Iniciamos com este artigo, uma série direcionada especialmente à
fundamentação dos conhecimentos dos pesquisadores católicos, – e do
público em geral, – sobre o tema das heresias. Entendemos que há uma
profunda necessidade de ampliarmos os nossos conhecimentos a esse
respeito, até porque vivemos dias em que muitos ditos cristãos perderam o
amor pela Verdade, caindo nas malhas do relativismo, corrente
filosófica que entende que simplesmente não há esta Verdade universal, e
que cada época e indivíduo teriam seu próprio modo de ver/entender o
mundo: sua própria “verdade particular”.
Todavia não é apenas o relativismo (tão fortemente denunciado pelos Papas João Paulo II e Bento XVI), que nos atinge. Presenciamos agora, estarrecidos, um fortíssimo espírito de desobediência e infidelidade. Muitos católicos “discordam” abertamente do Magistério da Igreja até naqueles pontos definidos dogmaticamente. Neste contexto ressurgem antigas heresias já condenadas pela Igreja em outras eras, com aparência de “grandes novidades”, com força redobrada, causando confusão e enormes estragos às consciências dos fiéis. Quantos questionam se Jesus é de fato Deus? Se é o único Salvador? Interpela-se a Virgindade Perpétua de Maria. Duvida-se da Presença real do Senhor na Eucaristia.
Questiona-se a Santa Missa como atualização do Sacrifício do Calvário. Relativizam-se as Escrituras por meio de uma leitura reducionista e racionalista. Satanás virou um mito ou apenas uma questão psicológica. Questiona-se a eficácia e mesmo a necessidade dos Sacramentos. A Tradição tornou-se algo ultrapassado, algo que até se pode estudar como quem admira uma peça de museu. E para que estudar os Padres da Igreja, afinal?
Todavia não é apenas o relativismo (tão fortemente denunciado pelos Papas João Paulo II e Bento XVI), que nos atinge. Presenciamos agora, estarrecidos, um fortíssimo espírito de desobediência e infidelidade. Muitos católicos “discordam” abertamente do Magistério da Igreja até naqueles pontos definidos dogmaticamente. Neste contexto ressurgem antigas heresias já condenadas pela Igreja em outras eras, com aparência de “grandes novidades”, com força redobrada, causando confusão e enormes estragos às consciências dos fiéis. Quantos questionam se Jesus é de fato Deus? Se é o único Salvador? Interpela-se a Virgindade Perpétua de Maria. Duvida-se da Presença real do Senhor na Eucaristia.
Questiona-se a Santa Missa como atualização do Sacrifício do Calvário. Relativizam-se as Escrituras por meio de uma leitura reducionista e racionalista. Satanás virou um mito ou apenas uma questão psicológica. Questiona-se a eficácia e mesmo a necessidade dos Sacramentos. A Tradição tornou-se algo ultrapassado, algo que até se pode estudar como quem admira uma peça de museu. E para que estudar os Padres da Igreja, afinal?
Além de tudo, vemos uma crítica violenta à moral católica, considerada
ultrapassada e sem sentido. Quantos supostos católicos defendem o
aborto, a eutanásia, o sexo livre, o homossexualismo, o divórcio?
Em várias passagens do Novo Testamento somos alertados sobre falsas doutrinas. Os apóstolos tinham a contínua preocupação de transmitir fielmente a mensagem do Senhor Jesus. São Paulo, na Carta aos Gálatas (1,6-8), determina que seja considerado anátema qualquer um que apresente um evangelho diferente daquele que foi anunciado pelos Apóstolos.
Enfim, no mundo atual é nítida a perseguição ao pensamento cristão. Além
disso, muitas vezes através dos meios de comunicação são transmitidas
várias informações falsas, às vezes tendenciosas e parciais, sobre a fé
cristã. Aqueles cristãos que não possuem uma formação muito sólida ficam
confusos e, ou se afastam da Igreja ou até permanecem, mas com o claro
intuito de instituir uma “igreja” totalmente nova, “moderna”, que agrade
ao mundo.
Devido a toda a realidade descrita até aqui, entendemos que se faz necessário esclarecer o público católico e a população em geral, sobre o que vem a ser, na perspectiva cristã e católica, uma heresia, um cisma e uma apostasia. Assim como analisar as diversas heresias antigas, – mas sempre tão (e cada vez mais) vivas, tais como o ebionismo, o docetismo, o gnosticismo, o arianismo, o apolinarismo, o macedonianismo, o montanismo, o adocionismo, modalismo, o nestorianismo, o monofisismo, o iconoclasmo. E também quais Pais da Igreja combateram essas correntes de pensamento.
