Geralmente, quando morre uma pessoa muito querida (sobretudo quando é
da família), de repente, dois ou três dias depois, bate na gente uma
profunda saudade… E dá uma vontade louca de visitar a sepultura daquela
pessoa. E a gente vai, leva flores, faz orações, chora. Foi o que
aconteceu comigo quando faleceu minha irmã e, logo depois, minha mãe.
Foi o que aconteceu quando Jesus morreu. Três dias depois – era o
primeiro dia da semana –, Maria Madalena e outras mulheres foram bem
cedinho fazer uma visita à sepultura de Jesus. Ao chegarem lá, um imenso
susto!… Encontraram a sepultura aberta! Vazia! (cf. Mt 28,1-7; Mc
16,1-7; Lc 24,1-8; Jo 20,1-2.11-13). Apavoradas, não contém as lágrimas.
Ali mesmo, de repente elas têm uma visão, avisando que Jesus
ressuscitou… E Jesus mesmo logo aparece, e fala com Maria Madalena e as
outras mulheres (cf. Jo 20,14-17; Mt 28,8-10; Mc 16,8; Lc 24,9-11).
Elas, então, saem correndo a avisar: “Vimos o Senhor! Ele está vivo!
Ele falou com a gente!”. João e Pedro vão correndo ver a sepultura, e
constatam: Realmente, aconteceu como as mulheres disseram. E se fosse só
isso! Jesus também aparece e conversa com dois discípulos a caminho de
Emaús (cf. Lc 24,13-35), aparece e conversa com os apóstolos escondidos
numa sala de jantar, falando-lhes de paz, dando-lhes o Espírito Santo e
ordenando-lhes a anunciar a notícia por todos os cantos da terra (cf.
At 1,4-8; Mc 16,14-18; Lc 24,36-48; Jo 20,19-25).
Numa palavra, tudo isso deve ter causado um grande alvoroço… Era até
difícil acreditar!… O luto e a tristeza pela morte do Senhor, o
desânimo, a frustração, a sensação de derrota amargando a vida, de
repente são substituídos por uma imensa alegria, um intenso júbilo, um
saboroso gosto de vitória… Jesus está vivo! Ressuscitou!
Agora vejam: Tudo isso aconteceu no “primeiro dia da semana” (Mt
28,1; Mc 16,2; Lc 24,1.13; Jo 20,1.19)! Naquele tempo, entre os judeus, a
semana começava com o dia seguinte após o sábado. Jesus morreu no sexto
dia (para nós hoje: sexta-feira) e passou o sábado (sétimo e último
dia) na sepultura… E foi precisamente a partir do seguinte, o “primeiro
dia da semana”, que os discípulos e discípulas sentiram que tudo se
renovou… A partir deste dia a Vida foi sentida como mais forte do que a
morte.
Por isso, por ser o “primeiro dia da semana”, este dia passou a ter
para os cristãos um sentido simbólico especialmente profundo. Primeiro,
porque ele nos lembra o início da criação do mundo. A saber, foi nesse
“primeiro dia” que Deus deu início à criação. E fazendo o que? Criando o
sol (cf. Gn 1,3-5)! Agora, com o despontar do novo Sol na pessoa do
Ressuscitado, esse mesmo dia (o “primeiro da semana”), passou a ser o
dia da Nova Criação, o dia do começo da Nova Vida para Jesus e sua
Comunidade.
O “primeiro dia da semana” se tornou, para os cristãos, o dia
memorável, inesquecível. O dia mais importante da semana! Precisamente
por causa da impressionante vitória da Ressurreição. Tanto que até deram
um nome a este dia. Passaram a chamá-lo de dia do Senhor (cf. Ap 1,10). Em latim: dies dominica, de onde vem a palavra “domingo”: Assim surgiu o “domingo”, que significa exatamente isso: “dia do Senhor”.
Neste dia, passando da morte para a vida, Cristo se tornou “o Senhor
dos vivos e dos mortos” (Rm 14,9). Ninguém mais domina sobre Ele. Ele é o
Senhor… (cf. Fl 2,9-11). Por isso que o primeiro dia da semana agora é
d’Ele, do Senhor, é Domingo. Mais que isso, podemos até dizer que
Domingo é Ele mesmo. Pois, como vencedor das trevas do pecado e da
morte, Ele agora é o Dia que não tem fim, o Primeiro Dia, o Senhor dos
dias… O primeiro dia da semana agora é do Senhor, é Domingo, porque,
neste dia, Cristo vem como o Senhor dos dias, o Primeiro, a Luz que
nunca mais se apaga, o Sol que não conhece ocaso.
Por isso tudo, enfim, podemos dizer que o domingo é o dia por
excelência de nossa ação de graças. Como proclama uma linda oração de
louvor que pode ser cantada (ou rezada) pelo sacerdote na liturgia
eucarística da missa dos domingos: “É justo e necessário, é nosso dever e
salvação dar-vos graças e bendizer-vos, Senhor, Pai santo, fonte da
verdade e da vida, porque, neste domingo festivo, nos acolhestes em
vossa casa. Hoje, vossa família, para escutar vossa Palavra e repartir o
Pão consagrado, recorda a Ressurreição do Senhor, na esperança de ver o
dia sem ocaso, quando a humanidade inteira repousará junto de vós.
Então, contemplaremos vossa face e louvaremos sem fim vossa
misericórdia. Por isso, cheios de alegria e esperança, unimo-nos aos
anjos e a todos os santos, cantando a uma só voz: (Toda a assembleia:)
Santo, Santo, Santo…” (Prefácio dos domingos do tempo comum, IX).
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