Cardeal Hummes durante a homilia na Missa Solene que abriu o Ano da Fé no Brasil
O Ano da Fé já começou no Brasil.
A abertura oficial do Ano no país aconteceu na manhã desta sexta-feira,
12, com uma Missa solene celebrada às 10h no Santuário Nacional de
Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP).
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.: Todas as notícias sobre o Ano da Fé
A celebração presidida pelo Cardeal Arcebispo Emérito de São Paulo, Dom Cláudio Hummes, contou com a participação de milhares de fiéis que visitam o Santuário Nacional por ocasião da comemoração da Padroeira do Brasil. Também estiveram presentes autoridades militares e também civis, como o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Antes do início da Santa Missa, o reitor do Santuário Nacional, padre Narci José Nicioli, leu uma mensagem enviada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para a celebração de abertura do Ano da Fé em âmbito nacional.
A mensagem destacou que a CNBB deseja que o Ano da Fé seja, como indicou o Papa Bento XVI, um momento de graça e compromisso para uma conversão completa a Deus.
Padre Narci explicou que o presidente da Conferência, Dom Raymundo Damasceno Assis, não pôde comparecer porque está em Roma. O cardeal arcebispo de Aparecida concelebrou com o Santo Padre a Missa de abertura do Ano da Fé.
“Estamos preparados, a mesa está posta, façamos festa”, disse padre Narci ao final da leitura da mensagem.
A celebração foi marcada por momentos festivos e diversas encenações. Um dos momentos muito aplaudidos foi a entrada da imagem de Nossa Senhora Aparecida numa espécie de barco, uma encenação que quis relembrar o modo como a imagem foi encontrada, por pescadores.
Na homilia, Cardeal Hummes destacou que a fé transforma a vida. Porém, lembrou que muitas pessoas foram batizadas, mas acabaram se fascinando por outras coisas. “É hora de voltar a se fascinar por Jesus”.
Nessa tarefa de voltar-se a Deus, o Cardeal disse que Nossa Senhora quer guiar os fiéis de volta a seu Filho. E aí entra o Ano da Fé, que, segundo o Cardeal, Bento XVI proclamou com grande preocupação, tendo em vista o processo de “descristianização” do mundo e uma cultura que não valoriza a fé e vai “roendo” suas raízes.
Quanto a isso, Cardeal Hummes enfatizou que a Igreja quer fazer um esforço para renovar a fé dos católicos. Nesse sentido, ele lembrou que também foi convocado e está em andamento neste ano o Sínodo dos Bispos, que traz como tema “A nova evangelização para a transmissão da fé cristã”. Segundo o Cardeal, essa nova evangelização significa justamente esse esforço que a Igreja faz para renovar a fé dos fiéis.
“A fé é uma graça que se pode perder e por isso sempre se tem que pedi-la e cultivá-la. (...) Pedimos à Mãe Aparecida que faça com que esse povo de novo se sinta filho e filha de Deus e se sinta feliz com isso”.
Ao final da celebração, houve a tradicional consagração a Nossa Senhora Aparecida, seguida da benção final.
Boletim da Santa Sé.
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A celebração presidida pelo Cardeal Arcebispo Emérito de São Paulo, Dom Cláudio Hummes, contou com a participação de milhares de fiéis que visitam o Santuário Nacional por ocasião da comemoração da Padroeira do Brasil. Também estiveram presentes autoridades militares e também civis, como o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Antes do início da Santa Missa, o reitor do Santuário Nacional, padre Narci José Nicioli, leu uma mensagem enviada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para a celebração de abertura do Ano da Fé em âmbito nacional.
A mensagem destacou que a CNBB deseja que o Ano da Fé seja, como indicou o Papa Bento XVI, um momento de graça e compromisso para uma conversão completa a Deus.
Padre Narci explicou que o presidente da Conferência, Dom Raymundo Damasceno Assis, não pôde comparecer porque está em Roma. O cardeal arcebispo de Aparecida concelebrou com o Santo Padre a Missa de abertura do Ano da Fé.
