São
João Damasceno (676-749 d.C) defendeu a prática cristã tradicional da
exibição e veneração das imagens e seus ensinamentos foram afirmados no
Sétimo Concílio Ecumênico (Nicéia, 787 d.C). Quase oito séculos mais
tarde, este debate foi reacendido pela Reforma Protestante, com muitos
dos reformadores (com a notável exceção de Martinho Lutero) abraçando
iconoclastia radical, a ponto de destruírem imagens ativamente.
João Calvino (1509-1564) incluiu um capítulo sobre as imagens em seu trabalho histórico as “Institutas da Religião Cristã”,
onde ele expôs uma forte posição iconoclasta, seguido de um capítulo
sobre a veneração de santos. São estes capítulos que serão analisados e
criticados neste ensaio, em contraposição à sabedoria patrística de São
João Damasceno.
Todas as citações bíblicas serão tomadas a partir da versão da Bíblia João Ferreira de Almeida.
O PRIMEIRO E SEGUNDO MANDAMENTO (ÊXODO 20, 2-6)
“[1º] Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim.
[2º] Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.” (Êxodo 20, 2-6)
[2º] Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.” (Êxodo 20, 2-6)
Estes
mandamentos apresentam claramente um contraste entre o Deus de Israel e
os falsos deuses de outras nações. Deus exige adoração exclusiva e
proíbe as práticas idólatras de adorar falsos deuses na forma de
criaturas ou objetos, ou de venerar objetos sagrados associados com
falsos deuses. [Ver mais aqui]
O segundo mandamento pode, portanto, ser lido não como uma proibição
indiscriminada de imagens, mas como uma proibição da categoria de
imagens que são usadas na adoração de falsos deuses. Isso é reforçado
pelo primeiro mandamento, que proíbe a sujeição a outros deuses, e pela
maneira que Deus descreve a si mesmo como “ciumento”, evocando a
imagem de um marido cuja esposa busca atrás de outros homens (a
metáfora utilizada regularmente nas Escrituras, por exemplo, Jeremias 3,
20).
O
segundo mandamento também faz uma distinção sutil entre o verdadeiro
Deus, que não pode ser descrito, e os falsos deuses que são visivelmente
retratados por ídolos. Isto é reiterado mais longamente em Deuteronômio
4, 15-40, e, como São João Damasceno observa, esta passagem proíbe a
representação do Deus invisível, o Pai:
“Guardai,
pois, com diligência as vossas almas, pois nenhuma figura vistes no dia
em que o SENHOR, em Horebe, falou convosco do meio do fogo;”(Deuterônomio 4,15)
O DEUS INVISÍVEL
Calvino alega sobre Deus que: “formas visíveis feitas com a finalidade de representá-Lo são ficções falsas e perversas" e que "todas as tentativas humanas para dar uma forma visível para Deus são vaidade e mentiras.” (1). Ele também deduz que: “Se
é ilegal fazer qualquer representação corporal de Deus, ainda é mais
ilegal adorar essa representação em vez de Deus, ou para adorar a Deus
nele” (2). Calvino reconhece assim que não só é a adoração de
falsos deuses é um pecado, mas assim é falsa adoração do Deus
verdadeiro. Ele sugere que em certos momentos “os judeus foram persuadidos, que sob tais imagens adorariam o Deus eterno, o único e verdadeiro Senhor do céu e da terra”
(3), uma prática que desonra e deturpa Deus. Poderíamos chamar isso de
uma tentativa de refazer a Deus de acordo com os ideais humanos, em vez
de humildemente aceitar a verdade revelada por Deus.
São
João Damasceno está em pleno acordo com Calvino sobre estes pontos,
retoricamente pergunta, na sua Obra exposição exata da fé ortodoxa “quem pode fazer uma imitação do Deus sem forma, incircunscrito, incorpóreo e invisível?”. Ele, então, passa a dizer que “dar forma à Divindade é o cúmulo da loucura e impiedade. E, portanto, é que no Antigo Testamento o uso de imagens não era comum.” (4).
Da mesma forma, em seu tratado Contra os que condenam as imagens sagradas, São João explica que “Ele proíbe a feitura de imagem por causa da idolatria, e que é impossível fazer uma imagem de Deus, que é Espírito, invisível, e incircunscrito” (5)... “Se alguém se atreve a fazer uma imagem do Deus Todo-Poderoso, que é Espírito puro, invisível, incircunscrito, nós a rejeitamos como uma falsidade” (6). '
Da mesma forma, em seu tratado Contra os que condenam as imagens sagradas, São João explica que “Ele proíbe a feitura de imagem por causa da idolatria, e que é impossível fazer uma imagem de Deus, que é Espírito, invisível, e incircunscrito” (5)... “Se alguém se atreve a fazer uma imagem do Deus Todo-Poderoso, que é Espírito puro, invisível, incircunscrito, nós a rejeitamos como uma falsidade” (6). '
Tendo
estabelecido um acordo comum que Deus não pode ser representado de
forma visível, e que a adoração de falsos deuses é proibida, a pergunta
que surge naturalmente é se qualquer forma de imagens religiosas é
permissível?
A ARCA DA ALIANÇA E O TEMPLO DE SALOMÃO
Há
uma série de referências bíblicas que demonstram que imagens religiosas
são permitidas pelo Deus de Israel, quando elas não estão associadas a
falsos deuses e não falsamente descrevem Ele. Os versos seguintes
descrevem os elaborados e belos desenhos com que a Arca de Deus e Templo
foram enfeitados:
“Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório.” (Exôdo 25,18)
“E
O Tabernáculo farás de dez cortinas de linho fino torcido, e azul,
púrpura, e carmesim; com querubins as farás de obra esmerada.” (Êxodo 26, 10
“E no oráculo fez dois querubins de madeira de oliveira, cada um da altura de dez côvados.” (I Reis 6, 23)
“E revestiu de ouro os querubins. E todas as paredes da casa, em redor, lavrou de esculturas e entalhes de querubins, e de palmas, e de flores abertas, por dentro e por fora.” (I Reis, 6, 28-29)
“E sobre as cintas que estavam entre as molduras havia leões, bois, e querubins, e sobre as molduras uma base por cima; e debaixo dos leões e dos bois junturas de obra estendida.” (I Reis 7, 29).
