro. Mais:
Jesus prometeu aos Apóstolos sua assistência infalível até o fim dos
séculos; onde haja a continuidade da sucessão apostólica, existe a
certeza da presença atuante de Cristo na sua Igreja; disse o Senhor aos
Apóstolos:
“Toda autoridade no céu e na terra me foi entregue. Ide, portanto, e
fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do
Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-as a observar tudo
quanto vos ordenei. Eis que estou convosco todos os dias até a
consumação dos séculos” (Mt 28,18-20).
Depreende/se, pois, que a autoridade dos Apóstolos e,
conseqüentemente, a da Igreja é a autoridade do próprio Cristo, que se
serve de instrumentos e os adapta à sua obra, recorrendo a critérios
objetivos: a apostolicidade ou a sucessão apostólica através dos
séculos. Vê-se também que a autoridade da Igreja assim instituída não se
restringe ao campo doutrinal, mas se estende à vida e à configuração
espiritual dos cristãos; a Palavra de Deus proferida pelos Apóstolos e
seus sucessores não tem valor apenas acadêmico, mas é eficiente e
restauradora.
“Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados,
serão perdoados; a quem os retiverdes, serão retidos” (Jo 20,22s).
“Tudo o que ligardes na terra, será ligado no céu; tudo o que desligardes na terra, será desligado no céu” (Mt 18,18).
Os Apóstolos recebem, pois, o Espírito do Pai, que é também de Cristo, e, assim habilitados, têm o poder de recriar o homem.
7. A esta altura, porém, coloca-se uma objeção, formulada pelo famoso
exegeta protestante Oscar Cullmann: dado que os Apóstolos e, em
especial, Pedro tinham o poder de ligar e desligar de maneira autêntica,
é de crer que essa autoridade era intransferível; não passou para os
sucessores dos Apóstolos. Sim; os Apóstolos eram, após Cristo, os
fundadores da Igreja; ora tal função não se podia repetir. Após os
Apóstolos, toca à Igreja tão somente permanecer na doutrina dos
Apóstolos, fixada por eles nos livros do Novo Testamento; por isto a
Igreja pós-apostólica não precisa de uma autoridade que continue a dos
Apóstolos e a de São Pedro em particular; bastam-lhe os livros sagrados
que os Apóstolos lhe entregaram.
A Igreja não afirma que os bispos e os Papas sejam outros Apóstolos
no sentido de fundadores da Igreja, independentes da primeira geração.
Os bispos e o Papa são apenas guardiãos e transmissores, credenciados
por Cristo, do depósito sagrado que receberam dos Apóstolos. A fé da
Igreja é simplesmente a fé dos Apóstolos; a Palavra que os seus bispos
anunciam, há de ser aquela que os Apóstolos ensinaram por primeiro. Não
se criam novos dogmas mas explicita-se o que está contido no depósito
sagrado ou no tesouro ´´do qual se tiram coisas novas e velhas´´ (Mt
13,52). A autoridade dos bispos, assim entendida, pode manter viva a
Palavra que os Apóstolos trouxeram à Igreja primitiva, com uma vida tão
pujante quanto a tinha naquele tempo.
Ademais, no tocante a Pedro em particular, pode-se observar o
seguinte: se Cristo o constituiu fundamento visível da sua Igreja (cf.
Mt 16,16-19) e se a Igreja deve perdurar indefinidamente apesar das
invectivas adversárias, é lógico que o fundamento Pedro há de perdurar
em seus sucessores; em caso contrário, o edifício, sem fundamento,
cairia por terra.
Aliás, notamos: através de toda a história da Igreja jamais em
documento algum aparece a idéia de que a autoridade, após os Apóstolos,
passou a residir unicamente nos Livros Sagrados. Todos os dizeres dos
doutores e escritores antigos e medievais professam que a verdade do
Evangelho continua presente na Igreja por uma tradição viva, que passou
do Pai a Cristo, de Cristo aos Apóstolos, dos Apóstolos aos seus
primeiros sucessores, e depois de bispo para bispo, iluminando os
escritos sagrados que procederam dessa tradição oral.
