Pular para o conteúdo principal

A Liturgia da Palavra

Na celebração da Santa Missa, estamos diante de duas mesas que guardam em si uma relação de unicidade: A Mesa da Palavra de Deus e a Mesa do Pão do Senhor. “A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo.” .


Na Mesa da Palavra Deus há um diálogo vivo e eficaz: Deus fala ao homem e o homem escuta. Não podemos diminuir ou limitar a voz de Deus quando a sua Palavra é proclamada na Missa, pois quando Deus fala, Ele expressa o seu amor, dá a salvação ao homem e o instrui para a um caminho de felicidade plena. E quando o homem escuta, não deve ter uma postura de passividade e descompromisso, mas um deixar-se fecundar, compreendendo a Palavra por meio de uma resposta de vida e uma ação concreta.

Renova-se assim o gesto de Jesus Ressuscitado ao revelar-se em Emaús: explicou aos discípulos a Palavra, começando por Moisés e todos os profetas (Lc 24,27), fazendo arder os corações dos discípulos ao explicar as Sagradas Escrituras, “e, estando com eles à mesa, tomou o pão, abençoou, partiu e lhes deu” (Lc 24,30).

Na Mesa do Pão do Senhor, “se realiza o sacrifício que o próprio Cristo instituiu na Última Ceia” , no qual Ele oferece de si mesmo ao homem como verdadeiro cordeiro pascal, capaz de expiar os pecados do mundo inteiro.

O que nos resta é dar o culto que é devido a Deus: unir a oferta de Cristo a nossa oferta de vida. Na Mesa do Corpo de Cristo não somos passivos ao seu sacrifício, mas somos envolvidos por tão grande graça a ponto de fazer da nossa existência um ato oblativo de vida.

A Liturgia da Palavra

A Liturgia da Palavra é composta pelas leituras da Sagrada Escritura, homilia, profissão de fé e oração universal. Nas leituras, exceto aos domingos e solenidades, temos uma leitura do Antigo Testamento (exceto no Tempo Pascal ou Natal), um Salmo e o Evangelho. Nos domingos é disposta uma segunda leitura após o Salmo, que pertence ao Novo Testamento (cartas Paulinas, cartas de São João, Tiago, Judas). Essas leituras são escolhidas por meio da organização dos textos sagrados durante um ano, que chamamos de Ano Litúrgico (que são três: Ano A, Ano B e Ano C).

“Quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja, o próprio Deus fala ao seu povo, e Cristo, presente em sua Palavra (cf. SC, 7), anuncia o Evangelho. Por isso todos devem escutar com veneração as leituras da Palavra de Deus, elemento de máxima importância da Liturgia” (Instrução Geral ao Missal Romano, 9).

É muito importante dar a devida atenção à escuta da Palavra de Deus, para mergulhar mais profundamente no tempo litúrgico que estamos inseridos e também para nos prepararmos para a união com o Corpo Eucarístico de forma mais profunda e vivencial. Vale ressaltar a importância de escolher pessoas preparadas para proferir as leituras, irmãos que sejam capazes de bem desempenhá-las.

Primeira Leitura, Salmo e Evangelho

No Antigo Testamento, Deus revela o mistério do homem em sua criação, da sua queda no pecado original e da constante busca de Deus para o retorno do homem para uma Aliança. Assim, prefigurando a Antiga Aliança a nova e eterna Aliança concebida em Cristo, como Igreja somos convidados a compreender o caminho de eleição por parte de Deus a um povo escolhido. Nós, como Igreja, olhamos desde os primórdios a fidelidade e a providência divina.

“A economia do Antigo Testamento destinava-se, sobretudo, a preparar, a anunciar profeticamente e a significar com várias figuras o advento de Cristo, redentor universal, e do reino messiânico” . Quando estivermos escutando a proclamação da leitura do Antigo Testamento, nós nos deparamos com o caráter pedagógico e revelador da verdade apresentada por Cristo.