Esta é, portanto, a introdução de uma série de postagens relacionadas entre si, adaptadas do conteúdo do recém-lançado (e precioso) opúsculo do Prof. Dr. Joel Gracioso, “Heresias: tão antigas e tão novas” (Kenosis; DDM, 2015), que publicaremos em capítulos, rezando e pedindo a Nosso Senhor que renove, nos corações dos homens, o amor sincero pela Verdade.
Infelizmente ou necessariamente, no decorrer da história da Igreja.
Muitas vezes ocorreram divisões e separações, por vários motivos,
gerando novas comunidades confessionalmente cristãs, inclusive devido a
uma compreensão equivocada de determinados elementos da doutrina cristã.
Por causa disso, aos poucos, surgiu a problemática da heresia como
também do cisma e da apostasia. Mas qual seria a diferença entre estes
termos?
O Código de Direito Canônico que rege a Tradição da Igreja, promulgado no dia 25 de janeiro de 1983 pelo papa João Paulo II, no Cân. 751 diz:
Chama-se heresia a negação pertinaz, após a recepção do Batismo, de qualquer verdade que se deva crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito dela; apostasia, o repúdio total da fé cristã; cisma, a recusa de sujeito ao Sumo Pontífice ou de comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos.
Vemos neste trecho que a heresia tem relação com uma postura de se negar ou de se duvidar de maneira persistente e contínua alguma verdade de fé ensinada pela Igreja como algo divinamente revelado. Enquanto isso, a apostasia configura um abandono total da fé cristã. Já o cisma é uma rejeição explícita da autoridade papal.
Desde os primórdios do cristianismo a Pessoa e o exemplo de vida de Jesus de Nazaré sempre geraram certo desafio de compreensão. Num primeiro momento a fé no Mistério da Encarnação gerava certo escândalo para alguns. Como o Deus criador e onipotente poderia ter se tornado humano assumindo tal realidade com suas fragilidades, como a fome, o sofrimento, a morte?
Conceber Jesus de Nazaré como alguém que tivesse uma dimensão tanto humana quanto divina parecia algo inconcebível para muitos judeus.
DOIS EXEMPLOS INICIAS
Nesse contexto surgiram duas correntes religiosas que expressam bem a
dificuldade que alguns tinham de conciliar o humano e o divino na Pessoa
de Jesus Cristo, aparecendo assim os primeiros desvios da fé cristã.
Por um lado, temos o docetismo, que relativizava ou negava profundamente
a humanidade em Cristo, – seu nascimento, sua paixão, enfim a realidade
concreta da Encarnação. Jesus teria assumido o humano de forma aparente
e não real.
Por outro lado, encontramos o ebionismo, no extremo oposto. Para este,
reconhecer tanto a divindade quanto a humanidade em Cristo feriria a fé
monoteísta. Assim, na perspectiva ebionista, Jesus foi apenas um grande
homem e profeta que no momento de seu batismo recebeu a Força de Deus,
mas não era Deus.
Esses dois modos de conceber a Pessoa de Cristo não foram aceitos na
comunidade cristã. São João Evangelista e a tradição joanina salientam
continuamente que "o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Há uma
afirmação contínua do realismo da Encarnação nos textos joaninos, tanto
no Evangelho como na primeira Epístola de São João.
Santo Inácio de Antioquia (séc.s I-II) foi um grande bispo e Padre da
Igreja, isto é, um importante escritor do período antigo que colaborou
profundamente na elaboração da doutrina cristã e na sua defesa. Sofreu o
martírio em Roma por amor a Cristo e sempre defendeu uma cristologia
que afirmasse tanto a humanidade quanto a divindade de Cristo.
Na sua Carta aos Efésios (7,2), ele diz: “Existe apenas um médico, carnal e espiritual, gerado e não gerado. Deus feito carne, Filho de Deus e Filho de Maria Virgem, Vida verdadeira na morte, Vida primeiro passível e agora impassível, Jesus Cristo Nosso Senhor”.
Na sua Carta aos Efésios (7,2), ele diz: “Existe apenas um médico, carnal e espiritual, gerado e não gerado. Deus feito carne, Filho de Deus e Filho de Maria Virgem, Vida verdadeira na morte, Vida primeiro passível e agora impassível, Jesus Cristo Nosso Senhor”.
Percebemos, desta maneira, que desde o início da Igreja já havia uma fé clara no Mistério de Cristo como Deus e homem, e uma postura de recusa a qualquer pensamento que negasse este dado da Revelação.
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** O opúsculo pode ser adquirido por e-mail:
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Fonte:
GRACIOSO, Joel, Heresias: tão antigas e tão novas. São Paulo: Kenosis; DDM, 2015, pp. 15-17.
* O texto deste artigo contém excertos de Henrique Sebastião, autor/editor de 'O Fiel Católico'
* O texto deste artigo contém excertos de Henrique Sebastião, autor/editor de 'O Fiel Católico'
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