“Estamos preparados, a mesa está posta, façamos festa”, disse padre Narci ao final da leitura da mensagem.
A celebração foi marcada por momentos festivos e diversas encenações. Um dos momentos muito aplaudidos foi a entrada da imagem de Nossa Senhora Aparecida numa espécie de barco, uma encenação que quis relembrar o modo como a imagem foi encontrada, por pescadores.
Na homilia, Cardeal Hummes destacou que a fé transforma a vida. Porém, lembrou que muitas pessoas foram batizadas, mas acabaram se fascinando por outras coisas. “É hora de voltar a se fascinar por Jesus”.
Nessa tarefa de voltar-se a Deus, o Cardeal disse que Nossa Senhora quer guiar os fiéis de volta a seu Filho. E aí entra o Ano da Fé, que, segundo o Cardeal, Bento XVI proclamou com grande preocupação, tendo em vista o processo de “descristianização” do mundo e uma cultura que não valoriza a fé e vai “roendo” suas raízes.
Quanto a isso, Cardeal Hummes enfatizou que a Igreja quer fazer um esforço para renovar a fé dos católicos. Nesse sentido, ele lembrou que também foi convocado e está em andamento neste ano o Sínodo dos Bispos, que traz como tema “A nova evangelização para a transmissão da fé cristã”. Segundo o Cardeal, essa nova evangelização significa justamente esse esforço que a Igreja faz para renovar a fé dos fiéis.
“A fé é uma graça que se pode perder e por isso sempre se tem que pedi-la e cultivá-la. (...) Pedimos à Mãe Aparecida que faça com que esse povo de novo se sinta filho e filha de Deus e se sinta feliz com isso”.
Ao final da celebração, houve a tradicional consagração a Nossa Senhora Aparecida, seguida da benção final.
Catequese de Bento XVI - Oração Litúrgica - 03/10/2012
Caros irmãos e irmãs,
Na
catequese passada comecei a falar de uma das fontes privilegiadas da
oração cristã: a sagrada liturgia, que – como afirma o Catecismo da
Igreja Católica – é “participação da oração de Cristo, dirigida ao Pai
no Espírito Santo. Na liturgia toda oração cristã encontra a sua fonte e
o seu fim” (n. 1073). Hoje gostaria que nos perguntássemos: na minha
vida, reservo um espaço suficiente para a oração e, sobretudo, que lugar
tem na minha relação com Deus a oração litúrgica, em especial a Santa
Missa, como participação na oração comum do Corpo de Cristo que é a
Igreja?
Na resposta a esta pergunta devemos recordar antes de
tudo que a oração é a relação viva dos filhos de Deus com o seu Pai
infinitamente bom, com seu Filho Jesus Cristo e com o Espírito Santo
(cfr ibid., 2565). Assim, a vida de oração consiste no estar
habitualmente na presença de Deus e ter consciência de viver a relação
com Deus como se vivem as relações habituais da nossa vida, aquelas com
os familiares mais queridos, com os verdadeiros amigos; e mais: aquela
com o Senhor é a relação que dá luz a todos os nossos outros
relacionamentos. Essa comunhão de vida com Deus, Uno e Trino, é
possível porque por meio do Batismo somos inseridos em Cristo,
começamos a ser uma só coisa com Ele. (cfr Rm 6,5).
Com efeito,
somente em Cristo podemos dialogar com Deus Pai como filhos, caso
contrário não é possível, mas em comunhão com o Filho podemos também
dizermos nós como disse Ele: “Abba”. Em comunhão com Cristo podemos
conhecer Deus como Pai verdadeiro (cfr Mt 11,27). Por isso a oração
cristã consiste em olhar constantemente e de maneira sempre nova a
Cristo, falar com Ele, estar em silêncio com Ele, escutá-Lo, agir e
sofrer com Ele. O cristão redescobre a sua verdadeira identidade
em Cristo, “primogênito de cada criatura”, no qual existem todas as
coisas (cfr Col 1,15ss). No identificar-me com Ele, no ser uma só coisa
com Ele, redescubro a minha identidade pessoal, aquela de verdadeiro
filho que olha para Deus como a um Pai cheio de amor.