“Para o interior do Santo dos Santos, mandou esculpir dois querubins e os revestiu de ouro.” (II Crônicas 3,10)
“Josué rasgou suas vestes e prostrou-se com a face por terra até a tarde diante da arca do Senhor, tanto ele como os anciãos de Israel, e cobriram de pó as suas cabeças” (Josué 7, 6)
“E
disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente ardente e põe-na sobre uma
haste; e será que viverá todo mordido que olhar para ela. E
Moisés fez uma serpente de metal e pô-la sobre uma haste; e era que,
mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de metal e
ficava vivo.” (Nm 21,8-9)
Estes
versos oferecem um esclarecimento vital do segundo mandamento, e é
especialmente significativo que as instruções para a decoração do templo
foram divinamente reveladas a Moisés na mesma montanha que ele recebeu
os mandamentos, e registrado no mesmo livro das Escrituras.
No entanto, Calvino descarta a importância desses objetos de culto divino, alegando que eles pertencem “à antiga tutela da lei” e que este tempo “já passou” (7). Ele afirma que é “absurdo... trazê-los para ao presente como um exemplo para a nossa época”,
mas não percebe que essas passagens demonstram que sua oposição a todas
as imagens religiosas é uma má interpretação do segundo mandamento. Se
ele não atribui qualquer relevância para as instruções de Deus a Moisés
no livro do Êxodo, em seguida, deve-se perguntar, por que motivo Calvino
está ainda preocupado com os Dez Mandamentos, que são da mesma fonte?
Tendo
tomado conhecimento das instruções divinas para decorar a Arca e o
Templo com imagens de querubins, São João Damasceno resume o segundo
mandamento assim:
“Não
farás para ti deuses de metal, e tu não fazer qualquer semelhança como
de Deus, nem adorar a criatura em vez do Criador, nem a qualquer
criatura como Deus...” (8)
Isso
abrange proibições de Deus contra a idolatria, deixando espaço para
imagens sagradas como as do Templo e reduzindo a capacidade de
interpretação errada. A formulação original do mandamento como foi
divinamente ditado a Moisés é perfeitamente adequada quando é lida no
contexto mais amplo do livro do Êxodo, mas o esclarecimento de São João é
útil para aqueles que estão confusos com a interpretação radical e
seletiva dos iconoclastas. Curiosamente, Martinho Lutero apoia a
interpretação do mandamento dada por São João:
“De acordo com
a lei de Moisés nenhuma outra imagem é proibida além do que uma imagem
de Deus que alguém adora. Um crucifixo, por outro lado, ou qualquer
outra imagem santa não é proibida... Nenhuma conclusão pode ser tirada a
partir das palavras: “Não terás outros deuses”, que não seja aquela que
se refere à idolatria. Onde porém imagens ou estátuas são feitas sem
idolatria, então tal tomada delas não é proibida, por causa da palavra
central, “Não terás outros deuses”, permanece intacta.” (9)
São
João Damasceno também entendeu o significado cósmico dos aspectos
visuais da adoração divina no Antigo Testamento. Ele se refere a Paulo
para seus leitores, que ensinou que o Templo e o culto realizado dentro
dele foram:
“Os
quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais, como Moisés
divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque
foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou.” (Hebreus 8, 5).
Este
verso proclama que o Templo não só continha imagens, mas era em si uma
representação, imagem ou ícone do céu. Uma vez que o templo foi modelado
após as coisas celestiais, seria lógico deduzir que o culto cristão
deve compartilhar algumas de suas características e formas (embora
transformada por Cristo), desde que as coisas celestiais não mudaram. E
não é só Deus imutável (Malaquias 3, 6), mas a adoração celestial
descrita em Ezequiel e Apocalipse tem uma notável continuidade.
O DEUS INVISÍVEL SE REVELA
O
aspecto mais negligente da dissertação de Calvino contra as imagens é o
seu completo fracasso ao enfrentar o argumento mais central de São João
de Damasco e dos iconófilos, que é a encarnação de Cristo. Calvino
afirma que
“O
Filho de Deus desceu do céu... milagrosamente ficou satisfeito ao ser
concebido milagrosamente no ventre da Virgem, para viver na terra, e se
pendurado na cruz” (10).
No entanto, ele não reconhece as implicações disto, que são explicadas por São João:
“É
claro que quando você contempla a Deus, que é puro espírito, tornando
se homem por nossa causa, você será capaz de vesti-lo com a forma
humana. Quando o Invisível se torna visível para a carne, então é
possível retratar a imagem de sua forma. Quando Ele, que é puro
espírito, sem forma ou limite, imensurável na imensidão de sua própria
natureza, existindo como Deus, toma sobre Si a forma de servo em
substância e em estatura, e um corpo de carne, então você pode desenhar
Seu semblante, e mostrá-lo para qualquer pessoa disposta a contemplá-lo.” (11)
“Por
isso atrevo-me a desenhar uma imagem do Deus invisível, não como
invisível, mas como tendo se tornado visível a nós através de carne e
osso. Eu não desenho uma imagem da divindade imortal. Eu pinto a carne
visível de Deus, pois é impossível representar um espírito, quanto mais
Deus, que dá fôlego para o espírito.” (12)
Enquanto
a proibição contra representação da divindade invisível do Pai
permanece, São João aplica as verdades cristãs da Trindade e da
Encarnação à sua doutrina de imagens sagradas. A segunda pessoa da
Trindade, o Logos divino, tem uma natureza humana com um corpo que é
verdadeiramente carne e, portanto, capaz de ser representado
visualmente. Calvino não menciona este fato, uma única vez no capítulo
11 das institutas, o que é surpreendente e desonesto. Sem incorporar a
encarnação do Logos divino em sua tese, Calvino está apresentando uma
teologia de imagens que é principalmente indistinguível do Islã.
Contraste
as palavras de Calvino com as palavras das Escrituras, que fornecem uma
crítica especialmente pungente iconoclastia de uma perspectiva
cristológica:
Calvino
“... Temos de mantê-lo como primeiro princípio, que tão frequentemente quanto qualquer forma é atribuída a Deus, a sua glória é danificada por uma mentira ímpia” (13)
As Escrituras:
“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;” (Felipenses 2, 5-7)
“Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, Segundo a tua palavra; Pois já os meus olhos viram a tua salvação, A qual tu preparaste perante a face de todos os povos; Luz para iluminar as nações, E para glória de teu povo Israel.” (Lucas 2, 29-30)
Estavam
os Apóstolos e São Simeão cometendo idolatria, olhando para a forma
humana visível de Cristo? Por acaso eles fechavam os olhos sempre que
Jesus estava presente? Certamente que não. Pois adorar a Cristo na Sua
carne humana é adorar a segunda pessoa da Trindade divina, e ver Cristo
em sua carne humana é ver a segunda pessoa da Trindade divina. O IV
Concílio Ecumênico (Calcedônia, 451 d.C), afirmou isto perfeitamente:
“[...]