A inegável continuidade histórica da Igreja Católica com a Igreja
primitiva é a base desta afirmação. Se alguém precisa de provar sua
origem divino-apostólica, não é a Igreja Católica. “É, pelo contrário, a
tese tardia e despojada de precedentes, segundo a qual, com a morte do
derradeiro Apóstolo, a verdade da Palavra de Deus, na Igreja, teria
deixado de ser confiada a um grupo de responsáveis, revestidos da
autoridade do seu Mestre; teria também deixado de ser a verdade de um
livro” (L. Bouyer, livro citado, pp. 14s). A Igreja afirma que a verdade
da Palavra de Deus está sujeita a ser deteriorada e alterada se é
apenas a verdade de um Livro, entregue tão somente ao fervor ou ao acume
dos seus leitores, sem que haja mandatários dotados do carisma da
verdade para transmitir e interpretar autenticamente essa Palavra.
É nestes termos que, a partir da própria S. Escritura, tão cara aos
protestantes, se pode demonstrar a necessidade e a existência real da
Igreja com seu magistério assistido por Cristo. Os reformadores, se
fossem conseqüentes consigo mesmos, não teriam abandonado a Igreja
fundada por Cristo para garantir a incolumidade da Palavra; dizendo
“não” à Igreja, expuseram as Escrituras à perda de sua vitalidade e ao
arbítrio dos homens.
No Catolicismo os sacramentos são os sete ritos pelos quais a graça
do Pai, feita presente em Cristo e na Igreja, é aplicada a cada
indivíduo desde o nascer até a morte. Ser cristão não é apenas ser
discípulo do Mestre Jesus Cristo, mas é ser ramo do tronco de videira
(cf. Jo 15,1-5) e membro do Corpo de Cristo (cf. 1Cor 12,12-27), o que
significa: comungar com a vida mesma do Tronco ou da Cabeça… com a vida
de Cristo e, mediante Cristo, com a vida do Pai.
1. Ora os protestantes rejeitam a maneira como os católicos entendem
os sacramentos. Aliás, guardaram apenas o do Batismo e o da Eucaristia; o
matrimônio no protestantismo é um contrato que o ministro ou pastor
abençoa sem lhe atribuir o valor de sacramento.
Mesmo em relação ao Batismo e à Santa Ceia os protestantes têm
conceitos um tanto vagos: apontam a ordem explícita do Salvador (cf. Mt
28,18-20; Jo 3,3; Mt 26,26-29…), mas explicam de diversas maneiras o
significado desse rito.
0 Batismo, por exemplo, em algumas denominações, só é ministrado a
jovens e adultos que “se tenham convertido”; é um testemunho da fé e da
mudança de vida já existentes naquele que recebe o Batismo; é, portanto,
mais um gesto do homem para Deus e a comunidade do que um gesto de Deus
em favor do homem. Os luteranos e as denominações mais antigas
conservaram um conceito mais tradicional ou mais próximo do Catolicismo
com relação a este sacramento.
A Santa Ceia, em caso nenhum, para os protestantes, é a perpetuação
do sacrifício do Calvário. Lutero ainda admitiu a empanação ou a
presença de Cristo dentro do pão consagrado; Calvino condicionou essa
real presença à fé do comungante. Zwínglio, porém, rejeitou-a por
completo. A Santa Ceia geralmente no protestantismo é a memória ou a
recordação simbólica da última refeição de Cristo, mediante a qual os
crentes em sua fé e seu amor se unem a Cristo.
2. Pergunta-se: por que assumem os protestantes posição tão distante da católica?
a) a piedade do fim da Idade Média se apegara demais às coisas ou aos
sinais concretos: relíquias, medalhas e outros sacramentais eram objeto
de estima por vezes excessiva, ao passo que o sentido da Eucaristia era
menos compreendido e vivido pela piedade popular; as práticas
religiosas assumiam caráter mecânico, desligadas que eram de uma
perspectiva teológica mais profunda;
b) o conceito de opus operatum escandalizava os reformadores. Na
teologia católica, opus operatum é toda ação sagrada eficaz pela
realização do próprio rito, independentemente dos méritos daquele que a
efetua.
