O que é que estes concílios ensinaram? O Concílio de Nicéia em 325 respondeu à alegação de um sacerdote de Alexandria, Ário, de que a Palavra ou Filho de Deus (que “fez-se carne e habitou entre nós”, Jesus – Jo 1:14) não era Deus e portanto não era imortal; ele não existiu sempre. Ário argumentava, com base nalgumas passagens do Evangelho, que Jesus nunca tinha invocado para Si uma natureza Divina, tal como quando disse no Evangelho de João (14:28) que “o Pai é maior do que eu”.
Os bispos em Nicéia tiveram em consideração todos os textos pertinentes dos Evangelhos (como em Jo 10:30: “Eu e o Pai somos um.”) e concluíram que Ário estava errado. O Filho ou Palavra de Deus é Deus. (ver Jo 1:1) e sempre existiu. Para clarificar isto proclamaram um credo (o “credo de Nicéia”) que incluía uma palavra Grega, homoousios, que significava que a Palavra ou Filho é o mesmo “ser” que Deus Pai. Se o Pai é Deus, também o é o Filho. Se o Pai é eterno, todo-poderoso (e assim por diante), também o é o Filho ou Palavra de Deus.
Tragicamente, alguns bispos, depois do Concílio de Nicéia questionaram a decisão tomada então (dizendo, por exemplo, que homoousios é uma palavra imprópria das escrituras), e convenceram o imperador romano e seus filhos que Ário e as suas idéias tinham sido erroneamente condenadas. A controvérsia durou mais de cinqüenta anos até que o Primeiro Concílio de Constantinopla (381) reafirmou os ensinamentos e o credo de Nicéia. Este concílio ecumênico também acrescentou uma frase ao Credo de Nicéia afirmando a divindade do Espírito Santo, o “Senhor que dá a Vida” e que com o Pai e o Filho “é adorado e glorificado”. Assim, em finais do século IV a crença Cristã de Deus como uma Trindade de três pessoas igualmente divinas: Pai, Filho e Espírito Santo foram formalmente reconhecidos pelos Cristãos.
No século V houve mais dois concílios ecumênicos que trataram de temas relacionados com Jesus. No início desse século um proeminente bispo, Nestorio, rejeitou o título de “Theotokos” ou “portadora de Deus” referido a Maria. Os Cristãos acreditavam que a Mãe de Jesus podia ser justamente chamada “Mãe de Deus” ou “portadora de Deus” porque o Evangelho claramente ensina que Jesus foi concebido em Maria, não por qualquer ser humano, mas pelo Espírito Santo. Isto foi o que o anjo Gabriel anunciou a Maria um dia em Nazaré (a “Anunciação”) e Maria consentiu (ver Lc.1:26-38). Nestorio pensou que chamar a Maria “Mãe de Deus” confundiria as pessoas ao pensar que o Deus eterno tinha nascido de um humano. O Concílio de Éfeso reuniu-se em 431 para considerar a opinião de Nestorio. O Concílio decidiu que era justo e bom honrar Maria como “Mãe de Deus” porque ela é a mãe de Deus na sua natureza humana. O Concílio clarificou que Maria “contribuiu” para a verdadeira e total humanidade de Jesus, e que Deus Espírito Santo “cobriu com a Sua sombra” Maria para que a criança por ela concebida fosse verdadeiramente Deus, o Filho ou a Palavra de Deus (Lc. 1:30-35).
A crença de que Jesus é humano e divino, ao mesmo tempo homem e Deus levaram a muitos debates e especulação depois do Concílio de Èfeso, sobre como deveria ser expresso esse mistério. Um monge, Eutyches, que vivia em Constantinopla alegou que antes de Jesus encarnar em Maria havia “duas naturezas”, (uma divina e outra humana), mas depois da união das duas naturezas no seio de Maria havia uma só natureza em Jesus – a natureza divina. De algum modo, Eutyches propunha que a natureza de Deus era tão grandiosa que ensombra e “engloba” a humanidade de Jesus. Para Eutyches, Jesus tomou aparência humana, mas a única natureza remanescente em Jesus depois de tomar a “carne” (a aparência humana exterior), é a natureza Divina.
Para simplificar, Eutyches alega que Jesus era verdadeiro Deus, mas não verdadeiro ou completo homem.