Um único e mesmo Jesus Cristo, o Filho unigênito deve ser confessado
ser de duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis,
inseparáveis, e que, sem a distinção de naturezas sendo levadas por tal
união, mas sim a propriedade peculiar de cada natureza a ser preservada e
sendo unidas em uma pessoa e subsistência, não separado ou dividido em
duas pessoas, mas um só e mesmo Filho e unigênito, O Verbo de Deus,
nosso Senhor Jesus Cristo [...]”(14)
A
recusa em admitir que Cristo pode ser visivelmente representado na Sua
humanidade é uma negação do cristianismo, porque é uma negação de que o
Filho de Deus verdadeiramente “se fez homem”, como o Credo
Niceno professa. O fracasso de Calvino em mencionar esta doutrina
essencial uma vez em sua avaliação das imagens sagradas, demonstra que
sua doutrina de imagens não é centrada em Cristo, validando a inevitável
comparação com a religião iconoclasta do Islã.
Um pilar importante do argumento de Calvino é a sua afirmação audaciosa que:
“...Por
500 anos, durante nos quais a religião estava em uma condição mais
próspera, e uma doutrina mais pura florescria, as igrejas cristãs foram
completamente livre de representações visíveis. Daí a sua primeira
admissão como um ornamento para igrejas ocorreu após a pureza do
ministério ser um pouco degenerada.” (15)
Ele, portanto, alega que os iconófilos se afastaram da prática antiga dos cristãos e introduziram corrupções idólatras na fé.
Calvino
levanta Canon 36 um Sínodo de Elvira (Espanha) do início do IV século
em apoio da sua posição. O Concílio foi um pequeno e obscuro encontro de
bispos locais da área, comumente acreditavam ter ocorrido durante a
Grande Perseguição (ou Diocleciano Perseguição). O cânone é reproduzido a
seguir em duas traduções possíveis:
“Não deve haver imagens utilizadas nas igrejas: Que nada, que é adorado ou venerado seja pintado nas paredes” (16).
“Pareceu bem que as imagens não devem estar nas igrejas, de modo que o que é venerado e adorado não sejam pintados nas paredes.” (17)
Embora
isso possa parecer inicialmente apoiar a posição de Calvino, o
significado e intenção do cânone é, de fato, muito pouco claro. O cânon
era prático e não teológico, levando não a anátemas, condenações ou
argumentos de princípio contra imagens e não faz nenhuma acusação de
idolatria ou pecado. Mas, enquanto não há julgamento explícito sobre a
ortodoxia teológica de imagens, a própria existência do cânone sugere
que elas já eram um fenômeno generalizado.
Também não está claro por que
motivo o cânone refere-se especificamente às pinturas nas paredes, não a
quaisquer outras imagens. Um cenário possível, o que levaria os Bispos
locais espanhóis a desencorajar a prática de desenhar nas paredes é que
os perseguidores romanos iriam vandalizar e profana-las se eles
descobrissem. No mesmo sínodo, outro cânone condena a escrita de frases
em igrejas, o que possivelmente apoia esta teoria. Se o misterioso Canon
36 foi, como Calvino sugere, a resolução de uma controvérsia
iconoclasta localizada, então a história é completamente silenciosa
sobre o assunto, e qualquer que seja o verdadeiro propósito do cânon,
nunca foi discutido ou reiterado por um concílio maior na Igreja. Também
se deve notar que Calvino ignorou muitos dos outros cânones do Sínodo
de Elvira, como a obrigatoriedade do celibato clerical.
O
leitor das Institutas também é dirigido a Santo Agostinho (354-430 dC),
que defendeu a crença monoteísta em um Deus invisível contra a
idolatria pagã, com referência ao antigo erudito romano Varro, na Cidade
de Deus (Livro 4, Capítulo 31). Tal como foi referido, isto está
completamente de acordo com São João Damasceno, de modo a citação de
Calvino não tem relevância para imagens judaicas, como aquelas no Templo
de Salomão ou Cristão.
Eusébio de Cesaréia (260-339 d.C), cujo apoio Calvino também afirma, descreve a existência de uma estátua de Jesus e pinturas dos apóstolos, em sua História da Igreja (Livro 7, capítulo 18), refutando a alegação de Calvino que a igreja primitiva era “completamente livre de representações visíveis”.
Eusébio de Cesaréia (260-339 d.C), cujo apoio Calvino também afirma, descreve a existência de uma estátua de Jesus e pinturas dos apóstolos, em sua História da Igreja (Livro 7, capítulo 18), refutando a alegação de Calvino que a igreja primitiva era “completamente livre de representações visíveis”.
Há
amplo suporte arqueológico para a existência de imagens na Igreja
primitiva e especulações sobre passagens obscuras de textos antigos
certamente devem ser submetido à prova física. A escavação da cidade de
Dura-Europos (ver aqui)
na Síria durante o século 20 revelou uma igreja cristã e uma sinagoga
judaica que estão ambas pintadas extensivamente com belas imagens de
cenas bíblicas. Estas casas de culto ambas são anteriores à conquista
persa da cidade em 256 d.C, tornando este a mais antiga antiga Igreja
doméstica cristã conhecida.
As catacumbas cristãs em Roma desde a era
pré-Constantino foram igualmente adornadas, e a Igreja perseguida,
muitas vezes conduzia os seus serviços entre os túmulos. A evidência
arqueológica dos cristãos sírios e romanos do século III é problemática
para a tese de Calvino, para dizer o mínimo.
O PAPEL DAS IMAGENS NO CULTO CRISTÃO
Tendo
estabelecido a base cristológica para descrever o Logos divino, o papel
das imagens na adoração deve ser abordado. Calvino perguntou “por
que os homens se prostram diante de imagens? Por que, quando no ato de
orar, eles se voltam para elas como para os ouvidos de Deus?”
(18) iconófilos sempre responderam essa acusação apresentando a sua
crença de que a imagem não é Cristo, nem ele vive dentro dela, mas ele é
simbolizado por ela.