Assim são os sete sacramentos: algo de objetivo através deles se
processa, desde que os sinais sagrados (água, pão, vinho, óleo e
palavras) sejam aplicados aos fiéis por um ministro devidamente
instituído, mesmo que este não tenha as qualidades morais desejáveis;
explica a teologia que em tais casos é Cristo quem opera os efeitos de
santificação mediante o ministro, que é mero instrumento. É sempre
Cristo quem batiza, quem consagra o pão e o vinho no seu corpo e no seu
sangue, quem absolve os pecados… Por isto é que num hospital, quando uma
criança está para morrer sem Batismo, qualquer pessoa (mesmo um ateu)
pode batizá-la, desde que tenha a intenção de fazer o que Cristo e a
Igreja fazem no caso, e aplique água natural com as palavras:
“Eu te
batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Assim, os sete
sacramentos não são obra nossa, mas obra de Deus nas mãos dos homens;
são os mais belos dons da misericórdia divina.
Do opus operatum distingue-se o opus operantis, que é uma ação
sagrada cuja eficácia é condicionada ao fervor da Igreja ou, mais
precisamente, do fiel que a executa: assim a leitura da Bíblia é um
sacramental, cuja eficácia dependerá não só da compreensão do leitor,
mas também, e principalmente, da fé e do amor com que lê.
Ora os reformadores não entenderam o conceito de opus operatum;
identificaram-no, antes com ato mágico, pelo qual o homem tenta obrigar
Deus a agir como a criatura deseja; seria um “truque” para dominar a
Onipotência Divina. É claro que esta interpretação equivale a um
mal-entendido, que faz dos sacramentos precisamente o contrário daquilo
que eles são: pura graça soberana de Deus, que se dá aos homens sem que o
homem possa dizer que o mereceu.
No Catolicismo
3. 0 Catolicismo julga que os reformadores protestantes afirmaram
duas grandes verdades que, se tivessem sido autenticamente
desenvolvidas, teriam levado os protestantes ao reconhecimento dos
sacramentos depurados das deformações e contrafacções que a piedade
popular dos séculos XV-XVI lhes impusera.
Com efeito, os reformadores
enfatizaram:
a) o valor comunitário do culto católico. Apesar do individualismo
que os afetava, proclamaram a índole pública da piedade e dos ritos
litúrgicos, que se obscurecera no fim da Idade Média. A Santa Ceia seria
celebração da assembléia, cujos membros participariam todos do símbolo
sagrado;
b) o conceito de verbum Dei visibile (palavra visível de Deus),
conceito formulado por S. Agostinho e muito valorizado por Lutero e
Calvino. Como entender tal conceito?
Para os reformadores, a Palavra de Deus não é simples vocábulo, mas
acontecimento (“diabhar”, em hebraico) ou intervenção de Deus em nossa
vida, que ela transforma pela sua eficácia criadora. Ora a noção de
Palavra visível de Deus vem a coincidir com a de sacramento no sentido
católico; este é palavra associada à matéria (água, pão, vinho, óleo…),…
matéria que torna visível o conteúdo da Palavra e, ao mesmo tempo,
realiza o que a Palavra significa. 0 pão de trigo sobre o qual Cristo,
por meio do seu legítimo ministro, diga: “Isto é o meu corpo”, torna
visível tal palavra, pois vem a ser o Corpo de Cristo. Da mesma forma o
vinho de uva sobre o qual se diga: “Isto é o meu sangue”, torna visível
tal palavra, pois vem a ser o sangue de Cristo. Nos sacramentos a
Palavra de Deus toca o homem por meio de sinais concretos para
enxertar-lhe a vida de Cristo, que é a vida do País.
Infelizmente os reformadores não chegaram a esta conclusão, embora
estivesse na lógica das suas premissas. Ao contrário, entenderam verbum
Dei visíbile no sentido meramente intelectual, como se fosse uma palavra
de menor valor, destinada aos iletrados, que só podem compreender
mediante imagens ou através do sistema audio-visual. Conseqüentemente os
templos protestantes foram mais e mais assumindo o aspecto de salas de
aula, em que se ministram ensinamentos mediante palavras e gestos, mas
em que falta o complemento lógico da Palavra que é o sacramento (=sinal
eficaz de graça).
Desta forma a Palavra de Deus, tão legítima e oportunamente exaltada
pelos reformadores, foi-se paradoxalmente depauperando contra toda
lógica.
Chamar a atenção para estas verdades é abrir o melhor caminho para
que o protestantismo possa recuperar a clássica doutrina relativa aos
sacramentos.