Mas
não nos esqueçamos: descobrimos Cristo, O conhecemos como Pessoa
vivente, na Igreja. Ela é o “seu Corpo”. Tal corporeidade pode ser
compreendida a partir das palavras bíblicas sobre o homem e sobre a
mulher: os dois serão uma só carne (cfr Gn 2,24; Ef 5,30ss.; 1 Cor
6,16s). O vínculo indissolúvel entre Cristo e a Igreja, através
da força unificadora do amor, não anula o “tu” e o “eu”, mas eleva-os a
sua unidade mais profunda. Encontrar a própria identidade em Cristo
significa chegar a uma comunhão com Ele, que não me anula, mas me eleva à
dignidade mais alta, aquela de filho de Deus em Cristo: “a
história de amor entre Deus e o homem consiste precisamente no fato de
que esta comunhão de vontade cresce em comunhão de pensamento e de
sentimento e, assim, o nosso querer e a vontade de Deus coincidem cada
vez mais” (Enc. Deus caritas est, 17). Rezar significa elevar-se a Deus, mediante uma necessária e gradual transformação do nosso ser.
Assim,
participando da liturgia, façamos nossa a linguagem da mãe Igreja,
aprendamos a falar nela e para ela. Naturalmente, como eu já disse, isto
acontece de modo gradual, pouco a pouco. Preciso mergulhar
progressivamente nas palavras da Igreja, com a minha oração, com a minha
vida, com o meu sofrimento, com a minha alegria, com o meu pensamento. É
um caminho que nos transforma.
Penso então que essas
reflexões nos permitem responder à pergunta que nos fizemos no início:
como aprendo a rezar, como cresço na minha oração? Olhando para o modelo
que nos ensinou Jesus, o Pai Nosso, nós vemos que a primeira palavra é
“Pai” e a segunda é “nosso”. A resposta, assim é clara: aprendo a
rezar, alimento a minha oração, dirigindo-me a Deus como Pai e rezando
com outros, rezando com a Igreja, aceitando o dom de suas palavras, que
se tornam pouco a pouco familiares e ricas em significado. O
diálogo que Deus estabelece com cada um de nós, e nós com Ele, na oração
inclui sempre um “com”; não se pode rezar a Deus de modo
individualista. Na oração litúrgica, sobretudo na Eucaristia, e –
formado pela liturgia – em cada oração, não falamos somente como pessoas
individuais, mas entramos no “nós” pela Igreja que reza. E devemos
transformar o nosso “eu” entrando neste “nós”.
Gostaria de
atentar para um outro aspecto importante. No Catecismo da Igreja
Católica lemos: “na liturgia da Nova Aliança, cada ação litúrgica,
especialmente a celebração da Eucaristia e dos sacramentos, é um
encontro entre Cristo e a Igreja” (n. 1097); assim, é o “Cristo total”,
toda a comunidade, o Corpo de Cristo unido à sua Cabeça que celebra. A
liturgia então não é uma espécie de “auto-manifestação” de uma
comunidade, mas é a saída do simplesmente "ser para si mesmo", ser
fechado em si próprio para o acesso ao grande banquete, à entrada na
grande comunidade viva, na qual o próprio Deus nos nutre. A
liturgia implica universalidade e esse caráter universal deve entrar
sempre de novo na consciência de todos. A liturgia cristã é o culto do
templo universal que é Cristo Ressuscitado, cujos braços estão
estendidos na cruz para atrair todos no abraço do amor eterno de Deus. É
o culto do céu aberto. Não é nunca somente o evento de uma comunidade
individual, com sua inserção no tempo e no espaço. É importante que cada
cristão sinta-se e seja realmente inserido neste “nós” universal, que
fornece o fundamento e o refúgio ao “eu”, no Corpo de Cristo que é a
Igreja.