São João Damasceno afirma que o culto cristão deve incluir venerar e honrar a imagem de Cristo, pois “a honra dada à imagem passa para o protótipo” (19). Ele apoia esse princípio citando Colossenses 1, 15, que descreve Cristo como a “imagem do Deus invisível” e João 5, 23, que proclama que “aquele que não honra o Filho não honra o Pai que o enviou”. Portanto, São João conclui que “como nosso Senhor diz, assim, quem não honra a imagem não honra o original”
(20). Mais uma vez, ele emprega um método teológico verdadeiramente
cristão, que é começar com uma perspectiva cristológica e trinitária.
Esse entendimento encoraja os cristãos a “abraçar com os nossos lábios, a imagem de Cristo... enquanto em espírito julgamos que estamos abraçando o próprio Cristo” (21). Isto não é idolatria, porque “não é um culto da matéria, mas... a quem a matéria representa”
(22). Este não é um deus falso, nem uma falsa concepção do verdadeiro
Deus, mas o Logos encarnado, cuja forma humana verdadeira é representado
na imagem. São João Damasceno, citando São João Crisóstomo (347-407),
demonstra um conceito semelhante em sentido inverso, no mundo secular de
sua época:
“Se
você despreza a veste real, você não desprezar o próprio rei? Você não
vê que, se você despreza a imagem do rei, você despreza o original? Você
não sabe que se um homem mostra desprezo por uma imagem de madeira ou
uma estátua de metal, ele não é julgado como se ele tivesse desprezado
ele mesmo ou a matéria inanimada, mas como se mostrar-se desprezo pelo
rei? Desonra mostrada a uma imagem do rei é desonra mostrada ao rei.” (23)
Calvino realmente entendia que iconófilos cristãos “nem
adoraram a imagem, nem qualquer divindade que habita, mas por meio da
imagem corporal veem um símbolo daquilo que era seu dever de culto” (24). No entanto, em sua polêmica contra as imagens que ele funde continuamente essas três categorias, acreditando que “Não faz diferença ... é sempre idolatria quando honras divinas são pagas a um ídolo, ser da cor que for”
(25).
As três crenças sobre as imagens são, obviamente, distintas entre si, mas Calvino parece ser incapaz de compreender o que São João é capaz de “prostrar-se e não adorar o material, mas o que é representado” (26). As Escrituras dão suporte a São João Damasceno, por que comprovam a legitimidade de mostrar honra aos bjetos sagrados durante a prece:
As três crenças sobre as imagens são, obviamente, distintas entre si, mas Calvino parece ser incapaz de compreender o que São João é capaz de “prostrar-se e não adorar o material, mas o que é representado” (26). As Escrituras dão suporte a São João Damasceno, por que comprovam a legitimidade de mostrar honra aos bjetos sagrados durante a prece:
“Porém eu entrarei em tua casa pela grandeza da tua benignidade; e em teu temor me inclinarei para o teu santo templo.” (Salmo 5, 7)
“Então Josué rasgou as suas vestes, e se prostrou em terra sobre o seu rosto perante a arca do SENHOR...” (Josué 7: 6).
Calvino
também sugere que não há diferença entre as honras que iconófilos dão
as imagens e para Deus, mas um exame superficial da prática cristã
tradicional mostra que isso é falso. As honras dadas a imagens de Cristo
são limitadas ações físicas que honram o protótipo que é retratado, com
a madeira ou pedra apenas agindo como um símbolo. Mais formas de culto,
como a oração e a oblação da Eucaristia nunca são direcionadas para uma
imagem física, pois os cristãos não rezam a madeira ou pedra, mas a
Deus. A presença de imagens durante a oração simplesmente permite
acompanhar honras físicas dadas à imagem de Cristo e para ajudar o
adorador na contemplação d’Ele cuja semelhança vêem.
OS OBJETOS SACROS
Calvino afirma que “nós
sabemos muito bem, por experiência que as imagens do momento aparecem
nas igrejas, a idolatria tem como levantar a sua bandeira; porque a
loucura da humanidade não pode moderar-se, mas imediatamente cai no
culto supersticioso” (27). Seu problema é que muitas vezes
iconófilos frequentemente atribuem sacralidade especial ou honra a
certas imagens. Para Calvino, uma imagem se torna um ídolo quando o
poder de Deus “é supostamente ser anexada a ela” (28) e ele vê
isso como idêntico ao Deus que habita na imagem ou a imagem que tem
poder próprio. Portanto, Calvino acredita que ele pode taxar os
iconófilos com idolatras com a pergunta:
“...
Por que tais distinções feitas entre imagens diferentes do mesmo Deus,
que enquanto um está passando, ou recebe apenas honra comum, outra é
adorada com as maiores solenidades? Por que eles se cansar com
peregrinações votivas às imagens, enquanto eles têm muitas outras
semelhantes em casa? Por que no presente momento é que eles lutam por
eles ao sangue e abate, assim como para os seus altares e corações,
mostrando mais vontade de participar com o único Deus do que com os seus
ídolos?” (29)
Estas
perguntas podem ser resumidas por apenas perguntar se a graça de Deus
sempre age milagrosamente através de objetos específicos, ou se todos os
objetos sagrados são dignos de honra especial. Se isso puder ser
respondido afirmativamente, então o argumento de Calvino seria refutado,
porque não haveria nenhuma razão para que imagens sagradas específicas
não devessem inspirar maior reverência do que outras. A Sagrada
Escritura, de fato, apresenta uma série de objetos através dos quais
Deus age poderosamente, ou defende particularmente da desonra e
profanação.
Os cajados de Arão e Moisés (Êxodo 7:10, 7:20, 8: 5, 08:16, 17: 9-11, Números 17: 8)
A serpente de bronze (Números 21: 8-9)
A Arca da Aliança (1 Samuel 5: 1-6, 2 Samuel 6: 6-7)
O manto de Elias (2 Reis 2, 14)
Os ossos de Eliseu (2 Reis 13, 21)
Os vasos de ouro e prata do templo (Daniel 5, 2-30)
A piscina de cura em Jerusalém (João 5, 2-4)
As vestes do apóstolo Paulo (Atos 19, 11-12) e etc.
Estas
passagens, entre outros, deixam bem claro que Deus às vezes usa objetos
particulares como canais de seu poder, enquanto outros objetos eram
dignos de reverência especial na medida em que Deus trouxe a morte sobre
aqueles que não os respeitavam. As objeções de João Calvino para certas
imagens que estão sendo tendo honra maior do que as outras podem,
portanto, ser julgadas improcedentes, porque o Deus de Israel, muitas
vezes abençoou objetos físicos particulares com poder ou santidade e
exigiram que fossem especialmente honrados.