4. Positivamente, a Igreja Católica ensina: nos sacramentos fala-nos e
atua em nós a Palavra anunciada por aqueles que Cristo enviou, como se
fosse Ele em pessoa que a anunciasse. Não são os nossos méritos nem a
nossa fé que podem efetuar tão grandes coisas, como a comunhão com
Cristo pelo Batismo, a Eucaristia, a Penitência…, mas é unicamente Deus,
que falou uma vez por todas em Cristo,… em Cristo que continua a falar
nos seus Apóstolos e na Igreja Apostólica que os prolonga. Ainda os
sacramentos recebem toda a sua eficácia da Palavra de Deus, Palavra que
os instituiu durante a vida terrestre de Cristo, Palavra que Cristo
transmitiu aos seus Apóstolos e, depois destes, aos que lhes sucedem, de
tal maneira que, onde quer que eles falem em nome de Cristo, repetindo o
que Cristo disse, é sempre o Senhor Jesus quem fala e, falando, realiza
o que Ele diz.
Vê-se, pois, que as palavras do Batismo, da consagração da
Eucaristia, da absolvição dos pecados nada têm de mágico ou de “truque”,
mas são eficazes unicamente porque Jesus Cristo, mediante os Apóstolos e
seus sucessores, continua presente e atuante na sua Igreja. Esta
presença é perpetuada naqueles que Jesus escolheu como seus ministros,
para falar em Seu Nome, através dos séculos, comprometendo-se a dar à
sua Palavra nos lábios deles a mesma força que ela tinha nos lábios de
Cristo. Pois, naqueles que Ele enviou, é Ele que está presente, fala e
age, para manter sempre atuante o mistério da sua Cruz e Ressurreição, o
mistério da sua Igreja e dos sacramentos,… mistério que é a derradeira
Palavra que a Palavra de Deus tinha a nos dar.
4. Conclusão
O percurso traçado nas linhas anteriores pode ser assim compendiado:
Os reformadores (Lutero, Calvino… ) no século XVI partiram de uma
intuição genial: restaurar a estima e o culto da Palavra de Deus, com
todos os predicados de santificação que ela possui. Procederam muito
bem, pois as Escrituras Sagradas vinham sendo empalidecidas por
mentalidade fantasiosa e por escolas filosóficas decadentes no fim da
Idade Média.
Se tivessem tirado as conclusões contidas neste seu princípio básico,
só teriam reforçado e abrilhantado a única Igreja fundada por Cristo,
pois afirmavam algo de genuinamente cristão e eclesial. Infelizmente,
porém, arrancaram a Palavra de Deus escrita do seu berço anterior e do
seu ambiente concomitante, que é a Palavra de Deus proferida oralmente,
único critério adequado para se interpretar a Palavra escrita ou a
Bíblia. Em conseqüência, esta perdeu sua vida, sua eloqüência própria e
ficou sujeita às interpretações dos homens, animados, sem dúvida, de fé e
fervor, mas marcados pela falibilidade e o subjetivismo; daí o
paradoxal depauperamento da Palavra de Deus, que por último tem sido
julgada (em vez de julgar) por intuições imaginosas do protestantismo
moderno (mórmons, pentecostais, adventistas…) ou pelos princípios
racionalistas do protestantismo liberal.
Ao invés desta caminhada, pode-se propor outra trilha: quem lê
objetivamente as Escrituras, verifica que elas remetem constantemente o
fiel à Palavra oral que a antecedeu e que a explica (2Ts 2,15; 3,6; lTs
3,4; 4,16; lCor 11,23-25…). Essa Palavra ou Tradição oral não perece,
mas continua viva através dos séculos na Igreja, que não é mera
sociedade humana, e sim o Corpo de Cristo prolongado; a este o Senhor
concede sua assistência infalível desde que se guarde a sucessão
apostólica (cf. Mt 28,18-20).
A autoridade da Igreja, portanto, credenciada pelas Escrituras não
derroga à autoridade da Bíblia, mas serve a esta. Mais: é autoridade não
apenas para ensinar, pois a Palavra de Deus não ensina apenas (como
numa escola), mas é autoridade também para transformar o homem,
comunicando-lhe a vida de Deus, pois a finalidade da obra de Cristo não é
simplesmente ensinar, e sim levar à comunhão com o Pai, o Filho e o
Espírito Santo (cf. lJo 1,1-3). Por isto, o Senhor dizia aos Apóstolos:
“Fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do
Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). Nem a palavra da
pregação vale sem o rito sacramental, nem o sacramento sem a pregação…
Em conseqüência, a Igreja, na qual Cristo vive e atua, tem a missão
de oferecer aos homens não só a Palavra audível, mas também a Palavra
visível de Deus ou a Palavra cujo significado é corroborado por sinais
sagrados, de modo a transmitir através destes a vida de Deus; tais são
os sacramentos. Sem estes, estaria incompleta a obra de Cristo e da
Igreja; seria truncada a eficácia da Palavra de Deus.