Assim, estas leituras, apesar de serem representadas por figuras, “manifestam todo o conhecimento de Deus e do homem” , ou seja, “apesar de conterem também imperfeições e coisas relativas a um determinado tempo, revelam, contudo, uma verdadeira pedagogia divina” .

Os Salmos são cânticos de louvor, “poemas orantes que exercem decisiva e fundamental importância para a experiência da fé e do culto do povo eleito” . Neles podemos na Celebração Eucarística responder à primeira leitura na própria oração de Cristo, expressando alegrias, esperanças e louvores da Assembleia Litúrgica.

Nos dias de domingo ou nas solenidades da Igreja, temos a segunda leitura que é tirada das epístolas, seja das Cartas de São Paulo, de São João e de São Tiago. Nelas mergulhamos nos ensinamentos e na vida de Cristo por meio da compreensão teológica destes apóstolos, que tão profundamente e por inspiração de Deus souberam transmitir a Palavra de Deus como fonte de Revelação divina.

Já no Evangelho, com o seu lugar de destaque, pois é o Nosso Senhor que com a sua vida, gestos e palavras, ensina ao homem o caminho da bem-aventurança, estamos diante do próprio Cristo. O Verbo se fez carne, estabeleceu o seu Reino na terra, foi crucificado, morto, ressuscitou e ascendeu aos céus.

A proclamação do Evangelho tem um lugar de destaque na Celebração Eucarística. Por isso o Evangelho deve ser aclamado pelos fiéis antes de ser proclamado. A Assembleia aclama o próprio Cristo que irá falar por meio do sacerdote (in personna Cristi).

Ademais, pode-se ter uma procissão com o Evangeliário, com um diácono ou com o sacerdote que irá proclamar o Evangelho, o qual representa o próprio Cristo que, em sua Palavra, passa no meio do seu povo. O sacerdote ou o diácono pode também incensar a Mesa da Palavra, representando toda a piedade e veneração que o Evangelho tem para a Igreja.

Homilia, profissão de fé e oração universal

A homilia é o momento em que o sacerdote ou o diácono, como um pai de família, reúne o povo de Deus para explicar e esclarecer as leituras da Missa. “É função da homilia atualizar a Palavra de Deus, fazendo a ligação da Palavra escutada nas leituras com a vida e a celebração. É importante que se procure mostrar a realização da Palavra de Deus na própria celebração da ceia do Senhor. (…) [A homilia deve ser] simples, clara, direta e adaptada, profundamente aderente ao ensinamento evangélico e fiel ao magistério da Igreja. Para isso é necessário que a homilia seja bem preparada, relativamente curta e procure prender a atenção dos fiéis” (CNBB, Animação da vida litúrgica no Brasil, doc. 43, n. 276-277).

“O símbolo ou profissão de fé na celebração da Missa tem por objetivo levar o povo a dar seu assentimento em resposta à Palavra de Deus ouvida nas leituras e na homilia, bem como recordar-lhe a regra da fé antes de iniciar a Celebração Eucarística” . Professar a nossa fé, citando todos os seus pontos centrais, faz-nos sintetizar e sistematizar o conteúdo dogmático em uma resposta de palavra e de vida.

Assim, professamos a nossa fé e aderimos ao mistério de verdade que a Palavra de Deus em si traz. A adesão que nos é dada pela profissão de fé tem um caráter de unidade com a Igreja do mundo inteiro e de comunhão com a Palavra de Deus.

Com a Oração Universal se conclui a Liturgia da Palavra. “Na oração universal ou oração dos fiéis, exercendo a sua função sacerdotal, o povo suplica por todos os homens” . Tudo o que foi vivenciado na Liturgia da Palavra é concluído por meio de uma oração, que é proferida pelos fiéis. O povo de Deus reza e suplica a Deus no uso do seu múnus sacerdotal. A Igreja orienta que deve-se rezar “pela Santa Igreja, pelos governantes, pelos que sofrem necessidades, por todos os homens e pela salvação do mundo todo” .