O ANTI-MATERIALISMO GNÓSTICO DE CALVINO
O Santo Ortodoxo Nikolai Velimirovic (1880-1956), talvez com Calvino em mente, escreveu o seguinte lamento:
“Protestantes
rejeitaram os milagres de Deus por meio de coisas materiais. Ao fazer
isso, eles pensavam espiritualizar a fé cristã no entanto, ao fazer
isso, eles têm empobrecido e deformado cristianismo. Eles rejeitaram a
ação do poder de Deus através de ícones, através das relíquias dos
santos, através da Cruz e, finalmente, alguns deles até mesmo através do
poder da Sagrada Comunhão. Se eles forem seguir este caminho errôneo,
eles teriam de rejeitar até mesmo os milagres que ocorreram a partir do
corpo vivo do Senhor Jesus, pois o seu corpo era material; o mesmo com
os milagres pelo toque das mãos dos Apóstolos e das mãos dos santos,
pois estas mãos também são materiais e nem mesmo mencionam a vara de
Moisés, ou a vestimenta do Santíssimo primogenito de Deus, do lenço do
Apóstolo Paulo e assim por diante. Em sua rejeição, os protestantes
estão em contradição com toda a Igreja antiga.” (30)
Calvino
demonstra por que ele provocou tais críticas constantemente
apresentando uma dicotomia entre as atividades racionais ou mentais
(como “pregação da Palavra” e a “revelação da... filosofia
celestial”(31)) e matéria física. Ele acredita que é “supersticioso”
(32) pensar que as imagens podem criar uma união mais profunda com Deus,
e ele chama o uso de objetos físicos na adoração de “carnal” (33). Ele
castiga os iconófilos, que não estavam “contentes com a compreensão espiritual” e “julgavam que, por meio de imagens, adquiriram compreensão mais segura e mais íntima da divindade”
(34). Calvino parece considerar isso degradante a Deus, ser associado a
coisas materiais, apesar de sua crença professada na encarnação de
Cristo.
A
crença de que a matéria física é inferior à mente e ao espírito era uma
característica marcante das várias heresias gnósticas, incluindo a
heresia maniqueísta que negou a bondade da criação física. Estas crenças
declaravam que aquele mundo material tinha que ser precedido por meio
de conhecimento (gnose). A semelhança com a iconoclastia de Calvino é
aparente, e não é surpreendente que São João Damasceno tratou disso
contra os seus adversários:
“Não despreze a matéria, pois não é desprezível. Nada do que Deus tem feito é. Esta é heresia maniqueísta.” (35)
“Você
olha para baixo sobre a matéria e a chama de desprezível. Isto é o que
fizeram os maniqueístas, mas a Sagrada Escritura declara que é bom, pois
ela diz: “E Deus viu tudo o que tinha feito, e era muito bom” (Gn 2, 31). Eu digo a matéria é criação de Deus e uma coisa boa. Agora, se você diz que é ruim, você quer dizer que não é de Deus, ou você faz dele a causa do mal.” (36)
São
João Damasceno também argumenta que é incoerente e ridículo exaltar
alguns dos nossos sentidos físicos e denegrir os outros como Calvino
faz. A filosofia iconoclasta de Calvino afirma que os cristãos podem
usar meios fonéticos e literários de edificação e de culto, mas não os
visuais ou tácteis. “A imagem fala à vista como as palavras ao ouvido”
(37), rebateu São João, também aponta que os livros contêm imagens
escritas em suas descrições e representações de objetos e eventos reais.
No geral, São João é simplesmente reitera a doutrina cristã básica que
os seres humanos têm um corpo, alma e intelecto e que Deus criou todos
eles para serem utilizados para sua glória:
“Os
apóstolos conheceram nosso Senhor com os olhos corporais, outros
conheceram os apóstolos, outros os mártires. Eu, também, desejo vê-los
no espírito e na carne, e possuir um remédio salvador como eu sou um ser
composto. Eu vejo com meus olhos, e reverencio o que representa o que
eu honro, embora eu não o adoro como Deus. Agora você, talvez, seja
superior a mim, e está acima das coisas corporais, e seja, por assim
dizer, não de carne, você fazer luz sobre o que é visível, mas como eu
sou humano e revestido de um corpo, eu desejo ver e ser corporalmente
com os santos..” (38)
Como
os iconoclastas do século 8, Calvino também acredita que o pão e o vinho
da Santa Comunhão são os únicos símbolos visíveis admissíveis em
adoração, mas São João aponta que isso é inconsistente:
“Se
você disser que só culto intelectual convém a Deus, tire todas as
coisas corpóreas, luz, incenso, a oração se for através da voz física,
os próprios mistérios divinos que são oferecidos através da matéria, pão
e vinho, o óleo do crisma, o sinal da Cruz, pois tudo isso é matéria.” (39)
Esta
passagem foi extremamente presciente, porque muitos dos protestantes
que são descendentes espirituais de Calvino de fato abandonaram o sinal
da Cruz, o óleo do crisma, velas e a fragrância de incenso, enquanto
também abandonaram o pão e o vinho da comunhão ou viam-no como apenas um
meio para ajudar a contemplação intelectual. Eles também têm muito
reduzido tempo gasto em oração comunitária em favor de longos sermões e
estudos bíblicos, com foco na racionalidade acadêmica da exegese
histórico-gramatical.
AS IMAGENS PODEM PODE SER ÚTEIS OU EDIFICANTES?
Calvino afirma que “tudo a respeito de Deus que é aprendido de imagens é fútil e falso” (40), afirmação que é obviamente falsa após a encarnação do Logos divino. Ele também orienta que “a
doutrina comum a todos dever ser estabelecida pela pregação da Palavra,
e a administração dos sacramentos- uma doutrina a qual pouca atenção
pode ser dada por aqueles cujos olhos são levados para lá e para cá
contemplando ídolos.” (41). No entanto, ele tem a pretensão de que ele não é “tão supersticioso quanto a pensar que todas as representações visíveis de todo tipo são ilegais” (42). Ele admite que representações históricas, “que dão uma representação de eventos... são de alguma utilidade para a instrução ou admoestação” (43). Por outro lado, ele acredita que as imagens que “meramente exibem formas e figuras corporais” não tem qualquer valor, e observa com desaprovação que estes “são quase o único tipo que não foram até agora expostos nas igrejas”. (44).