O bispo de Constantinopla, Flaviano, opunha-se a isto e escreveu uma carta ao bispo de Roma, Papa Leão I, para saber da sua opinião. Infelizmente, devido às políticas da Igreja, foi convocado um concílio com o consentimento do imperador Teodósio II em 449, proclamando a posição de Eutyches como correta (chamado “Monofisismo”) e deposto o Bispo Flaviano. A carta do Papa Leão em resposta a Flaviano foi ignorada por este concílio. Mas os acontecimentos mudaram depressa. Teodósio II morre subitamente ao cair do cavalo, e a sua irmã Pulquéria, prevalece sobre o seu marido, o novo imperador Marciano, convocando novo concílio para reconsiderar a questão. O Concílio de Calcedónia foi convocado em 451. Desta feita a carta do Papa Leão foi lida e todas as posições foram consideradas. O resultado foi a formulação do credo do Concílio de Calcedónia que declara que Jesus Cristo é uma pessoa que existe “em duas naturezas” – a natureza divina e a natureza humana – que nunca se confundem (nem se fundem numa terceira natureza) nem se dividem ou se separam (assim Jesus não é “esquizofrênico” – por vezes agindo como Deus, outras como homem). Jesus é uma pessoa que é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Como isto ocorre está para além da nossa compreensão. É verdadeiramente aquilo que os Cristãos chamam “mistério”: algo que está para além da capacidade humana de perfeito entendimento e não fora da razão. Daí a necessidade de ser aceite não só pela razão mas também pela fé.
Os primeiros quatro concílios ecumênicos definiram o significado das crenças básicas Cristãs acerca de Deus e Jesus Cristo, proclamadas pela Igreja nos seus ensinamentos, tradição (crenças “transmitidas”) e escritos sagrados. São ainda hoje necessários para saber o que a maioria dos Cristãos acredita acerca desses temas centrais.
Os primeiros quatro concílios ecumênicos (gerais) da Igreja ocupam um lugar especial na tradição Cristã. Esta tabela resume alguns fatos básicos dos mesmos.
LOCAL/CONVOCAÇÃO | DATA | ASSISTÊNCIA | ASSUNTO PRINCIPAL | OUTROS ASSUNTOS | RESULTADOS |
Nicéia (Turquia). Imperador: Constantino, o grande. | 325 | 318 Bispos. Papa Silvestre. | Sobre a Divindade de Jesus, como filho de D’us encarnado/contestando Ário. | Como definir a data da Páscoa e assuntos de disciplina. | Os bispos formularam um Credo afirmando que o Filho é Deus no mesmo sentido que o Pai. Todos menos dois bispos aprovaram o Credo. No entanto, depois do Concílio, aliados de Ário com influência na corte imperial reabilitam-no e permitiram a continuação da disseminação das suas idéias. |
Constantinopla ( Istambul). Imperadores: Teodósio I e Graciano. | 381 | 150 bispos Orientais.Mais tarde o ocidente acatou. O Papa Dâmaso, não estava representado. | Contra os Arianos e Semi- Arianos.Incluindo a negação plena da Divindade do Espírito Santo. | Preside o patriarca de Constantinopla,sobre todos os outros, menos os do Patriarca de Roma. | Rejeição de todas as opiniões Arianas e a afirmação da divindade do Espírito Santo refletida no Credo agora conhecido por Credo Niceno-Constatinoplitano e ainda hoje usado na liturgia. |
Éfeso (Turquia Moderna); Imperador Teodósio II | 431 | 15º Bispos, o Papa Celestino estava representado por 3 legados. | Relação da natureza humana e divina de Cristo provocada por debate sobre se Maria deveria chamar-se Mãe de Deus (Theotokos) ou Mãe de Cristo (Christokos). | A afirmação de que o Filho de Deus existe em duas naturezas, como Deus e como homem. É chamada a união hipostática/pessoal – a união de duas naturezas na hipóstase/pessoa do Filho. O Concílio confirma o título de “Theotokos” como apropriado para a Virgem Maria. | |
Calcedônia (na Turquia moderna); Imperador Marciano e a Imperatriz Pulquéria presidem à crucial 6ª sessão. | 451 | Provavelmente 600 Bispos. O Papa leão magno, estava representado por 2 Bispos e 1 padre. | A natureza divina e humana de Cristo, particularmente sobre a tese que defendia que a sua natureza divina absorvia a sua natureza humana. | Assuntos da disciplina da Igreja relacionados com o Clero e a jurisdição dos Bispos, etc. | A formulação do Credo que declara que “nós unanimemente ensinamos que… nosso Senhor Jesus Cristo é um e o mesmo Filho, perfeito Deus e perfeito Homem… |
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