“O conhecimento, e o estudo da Palavra de Deus permitem-nos valorizar, celebrar e viver melhor a Eucaristia; também aqui se mostra em toda a sua verdade a conhecida asserção: ‘A ignorância da Escritura é a ignorância de Cristo’”



Márcio André Barradas
Missionário da Comunidade Católica Shalom

Artigo publicado originalmente na Revista Shalom Maná
 https://comshalom.org/a-santa-missa-parte-por-parte-a-liturgia-da-palavra-2/

Comentários

Pensemos...

ORAÇÃO DE EXORCISMO DO PAPA LEÃO XIII

ANTES DE INICIAR A ORAÇÃO 1.Todo aquele que recita este exorcismo, pondo em fuga o demônio, pode preservar de grandes desgraças a si mesmo, a família e a sociedade. Privadamente, pode ser rezado por todos os simples fiéis. 2. Aconselha-se rezá-lo em casos de discórdia de família, de partidos, de cidades; nas casas dos ateus, dos blasfemadores, para sua conversão; onde se praticou o ocultismo; para obter uma boa solução nos negócios; para a escolha do próprio estado de vida; pela conservação da fé na família ou paróquia; pela santificação de si mesmo e dos entes queridos. 3. É poderoso nos casos de intempéries, de doenças, para obter uma boa colheita, para destruição dos insetos nocivos aos campos, etc. 4. Satanás é um cão furioso que ronda em volta de nós para nos devorar, como nos escreve Pedro, em sua primeira carta: “Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar” (5,8). 5. O Pa

Maria busca um lar

Maria é a Mãe do Senhor, a Mãe de Deus. Esta é uma verdade de fé. Isabel, diante de Maria já grávida do Filho de Deus, exclamou: Donde me vem que a Mãe do meu Senhor me visite? (Lc 1,43). Ser Mãe do Filho de Deus feito homem para que os homens pudessem ser filhos de Deus, eis a grandeza de Maria! O mistério escondido do amor de Deus tornou-se visível no Filho de Maria. Sem Maria, não teríamos Jesus Cristo, a última palavra do Pai, nem a Redenção operada por Ele. Por Maria, o Pai deu tudo e disse tudo. O Tudo é o Jesus de Maria. Este é meu Filho amado: escutai-o! A vida de Maria foi uma longa caminhada e uma longa experiência de fé. Meditava e conservava no coração o que via e o que ouvia acerca do seu Filho e de si mesma. Maria foi a porta e a casa da primeira morada do Filho de Deus na terra. Em tudo semelhante ao homem, sua chegada foi velada e desapercebida, mas naquele corpo escondia-se o maior mistério de amor. O primeiro passo, em seu caminho de vinda, foi dado com o auxílio

Irmã Dulce será Beatificada.

SALVADOR, quarta-feira, 27 de outubro de 2010 ( ZENIT.org ) – O arcebispo de Salvador (nordeste do Brasil), cardeal Geraldo Majella Agnelo, anunciou na manhã desta quarta-feira que a Irmã Dulce será beatificada em breve. Segundo informa a arquidiocese, o pronunciamento foi feito na sede das Obras Sociais Irmã Dulce, em Salvador. O cardeal informou que até o fim do ano encerra o processo e será conhecida a data da cerimônia de beatificação. De acordo com o arcebispo, uma comissão científica da Santa Sé aprovou esta semana um milagre atribuído à religiosa, fato decisivo no processo de beatificação. Segundo Dom Geraldo, a religiosa é exemplo para os cristãos e a sua história de vida é o que justifica a beatificação e o processo de canonização. “Todo santo é um exemplo de Cristo, como foi o caso dela [Irmã Dulce]; aquela dedicação diuturna durante toda a vida aos pobres e sofredores.” A causa da beatificação da religiosa brasileira foi iniciada em janeiro do ano 2000 pelo pró