Nisto devemos ter presente e aceitar a lógica da
encarnação de Deus: Ele se fez próximo, presente, entrando na história e
na natureza humana, fazendo-se um de nós. E esta presença continua na
Igreja, seu Corpo. A liturgia então não é a memória de eventos
passados, mas é a presença viva do Mistério Pascal de Cristo que
transcende e une os tempos e os espaços. Se na celebração não
emerge a centralidade de Cristo, não temos a liturgia cristã, totalmente
dependente do Senhor e sustentada pela sua presença criadora. Deus age
por meio de Cristo e nós não podemos agir a não ser por meio dele e
nele. A cada dia deve crescer em nós a convicção de que a
liturgia não é um nosso, um meu “fazer”, mas é ação de Deus em nós e
conosco.
Assim, não é o indivíduo – sacerdotes ou fiel –
ou o grupo que celebra a liturgia, mas essa é primeiramente ação de
Deus através da Igreja, que tem sua história, a sua rica tradição e a
sua criatividade. Essa universalidade e abertura fundamental, que é
própria de toda a liturgia, é uma das razões pelas quais essa não se
pode ser idealizada ou modificada pela comunidade individual ou por
especialistas, mas deve ser fiel às formas da Igreja universal.
Também
na liturgia da menor comunidade está sempre presente a Igreja inteira.
Por isso não existem “estrangeiros” na comunidade litúrgica. Em cada celebração litúrgica participa junto toda a Igreja, céu e terra, Deus e os homens.
A liturgia cristã também se celebra em um lugar e em um espaço concreto
e expressa o “sim” de uma determinada comunidade, por sua natureza
católica, provém de todos e conduz a todos, em unidade com o Papa, com
os Bispos, com os crentes de todas as épocas e de todos os lugares.
Quanto mais uma celebração é animada por esta consciência, mais
frutuosamente se realiza nela o sentido autêntico da liturgia.
Caros
amigos, a Igreja torna-se visível de vários modos: na ação caritativa,
nos projetos de missão, no apostolado pessoal que cada cristão deve
realizar no próprio ambiente. No entanto, o lugar no qual a
igreja é experimentada plenamente é na liturgia: essa é o ato no qual
acreditamos que Deus entra na nossa realidade e nós podemos encontrá-Lo,
podemos tocá-Lo. É o ato no qual entramos em contato com Deus: Ele vem a
nós, e nós somos iluminados por Ele. Por isso, quando nas
reflexões sobre liturgia nós centramos a nossa atenção somente sobre
como torná-la atraente, interessante, bonita, corremos o risco de
esquecer o essencial: a liturgia se celebra por Deus e não por nós
mesmos; é obra sua; é Ele o sujeito; e nós devemos nos abrir a Ele e nos
deixar guiar por Ele e pelo seu Corpo que é a Igreja.
Peçamos
ao Senhor para aprendermos a cada dia a viver a sagrada liturgia,
especialmente a Celebração Eucarística, rezando no “nós” da Igreja, que
dirige o seu olhar não para si mesma, mas para Deus, e nos sentindo
parte da Igreja viva de todos os lugares e todos os tempos. Obrigado.
Na catequese passada comecei a falar de uma das fontes privilegiadas da oração cristã: a sagrada liturgia, que – como afirma o Catecismo da Igreja Católica – é “participação da oração de Cristo, dirigida ao Pai no Espírito Santo. Na liturgia toda oração cristã encontra a sua fonte e o seu fim” (n. 1073). Hoje gostaria que nos perguntássemos: na minha vida, reservo um espaço suficiente para a oração e, sobretudo, que lugar tem na minha relação com Deus a oração litúrgica, em especial a Santa Missa, como participação na oração comum do Corpo de Cristo que é a Igreja?