Quem aceita a Igreja como Corpo Místico de Cristo dotada de
autoridade doutrinal e eficácia santificadora garantidas por Cristo,
aceitará conseqüentemente tudo o que daí decorre ou tudo o que a Igreja
ensina como verdades de fé deduzidas da Palavra de Deus: o purgatório, a
veneração dos santos e das suas imagens, o Papado, as indulgências, a
Confissão auricular, etc. Cada um destes temas se prende à Palavra de
Deus escrita, lida e explicitada pela Tradição oral.
Assim se vê que o protestantismo parte de afirmações positivas, às
quais ele não deve renunciar; importa-lhe, porém, renunciar a princípios
filosóficos que os séculos XV e seguintes lhe comunicaram, deturpando
sua intuição inicial. Oxalá isto possa acontecer nesta época, em que o
diálogo ecumênico vem sendo carinhosamente cultivado! Para tanto, toca
grande responsabilidade aos fiéis católicos: requer-se que se despojem
não só de toda imperfeição moral, mas também de toda mescla de doutrinas
e atitudes heterogêneas, que empalideçam o brilho do Cristianismo tal
como nos foi entregue através dos séculos pela Palavra de Deus escrita e
oral.
Notas:
1. 0 Anglicanismo ou Episcopalianismo apresenta dois ramos: a “High
Church” (Alta Igreja), próxima do Catolicismo, e a “Low Church” (Baixa
Igreja), mais sujeita às influências dos Reformadores do século XVI… Os
anglícanos descontentes com a índole “católica” da Igreja oficial,
emigraram para os Estados Unidos, onde têm sido vítimas de subjetivismo
crescente, que vai esfacelando o bloco protestante: multiplicam-se os
fundadores de “igrejas” na base de intuições pessoais; essas diversas
“igrejas” têm sua ascensão e seu declínío, dando lugar a um reavivamento
(´revival´), que por sua vez declina e, conseqüentemente, ocasiona
outro reavivamento…
2. As objeções dos protestantes contra as imagens e os Santos, o
purgatório, a S. Escritura, o Santo Sacrifício da Missa, o Papado…
decorrem da posição assumida por eles no tocante à Palavra, à Igreja e
aos sacramentos. Feito o acordo sobre estes três pontos, os demais
deixarão de causar dificuldades.
“A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma como o
próprio Corpo do Senhor, já que, principalmente na Sagrada Liturgia,
sem cessar toma da mesa tanto da Palavra de Deus quanto do Corpo de
Cristo o pão da vida, e o distribui aos fiéis” (Constituição Dei Verbum
no 21). Ver Presbyterorum Ordinís no 18, Perfectae Caritatis nº 6.
3. Podemos lembrar que, durante as disputas políticas que se seguiram
ao brado reformador de Lutero, ficou estabelecido que cada território
alemão teria oficialmente a religião do seu governante: “Cuius regio,
eius refigio”.
4. Quando se diz que a Igreja é “una, santa, católica e apostólica”,
não se entende diretamente a índole missionária da Igreja, mas o fato de
que ela está fundada sobre Cristo e, necessariamente mediante os
Apóstolos, chega até nós… Em conseqüência, percebe-se que a Igreja
fundada por Cristo não pode ser recomeçada, por mais evidente que seja a
fragilidade dos seus membros. Quem rompe com a Igreja de Cristo e funda
“sua Igreja” (luterana, calvinista, wesleyana… adventista, batista…)
perde a garantia da presença indefectível do Senhor prometida aos
Apóstolos e seus sucessores até o fim dos tempos (cf. Mt 28,18-20).
Institui uma sociedade que só tem o valor e a eficácia dos homens que a
compõem e que, portanto, está sujeita a ser substituída por outra
sociedade humana, devida a outro ´fundador´, sempre em condições muito
precárias. São tantas e tantas as “igrejas” protestantes, umas derivadas
das outras!
Dom Estevão Bettencourt
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