A SANTA IGREJA CATÓLICA APOSTOLICA

A Igreja Católica, chamada também de Igreja Católica Romana e Igreja Católica Apostólica Romana , é uma Igreja cristã colocada sob a autoridade suprema do Papa, Bispo de Roma e sucessor do apóstolo Pedro, sendo considerada pelos católicos como o autêntico representante de Deus na Terra e por isso o verdadeiro Chefe da Igreja Universal (Igreja Cristã ou união de todos os cristãos). Seu objectivo é a conversão ao ensinamento e à pessoa de Jesus Cristo em vista do Reino de Deus. Para este fim, ela administra os sacramentos e prega o Evangelho de Jesus Cristo. Ela não pensa como uma Igreja entre outras mas como a Igreja estabelecida por Deus para salvar todos os homens. Esta ideia é visível logo no seu nome: o termo "católico" significa universal em grego. Ela elaborou sua doutrina ao longo dos concílios a partir da Bíblia, comentados pelos Pais e pelos doutores da Igreja. Ela propõe uma vida espiritual e uma regra de vida aos seus fiéis inspirada no Evangelho e definidas de man

O que quer dizer “Completo em minha carne o que falta às tribulações de Cristo”?

Os dizeres do Apóstolo se explicam sem dificuldade, desde que se tenham em vista os seguintes tópicos:   Origem do texto São Paulo estava detido no cárcere em Roma, durante o biênio de 61 a 63. Sofria naturalmente com isto, pois, cheio de ardor pela salvação das almas, desejaria continuar a percorrer o mundo e pregar, como havia feito até então. Prisioneiro, São Paulo mantinha, não obstante, vivo intercâmbio com os fiéis das mais distantes regiões, procurando dar a todos uma palavra de orientação oportuna. Foi o que o levou a escrever aos cristãos de Colossas (Ásia menor) uma carta, na qual se encontra o trecho que nos interessa. Aproximemo-nos, pois, de tal passagem. No inicio da missiva, São Paulo se refere ao Evangelho e à sua vocação de ministro do Evangelho: aludindo a isso, verifica que toda a sua vida, seus trabalhos, sua liberdade e seu cativeiro, estão consagrados ao ministério apostólico; em consequência, nada lhe pode parecer inútil ou vão, nem mes

Dom Luiz Soares Vieira recebe a Medalha de Ouro Cidade de Manaus

A Câmara Municipal de Manaus realizou sessão solene, 16/12, às 10h (horário local) para entregar a Medalha de Ouro Cidade de Manaus ao arcebispo metropolitano de Manaus e vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Luiz Soares Vieira, pelo trabalho realizado durante quase duas décadas a frente da arquidiocese.A medalha é a mais alta comenda concedida pelo Poder Legislativo Municipal a um cidadão. A homenagem deve-se a dedicação de dom Luiz ao Estado, realizando trabalhos missionários e levando a palavra de Deus a toda a população. O arcebispo de Manaus nasceu na cidade de Conchas (SP). Cursou Filosofia no Seminário Central do Ipiranga, de São Paulo, e Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Foi ordenado aos 22 anos, antes da idade permitida, precisando, portanto, de uma licença especial do Papa para poder exercer o Ministério. Completou os estudos em Filosofia na Universidade de Mogi das Cruzes (SP), trabalho

As Sagradas Imagens são Idolatria? São João Damasceno adversus Calvino

São João Damasceno (676-749 d.C) defendeu a prática cristã tradicional da exibição e veneração das imagens e seus ensinamentos foram afirmados no Sétimo Concílio Ecumênico (Nicéia, 787 d.C). Quase oito séculos mais tarde, este debate foi reacendido pela Reforma Protestante, com muitos dos reformadores (com a notável exceção de Martinho Lutero) abraçando iconoclastia radical, a ponto de destruírem imagens ativamente.  João Calvino (1509-1564) incluiu um capítulo sobre as imagens em seu trabalho histórico as “ Institutas da Religião Cristã ”, onde ele expôs uma forte posição iconoclasta, seguido de um capítulo sobre a veneração de santos. São estes capítulos que serão analisados e criticados neste ensaio, em contraposição à sabedoria patrística de São João Damasceno. Todas as citações bíblicas serão tomadas a partir da versão da Bíblia João Ferreira de Almeida. O PRIMEIRO E SEGUNDO MANDAMENTO (ÊXODO 20, 2-6) “ [1º] Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tire