Na resposta a esta pergunta devemos recordar antes de tudo que a oração é a relação viva dos filhos de Deus com o seu Pai infinitamente bom, com seu Filho Jesus Cristo e com o Espírito Santo (cfr ibid., 2565). Assim, a vida de oração consiste no estar habitualmente na presença de Deus e ter consciência de viver a relação com Deus como se vivem as relações habituais da nossa vida, aquelas com os familiares mais queridos, com os verdadeiros amigos; e mais: aquela com o Senhor é a relação que dá luz a todos os nossos outros relacionamentos. Essa comunhão de vida com Deus, Uno e Trino, é possível porque por meio do Batismo somos inseridos em Cristo, começamos a ser uma só coisa com Ele. (cfr Rm 6,5).
Com efeito, somente em Cristo podemos dialogar com Deus Pai como filhos, caso contrário não é possível, mas em comunhão com o Filho podemos também dizermos nós como disse Ele: “Abba”. Em comunhão com Cristo podemos conhecer Deus como Pai verdadeiro (cfr Mt 11,27). Por isso a oração cristã consiste em olhar constantemente e de maneira sempre nova a Cristo, falar com Ele, estar em silêncio com Ele, escutá-Lo, agir e sofrer com Ele. O cristão redescobre a sua verdadeira identidade em Cristo, “primogênito de cada criatura”, no qual existem todas as coisas (cfr Col 1,15ss). No identificar-me com Ele, no ser uma só coisa com Ele, redescubro a minha identidade pessoal, aquela de verdadeiro filho que olha para Deus como a um Pai cheio de amor.
Mas não nos esqueçamos: descobrimos Cristo, O conhecemos como Pessoa vivente, na Igreja. Ela é o “seu Corpo”. Tal corporeidade pode ser compreendida a partir das palavras bíblicas sobre o homem e sobre a mulher: os dois serão uma só carne (cfr Gn 2,24; Ef 5,30ss.; 1 Cor 6,16s). O vínculo indissolúvel entre Cristo e a Igreja, através da força unificadora do amor, não anula o “tu” e o “eu”, mas eleva-os a sua unidade mais profunda. Encontrar a própria identidade em Cristo significa chegar a uma comunhão com Ele, que não me anula, mas me eleva à dignidade mais alta, aquela de filho de Deus em Cristo: “a história de amor entre Deus e o homem consiste precisamente no fato de que esta comunhão de vontade cresce em comunhão de pensamento e de sentimento e, assim, o nosso querer e a vontade de Deus coincidem cada vez mais” (Enc. Deus caritas est, 17). Rezar significa elevar-se a Deus, mediante uma necessária e gradual transformação do nosso ser.
Assim, participando da liturgia, façamos nossa a linguagem da mãe Igreja, aprendamos a falar nela e para ela. Naturalmente, como eu já disse, isto acontece de modo gradual, pouco a pouco. Preciso mergulhar progressivamente nas palavras da Igreja, com a minha oração, com a minha vida, com o meu sofrimento, com a minha alegria, com o meu pensamento. É um caminho que nos transforma.
Penso então que essas reflexões nos permitem responder à pergunta que nos fizemos no início: como aprendo a rezar, como cresço na minha oração? Olhando para o modelo que nos ensinou Jesus, o Pai Nosso, nós vemos que a primeira palavra é “Pai” e a segunda é “nosso”. A resposta, assim é clara: aprendo a rezar, alimento a minha oração, dirigindo-me a Deus como Pai e rezando com outros, rezando com a Igreja, aceitando o dom de suas palavras, que se tornam pouco a pouco familiares e ricas em significado. O diálogo que Deus estabelece com cada um de nós, e nós com Ele, na oração inclui sempre um “com”; não se pode rezar a Deus de modo individualista. Na oração litúrgica, sobretudo na Eucaristia, e – formado pela liturgia – em cada oração, não falamos somente como pessoas individuais, mas entramos no “nós” pela Igreja que reza. E devemos transformar o nosso “eu” entrando neste “nós”.