Deve
em primeiro lugar salientar que Calvino para que nunca tinha visitou
qualquer Igreja Católica, que sempre contêm imagens históricas de cenas
bíblicas. De acordo com São João:
“Muitas
vezes, sem dúvida, quando não temos a paixão do Senhor em mente e vemos
a imagem da crucificação de Cristo, Sua paixão salvadora é trazida de
volta à memória, e nós prostramos e não adoramos o material, mas o que é
imaginada” (45)
São João também afirma que uma imagem de Cristo nos permite “olhar para seus sofrimentos salvadores”, “nos maravilharmos em Sua condescendência” e “contemplar Seus milagres” (46). As imagens são “um benefício puro e ajudam a salvação” (47), porque eles são “a lembrança de acontecimentos passados” e eles nos levam a “desejar e imitar o que é bom, fugir e odiar o que é mau”
(48). São João também chama a atenção para Josué 4, 20-24, em que Deus
ordena a criação de um memorial visual para encorajar Israel a “temer ao Senhor vosso Deus para sempre”.
Este mesmo princípio está em operação com as “formas corporais e
figuras” dos Santos, que Calvino descarta. Eles são uma lembrança dos
atos piedosos e heroicos que Deus operou por meio de seus servos e uma
inspiração para imitá-los. Eles também são um lembrete de que “estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas”
(Hebreus 12, 1) uma vez que todos os fiéis cumprem juntos com Deus,
vivos ou mortos. Martinho Lutero apoia a exegese de São João Damasceno e
contraria Calvino, mais uma vez, ao escrever que:
“...
Imagens para memorial e testemunho, como crucifixos e imagens de
santos, são para ser tolerados. Isso é mostrado acima como sendo o mesmo
caso da lei mosaica. E elas não estão apenas para serem toleradas, mas
por causa do memorial e do testemunho, elas são louváveis e honradas,
como as pedras testemunhas de Josué (Josué 24:26), e de Samuel (I Samuel
7, 12).” (49)
São
João também invoca Mateus 22, 20-21, onde a imagem de César sobre a
moeda é usada para representar o seu poder, autoridade e propriedade.
Segue-se naturalmente que a imagem de Cristo deve ser usada da mesma
forma nas igrejas cristãs, para demonstrar o seu domínio real sobre a
Igreja e o mundo.
CALVINO OBJETA CONTRA A HONRA DADA AOS SANTOS
No
capítulo 12 dos Institutos, Calvino argumenta que a veneração dos
santos e a oração a eles é herética e idólatra. Este é um tema
relevante, pois é com base nisso que ele rejeita a criação e veneração
das imagens dos santos. Calvino afirma que “o
culto que papistas prestam aos santos não difere em nenhum aspecto da
adoração de Deus: pois este culto é prestado sem distinção”. (50) e que não se pode venerar um santo “sem derrogar a glória de Deus” (51 ). Calvino resume sua advertência assim:
“homens
nunca distinguem com tanta precisão entre a adoração de Deus e as
criaturas não transferindo assim indiscriminadamente para a criatura o
que pertence somente a Deus. Portanto, se nós temos um só Deus,
lembremo-nos de que nunca podemos nos apropriar de uma parcela diminuta
da sua glória sem reter o que lhe é devido.” (52)
Há
muitos exemplos nas Escrituras onde a honra é dada aos homens, tais
como Gênesis 33, 3. No entanto Calvino faz uma distinção entre a honra
“civil” e “religiosa”, alegando que só é admitido honrar os seres
humanos no primeiro caso uma vez que a última causa “profanação da honra divina” (53). É “impossível que um culto ligado com a religião não saborei um pouco do culto divino”, ele afirma (54).
São João Damasceno argumenta em favor de homenagear os santos, mais uma vez, invocando o princípio de que “a honra prestada à imagem passa para o protótipo”
(55). Gênesis 1 recorda que Deus criou o homem à Sua imagem, razão pela
qual os fiéis na igreja e os ícones dos Santos são ambos homenageados
com incenso na Missa. II Coríntios 3, 18 se desenha neste princípio,
proclamando que:
“Mas
todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do
Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como
pelo Espírito do Senhor.”
Os
santos foram mais perfeitamente transformados a imagem de Cristo e,
portanto, recebem homenagem especial. São João Damasceno também vê os
santos como guias e encorajamentos para atingir a mesma imagem, pois “os atos corajosos de homens santos nos incitam a ser corajosos, emular e imitar seu valor para glorificar a Deus” (56).
Além
disso, as Escrituras ensinam que os cristãos recebem efetivamente uma
verdadeira união com Deus e uma habitação do Espírito Santo. Mais uma
vez, isto é mais perfeitamente atualizado nos Santos, de modo a
honrá-los é honrar a Deus com cuja presença eles estão cheios.
“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo.” (I Coríntios 3, 16)
“Ou
não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita
em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1 Coríntios 6, 19)
“Pelas
quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por
elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da
corrupção, que pela concupiscência há no mundo.” (II Pedro 1, 4)
São
João é meramente afirma esses ensinamentos, quando ele sugere que os
santos devem ser honrados, como eles são vasos do poder de Deus:
“Os
santos em sua vida foram cheios do Espírito Santo, e quando eles não
são mais, Sua graça permanece com os seus espíritos e com seus corpos em
seus túmulos, e também com suas semelhanças e imagens santas, não por
natureza, mas pela graça e poder divino.” (57)
Calvino concordaria com São João, quando ele diz que “aqueles
que perversamente e profanamente desejarem ser adorados como deuses são
eles próprios condenáveis, e merecem o fogo eterno” (58).
No entanto, acrescenta a advertência de que “aqueles que no falso orgulho de seu coração desdenham a venerar os servos de Deus são condenados por impiedade para com Deus. As crianças que ridicularizam e zombaram de Eliseu testemunharam isso, na medida em que foram devoradas por ursos (2 Reis 2, 23)” (59).
