Existem no mundo muitos amores: o
amor ao dinheiro, ao poder, à glória... Há, porém, um tipo de amor que está em
baixa: o amor à verdade.
Aliás, “que é a verdade?”, já
perguntava Pilatos (Jo 18,38). Existe a verdade? A sociedade contemporânea
tende a relativizá-la, principalmente quando se trata de explicar o mistério do
homem. As ciências naturais, em seu progresso constante, são cautelosas ao
propor suas teses: o que hoje parece ser a verdade em Física, em Astronomia, em
Biologia... amanhã poderá ser tido como erro. A Filosofia moderna é crítica e,
por vezes, cética no tocante à possibilidade de atingir a verdade. Todavia é
precisamente neste mundo que o cristão há de ter a coragem de afirmar que ele
conhece a Verdade, não por ser mais inteligente do que os seus semelhantes, mas
porque Deus lhe revelou o verdadeiro sentido do homem e da vida.
Todo ser humano tende naturalmente
para a verdade, como tende para a luz; ele foi feito para a verdade, e não para
as trevas. Por isso todo ser humano pode chegar a saber por que vive e para que
vive..., por que trabalha, luta e sofre... o que haverá depois da morte. A
consciência de tal verdade é fonte de paz e segurança ao viandante das estradas
da vida. Ninguém se sente bem, se não sabe por onde e para onde caminha.
E que prova tem o cristão de que ele
conhece a verdade? – Sem dúvida, viver a verdade é um risco: é aderir ao
Infinito, subordinando-lhe tudo o que é finito... Contudo esse risco se
comprova como suma sabedoria, se é vivenciado corajosamente. Nada é tão
reconfortante quanto a coerência da conduta de quem abraça a verdade e se
entrega totalmente a ela; a nobreza e magnanimidade de atitudes são fonte de
enorme felicidade.
Os tempos atuais sugerem tais
reflexões ao cristão. São tempos de intensa procura de verdade e de luz; as
múltiplas correntes filosóficas e religiosas que interpelam a nossa sociedade
dão testemunho de quão vivaz é a busca de verdade: profecias, visões, sinais do
além... pretendem ser a resposta ao homem peregrino e sequioso. Cedo ou tarde,
porém, frustram aqueles que lhes dão crédito.
Que falta então ao mundo de hoje? –
Pode-se dizer que lhe falta o testemunho mais lúcido da verdade revelada por
Deus e confiada aos discípulos de Cristo. “Vós sois o sal da terra”, diz
o Senhor. “Mas, se o sal perder o seu sabor, com que o salgaremos?” (Mt
5,13). Os tempos confusos, cheios de linhas cruzadas e contradições fantasiosas
em que vivemos, parecem estar interpelando o sal da terra e pedindo-lhe que não
deixe dissolver-se o seu sabor. É a graça de Deus que salva o mundo... graça
desse Deus que quer agir entre os homens mediante os homens numa continuada
encarnação. Daí a pergunta: que fazes, cristão, do teu Batismo? Que fazes da
tua Eucaristia? Que fazes da Palavra da Verdade que te foi entregue
graciosamente para que amasses e irradiasses? Ama a Verdade e realiza o teu martyrion
(testemunho) até as últimas conseqüências, ainda que isto te custe a própria
vida. Dar a vida pela verdade é precioso e indispensável serviço aos irmãos, é
fonte de profunda alegria.
Pe.
Estêvão Bettencourt, OSB
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