Gostaria de atentar para um outro aspecto importante. No Catecismo da Igreja Católica lemos: “na liturgia da Nova Aliança, cada ação litúrgica, especialmente a celebração da Eucaristia e dos sacramentos, é um encontro entre Cristo e a Igreja” (n. 1097); assim, é o “Cristo total”, toda a comunidade, o Corpo de Cristo unido à sua Cabeça que celebra. A liturgia então não é uma espécie de “auto-manifestação” de uma comunidade, mas é a saída do simplesmente "ser para si mesmo", ser fechado em si próprio para o acesso ao grande banquete, à entrada na grande comunidade viva, na qual o próprio Deus nos nutre. A liturgia implica universalidade e esse caráter universal deve entrar sempre de novo na consciência de todos. A liturgia cristã é o culto do templo universal que é Cristo Ressuscitado, cujos braços estão estendidos na cruz para atrair todos no abraço do amor eterno de Deus. É o culto do céu aberto. Não é nunca somente o evento de uma comunidade individual, com sua inserção no tempo e no espaço. É importante que cada cristão sinta-se e seja realmente inserido neste “nós” universal, que fornece o fundamento e o refúgio ao “eu”, no Corpo de Cristo que é a Igreja.
Nisto devemos ter presente e aceitar a lógica da encarnação de Deus: Ele se fez próximo, presente, entrando na história e na natureza humana, fazendo-se um de nós. E esta presença continua na Igreja, seu Corpo. A liturgia então não é a memória de eventos passados, mas é a presença viva do Mistério Pascal de Cristo que transcende e une os tempos e os espaços. Se na celebração não emerge a centralidade de Cristo, não temos a liturgia cristã, totalmente dependente do Senhor e sustentada pela sua presença criadora. Deus age por meio de Cristo e nós não podemos agir a não ser por meio dele e nele. A cada dia deve crescer em nós a convicção de que a liturgia não é um nosso, um meu “fazer”, mas é ação de Deus em nós e conosco.
Assim, não é o indivíduo – sacerdotes ou fiel – ou o grupo que celebra a liturgia, mas essa é primeiramente ação de Deus através da Igreja, que tem sua história, a sua rica tradição e a sua criatividade. Essa universalidade e abertura fundamental, que é própria de toda a liturgia, é uma das razões pelas quais essa não se pode ser idealizada ou modificada pela comunidade individual ou por especialistas, mas deve ser fiel às formas da Igreja universal.
Também na liturgia da menor comunidade está sempre presente a Igreja inteira. Por isso não existem “estrangeiros” na comunidade litúrgica. Em cada celebração litúrgica participa junto toda a Igreja, céu e terra, Deus e os homens. A liturgia cristã também se celebra em um lugar e em um espaço concreto e expressa o “sim” de uma determinada comunidade, por sua natureza católica, provém de todos e conduz a todos, em unidade com o Papa, com os Bispos, com os crentes de todas as épocas e de todos os lugares. Quanto mais uma celebração é animada por esta consciência, mais frutuosamente se realiza nela o sentido autêntico da liturgia.
Caros amigos, a Igreja torna-se visível de vários modos: na ação caritativa, nos projetos de missão, no apostolado pessoal que cada cristão deve realizar no próprio ambiente. No entanto, o lugar no qual a igreja é experimentada plenamente é na liturgia: essa é o ato no qual acreditamos que Deus entra na nossa realidade e nós podemos encontrá-Lo, podemos tocá-Lo. É o ato no qual entramos em contato com Deus: Ele vem a nós, e nós somos iluminados por Ele. Por isso, quando nas reflexões sobre liturgia nós centramos a nossa atenção somente sobre como torná-la atraente, interessante, bonita, corremos o risco de esquecer o essencial: a liturgia se celebra por Deus e não por nós mesmos; é obra sua; é Ele o sujeito; e nós devemos nos abrir a Ele e nos deixar guiar por Ele e pelo seu Corpo que é a Igreja.
Peçamos ao Senhor para aprendermos a cada dia a viver a sagrada liturgia, especialmente a Celebração Eucarística, rezando no “nós” da Igreja, que dirige o seu olhar não para si mesma, mas para Deus, e nos sentindo parte da Igreja viva de todos os lugares e todos os tempos. Obrigado.
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