Seguindo esses preceitos, os cristãos têm tradicionalmente dado honra aos Santos, mas em um nível inferior ao que pertence somente a Deus. Se os santos fossem glorificados de forma indistinguível de Deus, então a Eucaristia seria oferecida a eles e os fiéis seriam batizados em seus nomes, em vez do nome da Trindade, mas tais práticas nunca ocorreram. Além disso, de acordo com São João, a glorificação dos Santos tem a sua origem e seu objeto final em Deus, como seu Santificador, seu mestre e seu poder:
No entanto, acrescenta a advertência de que “aqueles que no falso orgulho de seu coração desdenham a venerar os servos de Deus são condenados por impiedade para com Deus. As crianças que ridicularizam e zombaram de Eliseu testemunharam isso, na medida em que foram devoradas por ursos (2 Reis 2, 23)” (59).
Seguindo esses preceitos, os cristãos têm tradicionalmente dado honra aos Santos, mas em um nível inferior ao que pertence somente a Deus. Se os santos fossem glorificados de forma indistinguível de Deus, então a Eucaristia seria oferecida a eles e os fiéis seriam batizados em seus nomes, em vez do nome da Trindade, mas tais práticas nunca ocorreram. Além disso, de acordo com São João, a glorificação dos Santos tem a sua origem e seu objeto final em Deus, como seu Santificador, seu mestre e seu poder:
“Em
primeiro lugar, os lugares em que Deus, o único que é santo, descansou,
e Seu lugar de descanso nos santos, como na santa Mãe de Deus e todos
os santos. Estes são os que são feitos a semelhança de Deus, tanto
quanto possível, por sua livre e espontânea vontade, pela habitação de
Deus, e por Sua graça permanente. Eles são verdadeiramente chamados
deuses, não por natureza, mas por participação; assim como o ferro em
brasa é chamado de fogo, não por natureza, mas pela participação na ação
do fogo.” (60)
“Assim,
então, eles são realmente deuses, não por natureza, mas como
participantes da natureza de Deus, então eles são venerados, e não como
veneração por conta própria, mas como possuindo em si mesmos Ele que é
venerado por natureza. Assim, da mesma forma o ferro quando inflamado
não é, por natureza, quente e queima ao toque, é o fogo que faz com que
seja assim. Eles são venerados como exaltados por Deus, pois através
d’Ele inspirando medo aos seus inimigos, tornando-se benfeitores aos
fiéis. É o amor de Deus, que lhes dá o seu livre acesso a ele, e não
como deuses ou benfeitores, por natureza, mas como servos e ministros de
Deus. Nós os veneramos, então, como o rei é homenageado pela honra dada
a um servo amado. Ele é honrado como um ministro no atendimento ao seu
mestre – como um amigo valioso, não como rei. As orações daquele que se
aproximam com fé são ouvidas, seja através da intercessão do servo ao
rei, quanto através da aceitação do rei, da honra e da fé mostrada pelo
peticionário do servo, pois foi em seu nome que a petição foi feita.
Assim, aqueles que se aproximavam através dos apóstolos obtiveram suas
curas. Assim, a sombra, lenços, e cintas dos apóstolos operaram as
curas. (Atos 5, 15).
Aqueles que perversamente e profanamente desejam que eles sejam adorados como deuses são condenáveis, e merecem o fogo eterno. E aqueles que no falso orgulho de seu coração desdenham de venerar os servos de Deus são condenados por impiedade para com Deus. As crianças que ridicularizaram e riam para escarnecer Eliseu são testemunhas disto, na medida em que eles foram devorados por ursos.” (II Rs 2, 23-24)’ (61)
Aqueles que perversamente e profanamente desejam que eles sejam adorados como deuses são condenáveis, e merecem o fogo eterno. E aqueles que no falso orgulho de seu coração desdenham de venerar os servos de Deus são condenados por impiedade para com Deus. As crianças que ridicularizaram e riam para escarnecer Eliseu são testemunhas disto, na medida em que eles foram devorados por ursos.” (II Rs 2, 23-24)’ (61)
Tese de São João é que a santidade dos santos não deriva apenas de sua própria humanidade, mas por ter tirado de Deus. Ele argumenta que os santos são “herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo”, uma vez que, de fato, “sofrem com Ele” (Romanos 8,17). Por esta razão, “Eles recebem poder contra os demônios e contra a doença, e com Cristo que reina sobre um reino incorruptível e imutável.” (62)
A
insistência de Calvino que glorificar os Santos diminui a glória de
Deus é, provavelmente, um pouco baseado na rejeição protestante da
distinção das essências e energias da natureza de Deus, que os Padres da
Capadócia ensinaram e a tradição teológica oriental acolheu. Portanto a
tradição teológica de Calvino ensina que Deus é uma essência
absolutamente simples, de modo que nenhuma criatura pode verdadeiramente
participar dele, mas pode simplesmente observá-lo ou participar de
efeitos criados. São João Damasceno, que afirmar a distinção, é capaz de
entender que, devido a encarnação de Cristo, os santos estão unidos com
as energias divinas incriadas como ferro em brasa em um incêndio,
assim, tornando-se verdadeiramente “participantes da natureza divina”
(2 Pedro 1, 4). O ponto de partida é, portanto, que Calvino vê a
veneração de santos como um culto de meras coisas criadas, enquanto que
São João vê-lo como um culto a Deus que está verdadeiramente presente em
seus servos por meio de sua obediência a Ele.
CONCLUSÃO
A
beleza da teologia de São João de Damasco, contrariando a teologia
gnóstica de Calvino, é que ele percebe que as imagens são um dos temas
mais centrais da fé cristã. Cristo é a imagem do Pai invisível, o homem é
feito à imagem de Deus e os cristãos se esforçam para serem conformes à
imagem de Cristo (Romanos 8, 29). As imagens são, portanto, um dom de
Deus, através da qual Ele se revela e para nos levar de volta a Ele.
Como seres compostos de corpo, alma e intelecto, os seres humanos têm
recebido símbolos literários, musicais, táteis e visuais de Deus e o
Reino Celestial vai ser aquele em que todos os nossos sentidos chegarão a
sua consumação final. Este cumprimento final está previsto na presente
glória de todos os cristãos, e particularmente os Santos, que não se
limitam a contemplar a Deus externamente, mas são templos do Espírito
Santo e participantes da natureza divina.
Fonte:http://apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/controversias/748-as-sagradas-imagens-sao-idolatria-sao-joao-damasceno-adversus-calvino
NOTAS
1. Calvino - Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 5
2. Ibid, Seção 12
3. Ibid, Seção 9
4. São João Damasceno - Uma Exposição Exatas da Fé Ortodoxa, Livro 4, capítulo 16, Sobre imagens.
5. São João Damasceno - Contra os que condenam as imagens sagradas, Parte I
6. Ibid, Parte 2
7. Calvino - Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 3
8. São João Damasceno - Contra os que condenam as imagens sagradas, Parte II
9. Martinho Lutero - Contra os profetas Celestiais em matéria de Imagens e Sacramentos, Obras de Lutero, Fortress Press, Vol. 40, Igreja e Ministério II.
10. Institutas, livro 2, capítulo 13, seção 4
11. Contra os que condenam as imagens sagradas, Parte 1
12. Ibid
13. Institutos, Livro 1, Capítulo 11, Seção 1
14. Concílio de Calcedônia, Definição de Calcedônia, traduzido por Henry Percival
15. Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 13
16. Ibid, Seção 6
17. Steven Bigham, Early Christian Attitudes Toward Images, Instituto de Pesquisa Ortodoxa
18. Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 10
19. Uma Exposição Exatas da Fé Ortodoxa, Livro 4, capítulo 16, sobre imagens.
20. Contra os que condenam as imagens sagradas, Parte 3
21. Ibid
22. Ibid
23. Ibid, Parte 2
24. Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 9
25. Ibid
26. Uma Exposição Exatas da Fé Ortodoxa, Book 4, capítulo 16, sobre imagens.
27. Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 13
28. Ibid, Seção 9
29. Ibid, Seção 10
30. St. Nikolai Velimirovic, Prólogo de Ochrid, 28 de junho, Reflexão, traduzido pelo Rev. T. Timothy Tepsic e Rev. Janko Trbovich.
31. Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 7
32. Ibid, Seção 1
33. Ibid, Section 8
34. Ibid, Seção 9
35. Contra os que condenam as imagens sagradas, Parte 1
36. Ibid, Parte 2
37. Ibid, Parte 1
38. Ibid
39. Ibid
40. Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 5
41. Ibid, Seção 7
42. Ibid, Seção 12
43. Ibid
44. Ibid
45. Uma Exposição Exatas da Fé Ortodoxa, Book 4, capítulo 16, sobre imagens
46. Contra os que condenam as imagens sagradas, Parte 2
47. Idem, parte 3
48. Ibid
49. Martinho Lutero - Contra os profetas Celestiais em matéria de Imagens e Sacramentos, Obras de Lutero, Fortress Press, Vol. 40, Igreja e Ministério II.
50. Institutas, Livro 1, Capítulo 12, Seção 2
51. Ibid, Seção 3
52. Ibid
53. Ibid
54. Ibid
55. Uma Exposição Exatas da Fé Ortodoxa, Book 4, capítulo 16, sobre imagens
56. Ibid
57. Contra os que condenam as imagens sagradas, Parte 1
58. Idem, parte 3
59. Ibid
60. Ibid
61. Ibid
62. Ibid
2. Ibid, Seção 12
3. Ibid, Seção 9
4. São João Damasceno - Uma Exposição Exatas da Fé Ortodoxa, Livro 4, capítulo 16, Sobre imagens.
5. São João Damasceno - Contra os que condenam as imagens sagradas, Parte I
6. Ibid, Parte 2
7. Calvino - Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 3
8. São João Damasceno - Contra os que condenam as imagens sagradas, Parte II
9. Martinho Lutero - Contra os profetas Celestiais em matéria de Imagens e Sacramentos, Obras de Lutero, Fortress Press, Vol. 40, Igreja e Ministério II.
10. Institutas, livro 2, capítulo 13, seção 4
11. Contra os que condenam as imagens sagradas, Parte 1
12. Ibid
13. Institutos, Livro 1, Capítulo 11, Seção 1
14. Concílio de Calcedônia, Definição de Calcedônia, traduzido por Henry Percival
15. Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 13
16. Ibid, Seção 6
17. Steven Bigham, Early Christian Attitudes Toward Images, Instituto de Pesquisa Ortodoxa
18. Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 10
19. Uma Exposição Exatas da Fé Ortodoxa, Livro 4, capítulo 16, sobre imagens.
20. Contra os que condenam as imagens sagradas, Parte 3
21. Ibid
22. Ibid
23. Ibid, Parte 2
24. Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 9
25. Ibid
26. Uma Exposição Exatas da Fé Ortodoxa, Book 4, capítulo 16, sobre imagens.
27. Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 13
28. Ibid, Seção 9
29. Ibid, Seção 10
30. St. Nikolai Velimirovic, Prólogo de Ochrid, 28 de junho, Reflexão, traduzido pelo Rev. T. Timothy Tepsic e Rev. Janko Trbovich.
31. Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 7
32. Ibid, Seção 1
33. Ibid, Section 8
34. Ibid, Seção 9
35. Contra os que condenam as imagens sagradas, Parte 1
36. Ibid, Parte 2
37. Ibid, Parte 1
38. Ibid
39. Ibid
40. Institutas, Livro 1, Capítulo 11, Seção 5
41. Ibid, Seção 7
42. Ibid, Seção 12
43. Ibid
44. Ibid
45. Uma Exposição Exatas da Fé Ortodoxa, Book 4, capítulo 16, sobre imagens
46. Contra os que condenam as imagens sagradas, Parte 2
47. Idem, parte 3
48. Ibid
49. Martinho Lutero - Contra os profetas Celestiais em matéria de Imagens e Sacramentos, Obras de Lutero, Fortress Press, Vol. 40, Igreja e Ministério II.
50. Institutas, Livro 1, Capítulo 12, Seção 2
51. Ibid, Seção 3
52. Ibid
53. Ibid
54. Ibid
55. Uma Exposição Exatas da Fé Ortodoxa, Book 4, capítulo 16, sobre imagens
56. Ibid
57. Contra os que condenam as imagens sagradas, Parte 1
58. Idem, parte 3
59. Ibid
60. Ibid
61. Ibid
62. Ibid
BIBLIOGRAFIA
[1] Institutas de João Calvino:
[1] Institutas de João Calvino:
http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/abominavel_calvino.htm
São João Damasceno - Apologia contra os que condenam as sagradas Imagens - Trad. Rafael Rodrigues
http://apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/livros/622-livro-apologia-contra-os-que-condenam-as-imagens-sagradas-sao-joao-damasceno-730-dc
http://apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/livros/622-livro-apologia-contra-os-que-condenam-as-imagens-sagradas-sao-joao-damasceno-730-dc
São João Damasceno - Exposição da Fé Ortodoxa trad. the Rev. S. D. F. Salmond.
http://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf209.toc.html
http://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf209.toc.html
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